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Kells – "Anachromie" Review

Parecendo que não, o número de bandas com voz feminina mais virada para o hardcore (e suas variações) tem vindo num crescendo assinalável nos últimos anos. In this Moment, Otep, Walls of Jericho, Bloodlined Callygraphy, e iwrestledabearonce entre tantos outros, são alguns dos nomes que nos últimos tempos têm granjeado algum reconhecimento especialmente do outro lado do Altântico. De certa forma acaba por ser a resposta americana ao female fronted metal scene tão europeu.

Fruto disso, os franceses Kells têm vindo numa ascensão meteórica, que já lhes valeu uma exaustiva digressão no ano passado, com passagem pelo nosso país, e por consequência o assinar com a Seasons of Mist graças a qual lançaram este novo Anachromie. Numa de quererem dar uma no cravo e outra na ferradura, pegam naquilo que de melhor as duas cenas têm, e fundem-nas de tal maneira que a coisa até apresenta um resultado bastante satisfatório, juntando a isso os temas serem cantados em francês, à semelhança dos seus conterrâneos Eths, e temos em Anachromie um disco bastante eclético.

Á força das guitarras, ritmos frenéticos, e claro os já famigerados breakdowns, juntam-se uns quantos elementos sinfónicos, mas sempre usados com moderação, dando um toque subtil às composições. O caso mais flagrante é o uso do violino em Emmurés e Quelque Part, este ultimo um dos melhores temas do disco. Uma mistura explosiva de peso com melodia.

Mas mais destaques poderão ser encontrados em Anachromie. Se Taire e L'heure Que Le Temps Va Figer apresentam refrãos excelentes que nos transportam aos melhores momentos de Lacuna Coil, e L’Autre Rive contem uma atmosfera mais sinistra, muito divido ao já referido violino. Mas se a parte instrumental / composição já cativa, o que dizer de Virginie Gonçalves, a menina que dá voz ao colectivo? Santos pulmões que tanto lhe permitem berrar desenfreadamente, como projectar a sua voz mais cantada, sem esquecer a delicadeza que o início de uma música como Cristal exige.

Embora os Kells consigam ter este ecletismo, não quer com isso dizer que estamos perante algo incrivelmente inovador, ainda para mais quando a maioria das músicas a certa altura começam a soar demasiado parecidas umas com as outras, o que impede que Anachromie seja um disco primordial, ou uma obra-prima. Por enquanto cumpre os objectivos, e mostra um conjunto de temas bem executados susceptíveis de um premir no botão replay.

Nota: 8/10

Review por António Salazar Antunes