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Lou Reed/Metallica - "Lulu" Review

Finalmente, chega ao mercado o álbum mais polémico (no que ao mundo do metal diz respeito) dos últimos anos. E vamos já esclarecer uma coisa: este não é o novo disco dos Metallica. É, pura e simplesmente, uma colaboração entre a banda e o antigo líder dos The Velvet Underground, Lou Reed. Neste registo, a parte instrumental é uma parceria entre a banda e Reed, sendo que no departamento das letras é da total responsabilidade de Reed. O papel dos Metallica neste disco foi a contribuição em ideias e arranjos em alguns temas e algumas vocalizações de James Hetfield. De resto, toda a responsabilidade na criação deste “Lulu” é de Lou Reed. Ponto assente.

Mas basta dar uma volta pela internet e ver os comentários, notas de críticas e principalmente o ataque feroz a este disco. Muitos não o entenderam como não sendo o novo trabalho de estúdio dos Metallica, consideram-no até que esta não é uma colaboração mas quase um novo disco, e o ataque à banda é visto em todos os lados. Expressões como “vergonhoso”, “horrível”, “inaudível” são fáceis de encontrar um pouco por todo o lado. Nós aqui na Metal Imperium quisemos também dar o nosso contributo e criticar este disco que, apesar de ser um disco que não se insere na nossa esfera de audição, é demasiado importante e relevante para ser ignorado.

A ideia deste disco de colaboração nasceu durante o concerto do 25.º aniversário da banda no “Rock and Roll Hall of Fame” em 2009. Lou Reed juntou-se no palco com a banda e tocaram algumas músicas juntos. Logo na altura, era evidente uma química entre os Metallica e Reed e foi um pequeno passo que levou à realização deste projecto de colaboração. A ideia era gravar alguns temas de Lou Reed que ficaram esquecidos durante os anos, com arranjos e alguns contributos por parte da banda. O resultado é este “Lulu”, um disco diferente, estranho e extremamente polémico, mas também longe das expressões “vergonhoso”, “horrível”, “inaudível”.

Baseado em parte na obra do dramaturgo alemão Frank Wedekind, a personagem Lulu aparece na obra “Erdgeist” (“Earth Spirit”), a primeira parte da peça (a segunda é “Pandora´s Box”). Lulu é vista nessa peça como um belo e verdadeiro animal, a primeira forma de mulher. As letras do disco são em grande parte inspiradas pela obra de Wedekind, traduzindo-se num estranho e complexo conjunto de temas, onde temáticas como a morte, sexualidade, amor e desprezo são as tónicas principais.

O primeiro tema a ser conhecido deste “Lulu” foi “The View”. Um tema a meio tempo, pesado e arrastado. Mas o que se destacava mais nesse tema é a voz de Reed. Podemos ficar surpreendidos (para aqueles que conhecem a obra de Reed, nem tanto), totalmente fora de tom, estranha, desconexa. Como se tentasse unir dois universos totalmente diferentes, onde de um lado temos a música dos Metallica pesada, e do outro a voz de Reed. Confesso que das primeiras vezes que escutei este tema, fiquei um pouco desapontado com o mesmo. Já sabia o que podia contar, mas mesmo assim ficou um pouco aquém do esperado. Estranha-se a voz de Reed, mas a parte instrumental é algo que os Metallica já nos tinham apresentado na sua fase “Load / Reload”. Mas, a função de alguém que faz criticas a discos é avaliar um disco como um todo e não apoiar a sua critica apenas num tema e muito menos ouvindo uma ou duas vezes o mesmo.

Agora, com o disco na totalidade em mãos e depois de muitas audições, o que posso dizer de “Lulu”? É horrível? É medonho? É mau? Não. Se há algo de medonho neste disco, é a capa. Um manequim velho, sem braços, e com o título do disco escrito a sangue... impacto tem de certeza e não é uma capa bonita. Mas o principal deste disco é a sua música. Temas longos e muito longos (dois deles com mais de onze minutos e mesmo um com quase vinte minutos de duração) misturam-se com temas com uma duração mais aceitável.

Dada a importância deste disco, achamos necessária uma pequena descrição dos temas, de forma a se tentar compreender um pouco melhor o seu conteúdo.

Brandenburg Gate
A entrada do disco mostra bons riffs e bom sentido de escrita. É um tema a meio gás, simples, onde a voz de Reed é o principal destaque, num misto de falada e spoken word. Um tema bastante razoável como entrada.

The View
Após várias audições, concluo que é um bom tema de rock pesado. Consistente e magnético, um dos temas mais interessantes do disco, com Hetfield em segundo plano mas a vociferar ferozmente.

Pumping Blood
É um dos pontos altos deste disco. Com um início ao som de violinos, descarrega num tema poderoso, onde novamente a voz de Reed é o fio condutor principal, sendo que a parte instrumental está bem realizada, com dinâmica e força. Nota-se aqui algum destaque no trabalho de bateria de Ulrich.

Mistress Dead
Se há tema que se assemelha ao som natural dos Metallica, este é um deles. Uma cavalgada quase thrash metal, sem grandes variações rítmicas ou virtuosismos. É apenas rapidez e dinamismo.

Iced Honey
Um tema “easy-listening”, num rock leve e acessível. Simples e sem grande memória.


Cheat on Me
Um tema com mais de onze minutos, onde grande parte deles são apenas algumas palavras cantadas / faladas por Reed, num tema que explode mais no final, tornando-se mais dinâmico e interessante, com um Hetfield em bom plano no refrão.

Frustation
Tema a lembrar muito a fase “Load / Reload”. Liricamente estranho, mas musicalmente interessante. Novamente, um tema a meio gás.

Little Dog
Semelhante a “Cheat on Me”, mas mais curto. Um tema acústico e calmo. Nada de relevante.

Dragon
A par de “The View” e “Pumping Blood”, um dos temas mais interessantes do disco. Calmo até ao terceiro minutos, explodindo depois com guitarras pesadas e arrastadas. Muito interessante.

Junior Dad
Este tema, a fechar o disco, é um longo tema emocional com quase vinte minutos de duração. Intenso e tocante.

“Lulu” é longo, muito longo. Algumas musicas talvez longas demais.
A prestação dos músicos (entenda-se Metallica) é o normal a que nos habituaram nas fases “Black Album / Load / Reload”, ou seja, coesa e pesada.

Podíamos dizer que este foi um projecto falhado. Talvez não seja o melhor projecto entre duas entidades tão distintas. Certamente, muitos nunca o irão compreender. É certo que as composições e a voz de Lou Reed são um pouco difíceis de assimilar e compreender, mas a avaliação global do disco fica um pouco acima da linha de água.

“Lulu” é um disco que, não sendo dos Metallica, irá deixar marcas profundas na carreira desta banda lendária, dada a diferença existente entre o que a banda faz / já fez e este trabalho de colaboração. Mas serão assim tão graves? Para aqueles que sempre seguiram a carreira da banda e sabem do que são capazes, não. O que os reais fãs se devem “preocupar” é com o sucessor de “Death Magnetic”, não com este tipo de trabalhos de colaboração.

É isso que conta realmente para a história dos Metallica.

Nota: 6/10
"Lulu" track list:

1.Brandenburg Gate
2.The View
3.Pumping Blood
4.Mistress Dread
5.Iced Honey
6.Cheat On Me
7.Frustration
8.Little Dog
9.Dragon
10.Junior Dad


Review por Joao Nascimento