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Entrevista aos My Dying Bride



“A Map of all our failures” é o novo álbum dos mestres do Gothic Doom britânicos, My Dying Bride, que será lançado pela Peaceville no dia 15 de Outubro. Este novo trabalho continua a transportar-nos para dimensões melancólicas e sombrias e demonstra que, apesar da longa carreira de duas décadas, a banda ainda é capaz de surpreender os seus fãs. O guitarrista Andrew “Eu tenho um mau pressentimento sobre isto” Craighan (tal como ele assinou no final da entrevista), sempre bem disposto, esteve à conversa com a Metal Imperium e falou do novo álbum, de vinho do Porto e até do seu cabelo! 


M.I. – O título “A Map of all our failures” representa o desequilíbrio do cosmos que vivemos nesta era? Prestas atenção aos factores que estão a contribuir para a destruição do nosso planeta: a morte lenta da natureza, os problemas ambientais, o excesso de população e tudo o resto?

Para responder à primeira parte, não está nada relacionado, não é tão abrangente quanto isso. Encontra-se num nível muito mais microscópico do que o do cosmos. Não considero que seja o cosmos que está desequilibrado, mas sim os humanos, apesar de me parecer que quanto mais nos afastamos da raça humana mais fácil é de perceber que o caos e a ordem estão equititivamente distribuídos. Quanto à segunda parte, claro que estamos cientes destes problemas mas não acreditamos em todos eles. Eu sigo-me pelas regras: se a televisão te disse para fazer ou pensar de certa maneira, é mentira; se a solução para qualquer problema ambiental, social ou outro é um imposto ou o aumento de um imposto, então é mentira. Podemos construir carros que andam sobre água, máquinas que extraem energia de nada que provoque danos ambientais, mas temos acesso a eles?! Onde é que eles estão?! Bem já chega!


M.I. – O calendário Maia, de acordo com a wikipédia, “é um sistema de calendários e almanaques distintos, usados pela civilização maia” cuja crença ditava que iriam acontecer eventos cataclísmicos no dia 21 de Dezembro de 2012… o tema “Kneel till doomsday” tem algo a ver com isso?

Não! É mais um ataque à religião, a todas elas. Refere-se aos mentecaptos que se ajoelharão até ao dia do juízo final (Kneel Till Doomsday – bom trocadilho) e nunca serão livres. Sinto que a religião é uma ideia maravilhosa mas nós, como seres humanos, não somos capazes de lidar com ela. Quanto ao calendário Maia, li sobre o assunto quando era mais jovem e estou mais interessado em saber o que irá acontecer no dia 21/12/12 já que as forças poderosas adoram números destes… não nos fujam! Será que o eixo magnético norte da Terra irá para sul? Quem sabe?! Pessoalmente, não penso que como espécie sejamos capazes de reconhecer mudança, boa ou má… a não ser que sejamos aniquilados por extraterrestres e a nossa morte colectiva seja uma mudança capaz de classificar o calendário como correcto. Imagina o suspiro de alívio da Terra quando se livrasse de semelhantes pestes! 


M.I. – No mini-site o novo álbum é descrito como “uma controlada demolição de todas as nossas esperanças”. Porquê? Pelo título dos temas pode deduzir-se que este tópico é usado ao longo de todo o álbum… é mesmo assim?

Não, essa descrição surgiu quando pediram a MDB que escrevesse uma frase que reflectisse em poucas palavras a sensação do novo LP. Pareceu-me apropriado e como ninguém se lembrou de nada melhor, usámos essa. Como banda, sentimos que o LP tem uma vibração genuinamente mais lamuriosa do que alguns momentos capazes de nos quebrar o coração. Mas o LP não foi escrito em função dessa frase, ela simplesmente surgiu depois.


M.I. – De vez em quando, vocês apreciam usar o nome de personagens como títulos de temas mas, desta vez, não usaram nenhum... não encaixava no conceito do álbum? Porque é que todos os temas são tão sombrios? Estais mesmo a prever o final de uma era?

