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Gnaw Their Tongues - "Eschatological Scatology" Review


Não é novidade que a cabeça de Mories sempre foi um poço de imprevisibilidade e de mistério. Isto confirma-se com mais um lançamento do versátil músico holandês.

Para quem lê este nome pela primeira vez, é importante realçar que Mories se distingue de 95% dos músicos que qualquer pessoa ouve. Mesmo se essa pessoa visitar regularmente o ambíguo catálogo do Noise e do Black Metal mais necro e podre que existe.

Noise e Black Metal necro são, provavelmente, as características que melhor descrevem este álbum que sucede a “Per Flagellum Sanguemque, Tenebras Veneramus”, que pelo seu conteúdo visual como sonoro, reforçava o que distingue este artista de qualquer outro projeto de Black Metal que possam conhecer.

Fala-se muito no Black Metal, porque é o género que a par do Noise, abunda neste registo. É correto dizer-se que é a mistura perfeita dos dois géneros, pois é muito raro ouvir-se Black Metal com um nível de crueza além de cadavérico e que possa ser levado a sério. A isto junta-se um ambiente nada mais que esquizofrénico, que colide com uma harmonia incapaz de acalmar o ouvinte (atente-se nas partes acústicas e nos teclados fúnebres de “A Sinister Lurking Grave”). Apesar de se ouvirem mais partes caóticas, e notar-se que a harmonia, apesar de existir em boas doses, não é assim tão estudada, a verdade é que quase nunca peças tão díspares se ligam de forma tão abrasadora e mesmo assustadora.

É importante referir que Mories neste álbum, como é visível na duração das músicas, opta por uma abordagem mais direta ao diminuir a duração das músicas em comparação especialmente ao opus de 2010 “L’Arrivé De La Terne Mort Triomphante”. Já no sucessor de 2011 a duração das músicas tinham sido repartidas, e parece que é algo para ficar no catálogo de Gnaw Their Tongues. Se já a mistura de géneros é algo que resulta na perfeição quando trabalhado pelas mãos de Mories, já as estruturas e harmonias que também assentam que nem luvas, também dão grandes pontos a um álbum que vai beber a fontes muito raramente visitadas. Fontes que se notam serem velhas, esquecidas e quase decompostas. É destas torneiras que Mories bebe a sua água, e é esta poluição que faz de Gnaw Their Tongues uma proposta sempre muito interessante. É correto chamar a este lançamento o auge deste nome.

Se em géneros como o Hardcore e o Thrash levamos “socos na cara e no estômago”, com isto somos torturados lentamente, das formas mais agrestes e inimagináveis, até ao último segundo de música existente em “Eschatological Scatology”. Impossível resistir a algo tão amedrontador!

Nota: 8.7/10

Review por Diogo Marques