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Entrevista aos Borknagar

Os Borknagar são uma daquelas bandas que dispensam apresentação. Após dezassete anos de actividade e álbuns bem sucedidos, estes noruegueses voltam a atacar com um álbum fabuloso “Urd”. Øystein G. Brun, mentor e membro fundador de Borknagar, esteve à conversa com a Metal Imperium sobre Urd, a idade adulta, o novo vídeo e até Anders Breivik.


M.I. – “Urd” foi lançado recentemente e todas as críticas têm sido boas. Está tudo a correr de acordo com as vossas expectativas? Qual é a sensação de saber que as pessoas apreciam o vosso trabalho?

As reacções positivas são sempre boas. Trabalhamos muito para este álbum e saber que o pessoal aprecia o que criamos é muito bom, sem dúvida. Por outro lado, uma má critica não me estraga a disposição! Admito que tínhamos grandes expectativas para este álbum e esperávamos boas críticas mas a resposta foi mais do que surpreendente.


M.I. – Qual é o significado de Urd? Qual é o principal conceito do álbum?


Desta vez queríamos um título norueguês que destacasse as nossas raízes musicais e origens. Urd é um nome da Mitologia Norueguesa, referente a uma das três deusas que se encontram sob Yggdrasill tecendo a linha da vida da humanidade. Urd representa o passado. Há muitas interpretações para este título mas, acima de tudo, ele simboliza as raízes antigas da nossa expressão artística.


M.I. – O filósofo noruegês Arne Naess foi uma inspiração. Ele enfatizava o direito igual à vida de todos os seres. Como é que ele te inspirou? Concordas com as suas ideias excêntricas e ecológicas?


Sempre o considerei uma pessoa interessante. Adoro o modo como ele se relaciona e lida com a natureza… a sua mensagem é bastante profunda. Não li todos os seus trabalhos e tenho a certeza que discordamos em certos aspectos mas, a sua visão geral e o modo como ele defende a natureza, é muito parecida com a minha.


M.I. – Jens Bogren (Katatonia, Paradise Lost, Opeth) foi o responsável pela mistura de Urd nos Fascination Street Studios em Örebro na Suécia. Porque é que o escolheste?


Precisávamos de evoluir em termos de estúdio e produção, tentar subir outra montanha, por assim dizer. A Century Media arranjou um bom contrato com o Jens Bogren e Fascination Street Studio e nós agarrámo-lo e acabou por ser uma das melhores decisões que já tomámos. Não posso parar de elogiar o trabalho brilhante do Jens Bogren; ele é um génio!


M.I. – Sabendo que tens um estúdio caseiro, porque é que sentiste necessidade de usar outro estúdio? Simplificou-te a vida como membro da banda?

Bem, uma coisa é o equipamento e tal. Em teoria, provavelmente, teríamos feito um bom trabalho se tivéssemos misturado nós o álbum. Mas para a mistura, muito sinceramente, não temos a competência para fazer um álbum de topo. Hoje em dia, há equipamento decente disponível no mercado para toda a gente mas não significa que qualquer um seja capaz de fazer uma mistura bem feita. Para misturar é necessário ter conhecimentos e muita experiência. Misturar é, sem dúvida, uma forma de arte.


M.I. – David Kinkade (Soulfly, ex-Malevolent Creation) foi o responsável pela bateria e percurssão em Urd mas agora Baard Kolstad é o vosso novo baterista. Como te sentes em relação à banda e aos novos membros? Achas que as constantes mudanças no seio da banda afectam o vosso som ou integridade?


O novo alinhamento está óptimo e o Baard está a fazer um excelente trabalho! Bem, a base musical da banda tem-se mantido estável há bastantes anos e a nossa expressão musical está bem estabelecida, por isso, a saída de um membro e a entrada de outro não afecta a banda em termos de sonoridade. As mudanças podem ser positivas e trazer algo de novo à música. Claro que raramente tomo a iniciativa de despedir um elemento mas, no caso do David Kinkade, teve de ser porque a relação estava destinada a falhar.


M.I. – A capa ficou a cargo do mestre brasileiro Marcelo Vasco. Na tua opinião, quão importante é a capa? Queres algo que apele aos fãs e lhes dê uma ideia do que se pode encontrar no álbum ou pretendes que seja algo mais misterioso?

Na minha opinião, a capa do álbum é muito importante. A capa tem de reflectir o álbum, projectar algum tipo de vibração que resuma o álbum visualmente. Antes de mais, quero que a capa apele à percepção emocional dos nossos fãs. Do meu ponto de vista, a capa deve ser “misteriosa” no sentido de não ser óbvia… um pouco como a nossa música e as nossas letras. Marcelo Vasco é um mágico visual!


M.I. – Assinaste de novo com a Century Media… como tem sido a relação até ao momento?


Muito boa mesmo! A Century Media tem-nos apoiado bastante e tem trabalhado muito para promover o álbum. A cooperação tem sido excepcional e sem falhas. Diria que a Century Media é uma das melhores editoras de hoje.


M.I. – Pesquisei na internet e não encontrei nenhum vídeo oficial do álbum. Li que estais a preparar algo… para que tema e como está a correr? Acreditas realmente que os vídeos podem promover a banda ainda mais ou achas que ser activos e tocar ao vivo frequentemente é a melhor promoção?


Hoje em dia, a melhor promoção para um álbum é tocar em festivais e ao vivo. A seguir a isso vem, obviamente, o vídeo musical. Actualmente estamos a preparar um vídeo. Não posso adiantar pormenores mas é um projecto interessante e esperamos que seja uma cena muito fixe.


