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Anaal Nathrakh - "Vanitas" Review


Os Anaal Nathrakh são uma das bandas mais extremas do planeta! Cremos que isso será - potencialmente - um dos raros pontos de concordância para todos aqueles que, nesta nobre caminhada pelo mundo do Metal, se cruzaram com o colectivo britânico. E se é imensamente estranho perceber que exista gente com capacidade de criar música assim violenta, ainda consegue ser mais estranho perceber que exista gente que goste de ouvir tal música!

Nesta espécie de miscelânea de Black Metal tocado com a fúria do Death Metal e a sujidade do Grind (a que ainda se juntam ocasionalmente uns pós de Industrial) com todas as características para nos afugentar e atemorizar, é por demais curioso e até perturbador encontrarmos uma certa áurea “catchy”!!! É isso que torna esta banda tão especial: a inata capacidade de criar autênticos petardos da mais crua e suja demolição sonora, que ainda assim nos cativam e viciam como hinos pueris!

O “Vanitas”, em boa verdade, não se desvia da rota habitual do cometa Anaal Nathrakh. Encontraremos neste álbum 10 malhas relativamente curtas e incisivas, que sem piedade nos desferem, um atrás do outro, devastadores golpes sonoros com os seus riffs dominantes, os seus batimentos impiedosos, e os seus guturais que ameaçam rasgar os nossos tímpanos, como perigosamente a garganta do carismático “V.I.T.R.I.O.L.” . Essa sempre foi, aliás, a particularidade mais própria de Anaal Nathrakh: as vocalizações agonizantes ao extremo, e como que clinicamente conspurcadas. O “Vanitas” intenta talvez trazer um pouco mais de “melodia”, um pouco mais de ordem a este caos sonoro. E cremos que é bem sucedido!

Faixas com a sombria estranheza da “The Blood-Dimmed Tide”, a rebeldia da “Todos Somos Humanos”, a genialidade bruta da “Make Glorious the Embrace of Saturn”, e o sublimemente melodioso “A metaphor for the Dead” fazem desta proposta, um passo curto mas seguro, rumo a uma direcção talvez mais promissora em termos criativos! É que existem neste álbum mais momentos - do que é habitual - onde se ouvem vozes “cantadas”! E isso, soa fantástico. Porém, não se deixem ludibriar por esta afirmação: porque as coisas não ficaram de todo mais leves ou suaves.

E na realidade, se existe um “defeito” que se pode apontar a Anaal Nathrakh, é o facto de não retirarem o pé do acelerador desde o inicio ao fim dos seus álbuns. Somos como que empurrados por uma altíssima montanha russa, onde só existe o sentido da descida… desgraçadamente vertiginosa, mas só uma! É que os momentos mais calmos e melodiosos de uma música, fazem com que os momentos mais pesados e poderosos sejam ainda… mais pesados e poderosos! É praticamente impossível sentirmos este equilíbrio em Anaal Nathrakh. Desde o primeiríssimo momento em que carregamos no “play”, é sempre a rasgar, até que o álbum termina, deixando-nos emocionalmente despidos e exaustos. Porém, é como o povo diz: talvez não seja um defeito, mas sim um “feitio”.

Se decidirem fazer mais esta vertiginosa descida aos infernos dos Anaal Nathrakh com o “Vanitas” (o que vivamente aconselhamos), adiantamos porém duas dicas para que possam sair mentalmente ilesos dessa viagem: nunca ouçam este álbum de noite, e nunca o ouçam sozinhos (circunstâncias, sob as quais este álbum é obviamente mais propenso a “funcionar”!!!), sob pena de a escuridão, a demência e a brutalidade vos arrastarem até a um ponto sem retorno.

Nota: 9/10

Review por Sérgio Carvalhais Correia