About Me

Entrevista aos Cannibal Corpse

Dispor de trinta minutos para conversar com Paul Mazurkiewicz, baterista dos norte Americanos Cannibal Corpse, parecia tempo mais do que suficiente mas, infelizmente, o tempo passa a voar… mesmo assim, a Metal Imperium conseguiu abordar alguns temas pertinentes e colocar algumas questões que deixaram o baterista da banda mais conhecida de death metal sem resposta.

M.I. - Como estão a correr as entrevistas?

Estão a correr bem. Temos tido muitas entrevistas mas é bom saber que o pessoal continua interessado em saber mais sobre nós e a querer falar connosco. Acho que é bom e tudo corre bem.


M.I. - Como é que fazem a selecção dos membros que farão as entrevistas?

Tentamos envolver toda a gente.. já todos estamos na banda há muito tempo mas eu e o Alex estamos mesmo desde o início e há muita gente interessada em fazer perguntas sobre cenas mais antigas e, nesse caso, somos os mais indicados. Mas o Rob, o George e o Pat já estão na banda há muito tempo também e temos tentado com que eles respondam a mais entrevistas. Ás vezes tem a ver com a pessoa com quem o jornalista quer falar mas, por norma, tentamos envolver todos os membros.


M.I. Costumas ler as entrevistas nas revistas e afins?

Sim, algumas, não posso ler todas porque são demasiadas e nem vemos todas as que fazemos. Mas as publicações maiores, tais como a Decibel que é uma grande publicação norte americana, costumamos ver porque, por vezes, arranjamos cópias e damos uma olhada. Claro que tento ler o máximo possível para ter a certeza que não fui mal interpretado...


M.I. - Que pergunta detestas que te façam?

(Risos) Eu não diria detesto mas há uma que já é um pouco velha e já está saturada porque, sinceramente, já não há mais nada a dizer sobre o assunto... é a pergunta relacionada com o filme Ace Ventura. Já foi há tanto tempo e foi bem documentado, portanto, irrita um pouco ser questionado sobre isso nos dias que correm. Talvez seja esta a mais irritante, mas não posso dizer que haja más questões, todos gostam de obter respostas às questões que nos colocam mas, para nós como membros da banda, é mesmo a que nos chateia mais.


M.I. - Vou-me certificar que não te pergunto sobre isso! (Risos)

(Risos) Obrigado!

M.I. - Como tem sido a resposta a “Torture” até ao momento?

Tem sido boa, as vendas têm sido estrondosas em todo o mundo e o feedback dos fãs é muito positivo. Até agora está tudo a correr bem. Estamos super entusiasmados por andar em tournée para poder ver a reacção ao vivo. Pelo que temos ouvido, pelo número de vendas, pelas críticas e pelas reacções, parece que todo o pessoal está a gostar imenso do álbum e isso é óptimo.


M.I. - O que nos podes dizer sobre o novo álbum? Segue as mesmas linhas dos álbuns anteriores?

Penso que sim. De certa forma, leva-nos a outro nível mas ainda mantém o som de Cannibal Corpse e lembra-me os últimos dois álbuns... é uma mistura de “Evisceration Plague” com “Kill” e é um bom indicador do que temos feito nos últimos álbuns. É definitivamente um álbum de Cannibal Corpse e talvez seja o nosso melhor. Temos boas canções de death metal e estamos muito felizes por isso. Felizmente, os fãs estão entusiasmados e estão a apreciar bastante o álbum, o que é fantástico!


M.I. - O que vos inspira para escrever letras tão gore? Porque sentem a necessidade de as escrever? É uma maneira de lidar com a vossa raiva e frustração?

Nós não somos pessoas revoltadas e não o fazemos para libertar frustração ou para exorcizar infâncias perturbadas... tudo anda interligado, quando começamos a crescer, o metal começou a fazer parte da nossa vida... respiramos e vivemos toda esta cena de metal e cada vez desejamos algo mais extremo... as nossas bandas preferidas sempre abordaram temas muito obscuros que encaixavam muito bem na música que também era muito obscura. Quando finalmente criámos a nossa banda, escrevemos um álbum e fizemos o que queríamos, decidimos que tínhamos de escrever letras obscuras e tínhamos de fazer algo que apreciássemos como banda. E claro, se pensarmos bem o que é que o nome Cannibal Corpse poderia sugerir? Adoramos tanto o nome e vimos que tínhamos de estar orientados para o gore/horror... lidamos bem com esse lado da vida e sentimo-nos atraídos por isso, por filmes de terror, livros e tudo isso. Cannibal Corpse começou assim e assim vai continuar... uma banda brutal, gore, horror.


