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Entrevista aos Before The Rain


Um dos expoentes máximos do Doom Metal Nacional, os Before The Rain regressaram este ano aos lançamentos e com um novo vocalista. O grupo acabou de lançar o seu novíssimo álbum de originais - "Frail" - através da Italiana Avantegarde. Foi a porpósito deste lançamento que estivémos à conversa com o baixista do grupo Pedro Daniel, que nos contou acerca desta nova fase dos Before The Rain.

M.I. - Sei que fizeram várias 'audições' com vocalistas nacionais para ocuparem o lugar deixado vago pelo Carlos D'Água, e sei também que o Gary foi a escolha óbvia. Porque razão?

Não gosto muito de usar a expressão “audição” porque me soa sempre um pouco arrogante. Mas a razão para a escolha do Gary foi muito simples: Consenso.
Os dois primeiros drafts que o Gary nos enviou, usando dois temas diferentes, geraram um consenso instantâneo e incontornável entre os elementos da banda, algo que não aconteceu nas outras situações.


M.I. - Sinto que os Before The Rain já encontraram a sua identidade própria no que toca à música. Pensas do mesmo modo ou pensas que isso não existe e tentam apenas fazer o que gostam, sem imporem limites musicais?

De certo modo concordo inteiramente contigo. Enquanto que “One Day Less” serviu para fechar o primeiro ciclo de existência dos Before The Rain, o “Frail” foi um álbum escrito sem quaisquer ligações à primeira infância da banda. Está lá aquilo que nos define nesta altura da nossa vida, e acreditamos plenamente no que foi feito. Não acredito de todo em impôr limites. Como alguém escreveu uma vez, “we go where the music takes us”.


M.I. - A voz do Carlos encaixava-se na perfeição com a vossa música, mas a do Gary parece que foi 'feita' para ela. Sentes o mesmo?

Sinto que foi uma daquelas situações em que tudo se encaixou em pleno. Como disse anteriormente, quando recebemos os primeiros drafts do Gary para os temas “Breaking The Waves” e “A Glimpse Towards The Sun”, tudo fez um enorme sentido.
Adquirimos o hábito de não estarmos dependentes da voz para compôr. Os temas crescem e amadurecem ainda antes de pensarmos como a voz irá encaixar, e penso que o excelente trabalho do Gary foi exactamente pegar em 75 minutos de música e ter a incrível sensibilidade de fazer tudo resultar.


M.I. - Falando na parte lírica.. Não é a primeira vez que escreves as letras para temas. Como te surge e de onde, a inspiração para tal?

As letras para o “Frail” foram escritas à medida que os temas foram compostos. Prefiro trabalhar em cima de uma base concreta, em que me posso focar de imediato na métrica e na forma como o texto encaixa na música. À medida que os temas evoluem, a letra acompanha essa evolução. Cresce, muda, transfigura-se. O próprio ADN de cada tema tem uma influência enorme no que escrevo, seja algo mais contemplativo e introspectivo ou agressivo e intenso. É a música que me leva a escrever. Sinceramente, não te consigo dizer qual a fonte de inspiração. Uso muito a metáfora para transmitir ideias ou conceitos, mas não te consigo dizer de onde vem ao certo. Experiências pessoais, emoções latentes, conceitos abstractos... de alguma forma tudo isso arranja forma de vir ao de cima quando escrevo.


M.I. - Já têm o "Frail" pronto há um bom período de tempo. Material novo já começou a surgir?

Temos material para pelo menos 45 minutos de música. Houve muita coisa que ficou de fora do “Frail”, porque não tinhamos espaço para tudo.


M.I. - Como tem sido a crítica da imprensa a "Frail"? Já tiveste contacto também com algumas reacções do público?

Ainda não recebemos um grande volume de feedback, à excepção de algumas publicações online. Talvez daqui por algum tempo seja mais fácil fazermos esse balanço. Para já, o que temos é bastante encorajador.


M.I. - Estão plenamente satisfeitos com o contrato assinado com a italiana Avantgarde Music?

A nossa preocupação essencial era termos um acordo que respeitasse ao máximo a nossa visão, que nos desse liberdade de movimentos e acima de tudo, que garantisse uma distribuição e promoção satisfatórias. A utopia de estar numa editora “grande” começa rapidamente a perder o brilho quando as pessoas se apercebem que são um pequeno peixe num grande oceano, e que existe sempre alguém maior, mais importante e com mais prioridade. Penso que a Avantgarde Music é neste momento a editora ideal para o patamar em que nos encontramos, e até agora tudo tem corrido dentro da normalidade. É uma editora com uma história marcante neste meio, responsável por alguns lançamentos verdadeiramente históricos. Após alguns anos de hiato, voltou com um catálogo renovado, e estamos muito orgulhosos de fazermos parte desse momento.



M.I. - Sei que será difícil em termos de concertos em solo nacional, devido ao novo membro ser Norte-Americano. Já existiram contactos/planos para que tal aconteça?

Penso que esse cenário só nos obriga a uma maior auto-disciplina. Obriga a um maior planeamento e a não nos atirarmos para as coisas de cabeça. Estamos neste momento a preparar a promoção do “Frail” ao vivo, que deverá começar mais para o final deste ano.


M.I. - Após tanto tempo ausente dos palcos, o que significou para o grupo actuar na abertura de Katatonia em Lisboa e Porto? O que sentiram aquando o convite e em cima do palco?

Foi obviamente uma oportunidade excelente para levar o som da banda a um público menos homogéneo e mais abrangente, em duas salas excelentes e com uma logística de palco muito acima da média e que nos permitiu dar dois espectáculos sólidos e coesos. Há uma tendência natural para uma banda de abertura se sentir “pequena” e fora do seu elemento, mas a forma como fomos recebidos em Lisboa e no Porto, e a resposta excelente do público, até fora do palco, foi muito recompensadora. Foram dois concertos muito intensos, em que à excepção da “Frameless” que vem do álbum “One Day Less”, apenas tocámos temas novos e que resultaram muito fortes ao vivo. Foram também as duas primeiras datas que fizemos com o Gary, não só como vocalista mas também como terceira guitarra (algo que queriamos fazer há já algum tempo), e penso que o balanço foi realmente muito positivo.



Entrevista por Diana Fernandes