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Entrevista aos Opeth


Foi no início do concerto de Anathema que senti o meu telemóvel a vibrar e para minha surpresa tinha breves minutos para me preparar para uma entrevista de última hora a Opeth. O banco de suplentes do campo de futebol sintético, mesmo por detrás do backstage do Vagos Open Air, foi onde encontrei Mikael Åkerfeldt ainda a ser entrevistado por colegas de imprensa. As linhas que se seguem mostram a entrevista, em jeito de conversa, com o mentor dos Opeth que vai desde a estadia em Portugal até concerto dos 20 anos em Londres e desde o novo álbum “Heritage” até a uma perspectiva mais pessoal.

M.I. - Em primeiro lugar, como tem sido a vossa estadia em Portugal? Não está um verdadeiro mês de Agosto, mas…

Tem sido porreiro. Chegámos ontem, passámos o dia em Aveiro e é uma cidadezinha adorável. Comemos orelha de porco, hoje fomos à praia e nadámos um pouco. Tudo muito bonito e passámos um bom bocado. Sempre passámos bons momentos em Portugal, mas nunca fora do Porto ou Lisboa.


M.I. - Não é a vossa estreia em Portugal, mas este é um festival em que vão estar pela primeira vez. Tens alguma expectativa? Bem, conheces bem os Portugueses…

Como disse, nunca tivemos uma má experiência por cá e os espectáculos têm sido sempre muito bons para nós.


M.I. - Da última vez com Dream Theater.

Sim, foi muito bom. A memória mais vívida que tenho é de um concerto que demos em Lisboa - penso eu - e tinha entrado mais gente do que devia.


M.I. - Talvez estejas a falar de um concerto no Porto, no Hard Club. Foi o último concerto de Metal que aconteceu lá.

Não, não foi lá! Também me lembro desse, até porque agora é um restaurante, não é? Era um sítio muito bonito, mesmo ao lado do canal.


M.I. - Estive em Inglaterra, no ano passado, para assistir ao vosso 20º aniversário. Viajei de Portugal até lá para ver o concerto.

Espero que tenha valido a pena!


M.I. - Muitas pessoas já perguntaram isto, mas é algo pessoal. O que sentiste? Sei que disseste que aquela era a primeira vez que os blast beats eram ouvidos no Royal Albert Hall.

E foi mesmo! Foi engraçado! É um sítio lendário e lembro-me que o nosso agente tinha dito, há uns anos atrás que um dia nos iria meter no Albert Hall, eu fiquei tipo «sim, claro, certo…» e não acreditei nele…


M.I. - Até tinhas dito que irias festejar o vosso aniversário num pub.

Era para ser assim e também teria piada, mas tocar no Albert Hall foi mágico. Não me lembro muito do concerto, mas só de estar lá e olhar para a beleza daquilo…


M.I. - E esgotado.

Esgotado! Eram os 20 anos da banda e estávamos ali a dar um concerto – não o maior que já demos, mas o mais prestigioso.


M.I. - E os concertos que deram nos EUA também para festejar o vosso aniversário? São uma banda Europeia e há bandas de cá que dizem que o público americano é muito diferente do europeu.

Dizem? Nem reparei. São mais barulhentos, mas no geral os públicos são semelhantes, não existe uma diferença massiva. Penso que o público mais turbulento está na América do Sul, no Chile. É bom em todo o lado. Não vou para o palco a pensar: «estamos outra vez aqui e a audiência não presta». É sempre bom.


M.I. - Vai sair um novo álbum em Setembro e a nova música, “The Devil’s Orchard”, anda por aí. Vão tocá-la esta noite?

Não!


M.I. - Já estava à espera disso.

Decidimos que não vamos tocar nenhum tema novo até ao lançamento. Esse tema já foi lançado, tecnicamente já o podíamos tocar, mas só temos mais alguns concertos para dar e queremos guardar essas músicas para a digressão. Acho que vai ser uma digressão especial.