Ok, outra vez duas questões pelo preço de uma! Questão um: enquanto escrevíamos o lp, decidimos escrever música para títulos de canções, por isso eu inventei uma série de títulos para nos inspirarmos, nós melhorámo-los e depois moldámo-los para encaixar o melhor possível no título. De seguida, construímos as canções sem letras para os títulos que tínhamos (e todas foram mudadas desde então) mas quando finalmente tínhamos as canções acabadas, ainda não tínhamos as letras. Quando as letras surgiram, tivemos de ajustar os títulos para encaixar nas canções já que elas tinham desenvolvido tanto e já não tinham nada a ver com as canções que tínhamos começado. Acontece que por acaso nenhuma tem uma onda tipo Catherine Blake mas é mesmo assim. Os títulos são sombrios porque nós somos um grupo de desgraçados miseráveis que adoram títulos desses... e melancolia.


M.I. – A capa feita pelo Rhett Podersoo é bastante obscura e sombria… qual é a verdadeira mensagem por trás do corpo coberto pelo lençol branco? Como é que ele teve essa ideia? Vocês partilham os vossos pensamentos e sentimentos e depois ele representa-os do modo que quer ou dizem-lhe exactamente o que querem?

Para começar, mandámos as letras do tema “A Map of all our failures” ao Rhett, juntamente com umas ideias do que pretendíamos. Depois eu chateei-o tanto para ir emendando cenas que me pareciam óbvias, mas para ele não eram. O Aaron fez o mesmo e entre nós construímos a capa que realmente representa o tema título e há muitas referências implícitas, que apesar de obscuras. representam cada tema. Mas não retirámos nada da visão do Rhett pois ela é boa e, tendo em consideração que tínhamos pouco tempo, ele respondeu brilhantemente ao nosso pedido.


M.I. – Neste ano, no Graspop, vocês disseram que nem a vossa editora é convidada a ir ao estúdio quando estão a gravar. Porquê? Como é a vossa relação com a Peaceville?

É bom que eles fiquem longe, pois entrariam em pânico se ouvissem as cenas que gravamos. Para ser sincero, temos uma boa relação, não é perfeita mas nada é! Seriamente acredito que eles sabem que nós sabemos o que estamos a fazer e que não precisam de estar sempre a controlar-nos.


M.I. – Vocês têm uma tournée no final do ano mas não têm datas no sul da Europa nem em Portugal. Porque é que raramente vêm cá tocar?

Tempo. Nós temos empregos a tempo inteiro e não podemos andar em tournée durante muito tempo. É difícil porque quando tocámos em Portugal fomos muito bem recebidos e eu sou um fã de vinho do Porto... até trago sempre uma ou duas para casa para me deliciar... por isso é uma grande pena não tocarmos em Portugal desta vez. Mas iremos aí, em breve, espero eu.


M.I. – Os My Dying Bride funcionam como uma terapia para ti? Porque é que as melhores ideias surgem quando vos sentis em baixo e miseráveis?

É terapêutico quando ouço a nossa música. Geralmente não ouço MDB, a não ser que seja um álbum novo ou esteja a ter um momento de reflexão após algumas bebidas e, por vezes, curto ouvir velhos clássicos e penso “F*da-se, eu fiz isto! Um clássico!” Talvez sejam só os meus ouvidos moucos e bêbados a falar! Quanto à escrita, comigo acontece exactamente o contrário pois só crio o melhor som e miséria quando estou sóbrio e só fico feliz quando crio algo que considero digno dos MDB... aí sim, baixo a guarda e relaxo para conseguir apreciar o som que criei. Se me sinto miserável, e acredita que às vezes bato mesmo no fundo, sinto-me e sou absolutamente inútil.


M.I. – Já têm uma longa carreira de duas décadas... arrependes-te de algo?

Não me parece.... claro que há coisas que eu gostava que não tivessem acontecido mas se não foi por minha culpa, não me posso arrepender e alguns acontecimentos foram lições valiosas. Tive e estou a ter uma experiência que não pode ser comprada por dinheiro nenhum... o que quero dizer é que, apesar de termos construído isto através de trabalho árduo, dedicação e sem grandes objectivos em mente, não há garantias que uma banda te dará o que os MDB me deram. Eu sempre quis tocar numa banda de heavy metal, queria tatuagens (e tenho algumas), queria ter cabelo comprido e deixei-o crescer tal como um metaleiro deve fazer (não significa que sejam estes os ideais de hoje em dia), por isso eu considero-me mais rico do que alguma vez imaginei, não financeiramente mas numa perspectiva de experiência de vida. Sou, sem dúvida alguma, reconhecido como metaleiro e isso é espectacular. Portanto arrepender-me de algo seria simplesmente errado.