M.I. - A banda gravou nos Sonic Ranch Studios no Texas com o Erik Rutan outra vez. Alguma vez consideraram a hipótese de mudar de produtor?

Não para este, queríamos o Erik outra vez... e ainda bem que o fizemos porque ele fez um excelente trabalho e achamos que é o melhor dos três que ele fez connosco. Adoramos o estúdio, já não íamos lá há muitos anos e queríamos voltar lá e gozar a atmosfera. Essa foi talvez a maior mudança neste álbum! Mas nunca pensamos usar outro produtor e queríamos um produto melhor do que o útimo mas o Erik fez um excelente trabalho.


M.I. - A arte dos álbuns, que a maior parte das vezes feita por Vincent Locke, as letras e os títulos são muito controversos. Toda esta controvérsia é propositada?

Não é intencional. Isto vai de encontro ao que já referi, anda de mãos dadas com o que nós queríamos fazer como fãs deste género de música. Quando crescíamos e ouvíamos as bandas que veneramos, tais como Slayer, Kreator, Metallica, eles tinham uma imagem associada e eram brutais e adorávamos isso. Quando começamos a fazer o mesmo também queríamos fazer algo que fizesse com que os fãs quisessem comprar o nosso material. Queríamos que o pessoal olhasse para os nossos álbuns e para o nome e os títulos e tivesse vontade de comprar o álbum e ficasse entusiasmado com isso... dantes era assim que as coisas aconteciam, o nome das bandas propagava-se de boca em boca ou por termos oportunidade de comprar o álbum por causa da capa, dos tipos parecerem cool e dos títulos... e nós não eramos diferentes e queríamos ser assim, mas não o fizemos para ser controversos ou para causar controvérsia. Foi tudo feito pelo amor que temos por esta música.


M.I. - Por causa disso, os Cannibal Corpse foram banidos de tocar em certos locais e países. Como é que isso te fez sentir?

É frustrante porque é só música, é uma forma de arte. Nós escrevemos histórias de ficção, de terror e são só histórias... se não gostas, não tens de ouvir mas não achamos que estamos a fazer algo errado para a sociedade, só estamos a tocar música. É triste que tenha acontecido porque as bandas é que perdem... é triste que aconteça mas esperamos aprender com tudo isso e, felizmente, as coisas mudaram e não estão tão más como já foram. Esta censura já acontece há anos e é mais frustrante que mais nada, mas não nos pára e torna-nos mais fortes.


M.I. - Bob Dole acusou-vos de estar a destruir a mente dos jovens americanos. Afinal, nos Estados Unidos, a liberdade de expressão é uma realidade ou ficção?

Queremos que seja verdade mas por vezes parece fantasia. Nós fazemos o que fazemos e que gostamos, por isso, é real e não temos tido assim tantos problemas mas o incidente do Bob Dole fez com que o pessoal falasse de nós, mesmo os que não sabiam quem nós éramos, mas não impediu que fizéssemos concertos ou deixássemos de vender álbuns... apesar de tudo, ainda estamos aqui a falar o que nos vai na alma e na mente portanto acho que para nós a liberdade de expressão é real.


M.I. - Agora têm outro candidato à presidência, Rick Santorum, que declarou guerra ao metal. Qual a tua opinião sobre a política em geral?

Não tenho opinião, não percebo nada de política e não ligo a essas coisas. Não tenho comentários. Não sigo muito a política nem a religião... são assuntos de nunca falo.


M.I. - Para concluir esta conversa política, nomeia um personagem, político ou não, que poderia ser um óptimo presidente para o teu país?

Hmmmm, não sei, é uma boa questão. Não sei responder.


M.I. - Tu?

(Risos) Não! Sou um baterista de death metal e não seria um bom presidente, de certeza absoluta. É por isso que não tenho resposta para perguntas deste género, porque estou completamente a leste. Se falasses disto com o Alex, que segue política e percebe disto, ele daria respostas muito melhores e definitivas. Mas eu não sou assim, por isso, é que eu adoro música e death metal, porque são um escape a tudo isso. Desprezo certa música e músicos que te tentam dizer o que pensar e que fazer, tentam ser políticos e religiosos e impingir-te a sua visão do mundo... mas quem raio são eles? Eles devem entreter, fazer com que te abstraias do mundo, da realidade e não tentar dizer-te o que pensar e eu nunca faria isso como músico. Isto não deveria acontecer na música.


M.I. - Como vocês são uma banda muito controversa... alguma vez foram ameaçados de morte?

Não, acho que não! Pelo menos não me lembro. Já houve algumas situações com pessoas assustadoras mas acho que ninguém foi tão extremo ao ponto de ameaçar a nossa vida, felizmente.