M.I. - Disseste que seria uma tour especial… Já está tudo planeado?

Não está tudo, mas já temos a banda suporte, já temos um reportório de músicas para ensaiar e ver quais funcionam melhor e também já temos os locais agendados. Vai ser especial por várias razões: principalmente, porque o álbum soa muito bem e vamos tentar ligar o novo material com o passado para criar uma união que fique bem com os últimos dez ou quinze anos.


M.I. - Quando ouvi o tema que foi lançado, ouvi algo diferente… Não sei explicar muito bem, mas é diferente daquilo que os Opeth têm feito nos últimos anos.

Sim, penso que é diferente. Essa música é talvez a música mais directa do álbum.


M.I. - Então, as outras serão mais complicadas.

Há algum material complexo. Não há uma música que represente mais o álbum do que outras. Não sei bem por que lançámos a “The Devil’s Orchard” em primeiro, até podia ser outra. Mas é a mais directa, é a mais fácil para as pessoas perceberem, mas o resto do álbum é mais complexo.


M.I. - Opeth tem sido das bandas de Metal mais importantes do Mundo nos últimos anos.

Obrigado.


M.I. - Carregas algum peso nos ombros por causa disso? Eu até acho que a banda é bastante humilde.

Não sinto uma certa responsabilidade sobre o nosso passado. Há aquele cliché que diz: «só és bom até à última coisa que fizeste» ou o que seja, só porque fizemos um álbum que agradou a alguém. Penso que só temos agradado aos fãs, porque nos agradamos a nós próprios – tem sido o nosso lema. Basicamente, fazemos um álbum que gostamos e talvez alguém irá gostar também. Portanto, qualquer tipo de música que façamos agora é o que vai ser o novo álbum. É melhor do que mentir – se mentirmos ao fazer a música que pensamos que os fãs irão gostar, não vamos durar e vamos morrer. Fazemos o que queremos.


M.I. - Esperas que esta formação seja estável por bastante tempo?

Não, espero que nos separemos todos. [risos] Sim, claro, tem sido sempre a minha intenção desde que começámos. Sinto que quero pertencer a uma equipa.
E uma formação estável é sempre boa para a banda, para os fãs, para os próximos discos…
É bom, mas a mudança também é boa. Percebi que gostava muitos dos primeiros tipos com quem estive quando tinha dezanove anos, mas, obviamente, se não tivéssemos estas mudanças, não tínhamos o Martin Lopez, não tínhamos o Martin Mendez, não tínhamos o Fredrik, não tínhamos o Per… Muitas destas mudanças empurraram-nos para a frente. Como eu disse, sou um tipo familiar, quero ser amigo deles e não ter só uma relação profissional, mas não posso decidir pelos outros, eles fazem o que querem. Os membros que saíram ou foram despedidos da banda não estão aqui por alguma razão e sempre dei hipóteses a toda a gente. Em última análise, foi escolha deles. Eu nunca meti alguém fora só porque não gostava dessa pessoa e, colectivamente, sempre demos, à pessoa que saía, a hipótese de voltar e mostrar do que é capaz, mas no fim foi escolha deles. Obviamente, espero que estejamos juntos.


M.I. - Os conteúdos das letras de Opeth são tristes, sombrias, raivosas… Mas não és assim, até dizes piadas no intervalo das músicas e as pessoas gostam!

É um estilo. Quando se tem o Death Metal como passado é inevitável expores-te a esse tipo de letras. No Death Metal não há letras que digam «vamos dançar a noite toda». São as minhas raízes e sempre gostei de letras mais profundas e também gosto de poesia. É apenas o meu estilo. Se procurares por pessoas depressivas com instinto suicida, deves procurar por aqueles que estão sempre a rir e estão sempre alegres – essas são as pessoas que quando chegam a casa se deitam a chorar. Tento estar sempre em contacto com os meus sentimentos.

Entrevista por Diogo Ferreira