M.I. – A vossa página oficial do Facebook é muito visitada, actualizada e tem cerca de 15.000 “Gosto”. Este número interessa-vos? Considerarias que é uma maneira de levar o nome dos Borknagar ainda mais além?


Para ser sincero, não sou muito ligado neste lado técnico das redes sociais mas tentamos lidar com isso da melhor maneira possível. Neste momento parece que o perfil do Facebook é o meio mais dinâmico para mantermos contacto com os fãs e manter esse contacto é sempre fixe. Por isso tentamos actualizar regularmente o perfil e responder a questões ou pedidos que recebemos. Preocupamo-nos e é bom verificar que o número de visitas e “Gosto” aumenta diariamente.


M.I. – Muitas bandas parecem cansadas do som demasiado evoluído tecnologica e tecnicamente e tentam regressar às raízes. Costumas sentir-te “aprisionado” pela tecnologia que te rodeia em todo o lado?

Não, nós escolhemos o desenvolvimento tecnológico como algo positivo e para nós significa que temos muito equipamento facilmente disponível que, no final, fará com que seja mais fácil e eficiente fazermos música e canalizá-la para o nosso mundo. Ser old-school, musicalmente falando, nunca foi uma opção para nós relativamente às nossas produções mas, mentalmente, somos old-school a toda a hora… haha…


M.I. – Os Borknagar são uma banda com membros adultos cheios de responsabilidades que chegam com a idade… a maturidade afectou ou influenciou o vosso método de trabalho?


Sim, sem dúvida. Não podemos dispensar todo o tempo para a música como fazíamos quando éramos mais novos. Por outro lado, somos mais profissionais como músicos, o que significa que o tempo em que nos dedicamos à música, estamos mais focados e somos mais construtivos. Não gastamos horas no estúdio só a pensar em beber, preferimos passar esse tempo no estúdio dedicando-nos a fazer algo construtivo.


M.I. – Recentemente foram os cabeças de cartaz do Festival Inferno. Como correu? Que importância é que a banda atribui às tournées?


O concerto foi espectacular, divertimo-nos muito no palco e a resposta foi estrondosa! Bem, os Borknagar nunca foram muito de tocar ao vivo. A nossa actividade principal é criar música e tudo o resto é secundário. Por isso, andar em tournée não é assim tão importante para nós como banda mas sabemos que para termos sucesso comercial é necessário fazê-lo. Assim sendo, esperamos conseguir arranjar alguns concertos e alguma tournée no futuro.


M.I. – O que tens ouvido ultimamente? Recentemente descobriste novos sons/bandas que te impressionaram?

Tenho ouvido o novo álbum de Accept “Stalingrad”. Já não ouvia esta banda há anos mas o novo álbum surpreendeu-me pois é muito bom. Ou talvez eu esteja nostálgico… haha… para além disso tenho ouvido muita música de Steven Wilson. Os Porcupine Tree começaram a agradar-me ao ponto de se terem tornado numa das minhas bandas preferidas e “Fear of a Blank Planet” é, provavelmente, um dos melhores álbuns de sempre. Também adoro os seus outros trabalhos: o álbum a solo e Blackfield. Contudo, penso que o álbum “Storm Corrosion” foi uma decepção, muito aborrecido.


M.I. – Se não fosses membro de uma banda, o que achas que serias? Aprecias a tua vida? Ela encaixa nos planos que fizeste quando eras mais novo?

Hmm… gostava de ser cientista biólogo ou algo do género, essa área sempre me fascinou. Talvez não seja tarde de mais… Mas sinto-me feliz com a minha situação por isso não me posso queixar e não a mudaria por nada mesmo. Poder fazer música nesta escala e durante tantos anos é fantástico. Quando eu era mais novo, tudo o que eu queria era criar música… e estou a fazer isso…


M.I. – A Metal Hammer Alemã e a manager dos Metallica pediu-vos que fizessem uma cover de “My friend of Misery” para o álbum de tributo do 20º ano de lançamento do álbum original. O que aprendeste com esta experiência?


Essa foi a primeira vez que toquei música de outra banda. Ao início estava um pouco céptico em relação ao projecto mas foi uma experiência porreira. Sendo compositor foi interessante ver como outros compõem os seus temas. Podes gostar ou não de Metallica mas o modo como eles arranjam e organizam os riffs é genial.



M.I. – O teu compatriota Anders Breivik está a ser julgado pelos crimes que cometeu há cerca de um ano atrás… qual a tua opinião sobre este personagem?


É um verdadeiro déspota da humanidade! Não tenho mais nada a dizer sobre esse monte de merda…


M.I. – Qual é a melhor memória que tens de Borknagar?


Hmm… há tantas! Mas para mim, pessoalmente, é quando assinamos com a Century Media da primeira vez. Foi aí que compreendi que a banda estava prestes a tornar-se algo mais do que um mero passatempo. Bons tempos.


M.I. – Quais são os planos dos Borknagar para o futuro próximo?


Estamos a trabalhar num projecto de vídeo que é muito interessante. Para além disso, estou a trabalhar em novo material. E talvez tenhamos alguns concertos num futuro não muito distante.



M.I. – Há algo mais que gostarias de acrescentar?


Obrigado pelo apoio e um bem haja a todos os que estão a ler isto. Ouçam o nosso novo álbum pessoal! Fiquem bem.


Entrevista por Sónia Fonseca