M.I. - Quando formaste a banda, imaginaste que lançarias tantos álbuns e que andarias por cá tantos anos na mesma banda?

Claro que não! Quando começámos só pensávamos no futuro imediato, nos concertos, em tocar o que gostávamos e tudo o que viesse daí seria um bónus. Sempre sonhamos ter uma editora, lançar um álbum e andar em tournée mas nunca pensamos que acontecesse. Tudo o que aconteceu, deixou-nos boquiabertos e foi uma alegria porque nunca imaginamos que aconteceria e queremos continuar a fazer isto enquanto pudermos.


M.I. - Vocês são a banda de death metal que mais vende nos EUA. Como te sentiste quando apareceram as primeiras bandas a copiar-vos?

É lisonjeador porque se há pessoal que é influenciado por nós, sentimos que conseguimos alcançar algo. Queremos que as bandas sejam únicas e criativas mas é lisonjeador acreditar que o pessoal nos quer copiar por achar que somos bons no que fazemos. Sentimo-nos bem por saber que deixamos uma marca.


M.I. - Nunca desejaste fazer algo completamente diferente do que os Cannibal Corpse fazem?

Sempre adorei o que faço e sempre quis fazer isto. Há dez anos atrás tive um side project com o Jack Owen e fizemos alguns concertos em Tampa, Florida e gravamos uns temas mas era completamente diferente de Cannibal Corpse, mais rock n’ roll e divertimo-nos muito mas depois acabou. Os temas eram porreiros e teria sido fixe conseguir gravar um álbum completo com material desse. O Alex e o George já fizeram outras coisas. Mas para mim seria porreiro e divertido mas veremos o que acontece.


M.I. - Tens sangue europeu...

Sou de descendência polaca.


M.I. - Isso influenciou a tua educação ou a tua perspectiva do mundo?

Talvez não, acho que não. Tive uma infância estável e feliz com pais presentes e conscientes, que me tentarão ensinar da melhor maneira e acho que isso é que é a chave para se ser uma pessoa alegre, completa e solidária... talvez tenha contribuído, não sei... é uma boa questão... uma para a qual não tenho resposta!


M.I. - Vocês já entraram todos na casa dos 40. Têm família, mulher, filhos?

Eu tenho 43 anos. O Alex está casado há dez anos mas não tem filhos. O George está casado há muito tempo e tem duas filhas. Eu estou casado há quase sete anos e tenho uma filha. Pat e Rob não são casados, não têm filhos mas têm namoradas. Só eu e o George é que temos filhos.


M.I. - A família afectou o modo de trabalhar da banda?

Nem por isso. As famílias vieram depois da banda e todos já sabiam no que se estavam a meter. Já sabíamos o que iria acontecer se nos casássemos ou se tivéssemos filhos e tivemos de nos ajustar. Fizemos tudo o que é possível para que tudo funcione bem. A banda é o nosso emprego e que nos permite sobreviver e é muito importante. As nossas famílias sabem-no e todos têm que aceitar esta realidade.


M.I. - Não é estranho seres vegetariano e tocar numa banda chamada Cannibal Corpse?

(Risos) Ouço isso muitas vezes. É estranho para muitas pessoas! Como é que posso ser vegetariano e tocar/cantar sobre carne crua e tal? Mas sou mesmo assim!


M.I. - Quando adoptaste este estilo de vida? Porquê?

Há cerca de dez anos. Houve uma altura da minha vida em que tudo se alinhou de modo a que eu me tornasse vegetariano. Começava a ser crítico das minhas atitudes de matar animais e comê-los... entretanto, fiquei muito doente e tive de deixar de comer carne e foi assim que comecei. Também conheci a minha mulher que também era vegetariana e descobri mais sobre o vegetarianismo. Até aí não sabia muito sobre isso porque não tinha amigos vegetarianos. Mas gosto de acreditar que todos os planetas se alinharam e permitiram a minha transição. Foi tudo muito suave, nunca pensei ser vegetariano mas quando tomei a decisão nunca olhei para trás e foi muito fácil. Pensei que seria difícil mas foi fácil e fazia sentido.


M.I. - Vocês andam em tournée para promover “Torture”...

Sim, e acho que vamos a Portugal, Não sei a data e não sei se vamos ser os headliners ou se vamos abrir para Amon Amarth. Já não vamos aí há muito tempo e estamos muito entusiasmados, porque os concertos aí costumam ser bons e o país é fantástico!


M.I. - Obrigado pela entrevista, Paul! Foi um prazer conversar contigo!

Obrigado pela entrevista e pelo apoio. Espero que apreciem o álbum e espero ver-vos em breve.
Entrevista por Sónia Fonseca