M.I. – No início dos anos noventa, a área de Bradford/Yorkshire tinha algumas bandas famosas com excelentes álbuns, nomeadamente os Paradise Lost, My Dying Bride... vocês socializavam umas com as outras? A cena mudou muito nos últimos vinte anos?

Costumávamos ver os Paradise Lost de vez em quando mas eles já eram mais reconhecidos na Europa, por isso não fazíamos muito parte do círculo deles. Nós entramos na cena depois deles e não socializávamos muito. Quanto às mudanças, os espaços de concertos de Bradford fecharam, o que não ajudou muito mas o metal aqui não morrerá tão facilmente e está a ressurgir devido à persistência de algumas bandas pois a pobreza da cidade não inspira invenção nem criação a não ser por parte daqueles que dela querem escapar.


M.I. – Nomeia as três coisas que foram possíveis para ti por seres membro de My Dying Bride mas que não seriam caso fosses simplesmente um homem normal.

Esta questão é muito boa e nunca a tinha ouvido. Ok, estive a pensar e tenho três números 1, mas em três partes (obrigado Dan!)
1. Marquei golo para a equipa de futebol dos Iron Maiden
2. Andei em tournée nos Estados Unidos com Ronnie James Dio. RIP
3. Toquei em Castle Donington. Ok, as bandas que lá tocam já não são como dantes mas para mim é Donington e, com o tempo, Donington voltará de novo, sem a merda pop, com um palco de rock / metal.


M.I. – Costumas ler os fóruns e a opinião dos fãs? Costumas tê-las em consideração?

Sim, sempre, pois mantêm-me equilibrado. Quanto à consideração, depende do que se diz. Mas todos lemos essas opiniões e se algo de valor surge, não passa despercebido. Mas os fóruns são manhosos pois todos podem comentar e têm algo a dizer e nem todos deviam e outros não deviam tentar tanto que os escutassem, quer dizer a caneta ainda é mais forte do que a espada mas estas são manejadas por tontos, é puro vandalismo, mas com um computador em vez de uma lata de spray.


M.I. – Agora tenho uma questão estranha que não tem nada a ver com metal nem com My Dying Bride mas sei que há muito pessoal que gostaria de saber a resposta, por isso aqui vai: o cabelo do Andrew tem tido um aspecto tão longo, lindo e saudável nas últimas duas décadas e sempre o invejei por isso… será que ele pode partilhar o seu segredo de beleza capilar connosco? Usa champô e amaciador especiais?

Hhhhhhhhhmmmmmmmmmmmm Ainda bem que sou eu a responder porque nem imagino o que os outros membros diriam. Esta é uma das questões mais matreiras que me foram colocadas nos últimos tempos. Até enviei um email ao Paul da Peaceville a perguntar se era brincadeira. Ele disse que não. Por isso aqui ficam as respostas…. Se posso partilhar os meus segredos convosco? Não! Se uso champô e amaciador especiais? É segredo. Ainda bem que este assunto está esclarecido!

Obi Wan Andrew: Não precisas de ver o meu amaciador.
Stormtrooper Imperium: “kckcch Não precisamos de ver o amaciador dele.”
Obi Wan Andrew: Não é este o champô que procuras.
Stormtrooper Imperium: “kckcch Este não é o champô que procuramos.”
Obi Wan Andrew: Podes ir tratar da tua vida.
Stormtrooper Imperium: “kckcch Podes ir tratar da tua vida.”
Obi Wan Andrew: Vai andando…
Stormtrooper Imperium: “kckcch Vai andando! Vai andando!”


M.I. –  Muito obrigada pelo teu tempo e atenção. Que corra tudo bem com o novo álbum. Partilha as últimas palavras com os fãs e os leitores, por favor…

Obrigado pela entrevista, foi muito divertida e uma das mais agradáveis. Quanto aos fás de Portugal, ou Portugeezers, como lhes chamamos, iremos tocar aí em breve. Agradecemo-vos o vosso apoio. 

Entrevista por Sónia Fonseca