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Entrevista aos Darkthrone


Os Darkthrone dispensam apresentações. Agora que assinaram contrato com a Peaceville, os seus álbuns lançados entre 1995 e 2004 estão a ser reeditados para gáudio dos elementos da banda e de milhares de fãs. O sempre afável Fenriz, a mente por trás desta gigantesca máquina norueguesa, dedicou algum tempo a responder algumas questões que a Metal Imperium lhe colocou. 


M.I. - “Hate them” foi lançado pela Moonfog Productions em 2003 e agora, praticamente dez anos volvidos, está a ser reeditado. Porquê este álbum em particular? Dirias que é o teu álbum preferido de Darkthrone? É uma estratégia de marketing para manter os fãs interessados já que se passaram dois anos desde o último álbum de originais?

Acredita que eu não estou envolvido no lado comercial dos Darkthrone – já me chega ter de tratar do lado musical e do lado promocional (risos). É normal haver álbuns que são reeditados, especialmente quando anteriormente se esteve numa editora mais pequena com menos capacidade para o promover decentemente e uma editora maior, como a Peaceville/Snapper, lhes compra os nossos álbuns. Ficámos felicíssimos por ver que sete álbuns nossos serão editados e promovidos de novo. É sim um dos nossos álbuns favoritos, porque eu fiz com que a bateria soasse como a bateria do tema “C’mon let’s go” dos Girlschool. 


M.I. - Na capa original estavam incorporadas imagens da Basílica Católica da Sagrada Família em Barcelona... a capa parece a mesma mas melhorada... consideraram a hipótese de mudar a capa ou achas que a original retrata o álbum da melhor forma possível?

Eu não sou o maior fã de capas mas estive envolvido na criação de capas entre 1990-1996 e desde 2006 até ao momento. Este álbum foi lançado no período de tempo entre 1997-2005 em que eu estava mais preocupado com outras cenas do que com capas. Fizemos competições para a criação de novas capas para a maior parte dos outros álbuns reeditados (os álbuns que produzimos entre 1995-2004) mas este não teve direito a capa nova. Como o som deste álbum é muito variado, a capa poderia retratar qualquer coisa, mas com o passar dos anos habituei-me a ver este álbum com esta capa.


M.I. - Vocês re-gravaram os temas ou fizeram algo para melhorar o som?

PORRA não!! Assim não seria o mesmo álbum de maneira nenhuma. O som tem a maior importância para mim. Eu sou um tipo que aprecia mais álbuns do que concertos, por isso, normalmente nunca vou a concertos das minhas bandas preferidas porque é impossível reproduzir o som dos álbuns num ambiente ao vivo. E num concerto tenho de partilhar a experiência com muito pessoal. Se for um álbum, posso ouvi-lo e apreciá-lo sozinho e já me dedico a álbuns desde 1972!


M.I. – Disseste que o som da bateria foi inspirado no tema “C’mon let’s go” de  Girlschool. O heavy metal e as bandas da new wave of british heavy metal ainda são uma influência e inspiração para ti?

O heavy metal surgiu na minha vida com os Steppenwolf, The Doors e Uriah Heep… e tudo o que surgiu a partir daí desde os anos 70 aos 80. E os vinte anos de 1969 a 1989 marcaram definitivamente a minha vida e influenciaram-me imenso. Eu tenho partes de NWOBHM nos novos álbuns mas também partes mais viradas para o speed metal na veia de Agent Steel nos seus pimeiros tempos. “Skeptics apocalypse” percorre-me com toda a força! Ainda hoje me provoca arrepios na alma!


M.I. – A reedição de “Hate them” em vinil e 2 cds inclui um disco de filmagens com Nocturno e Fenriz a reflectirem/deliberarem sobre os temas, as inspirações na altura em que o material foi escrito e ainda capas actualizadas. Achas que este material é valioso para todos os fãs ou é mais direccionado para coleccionadores?

Não, é o lançamento do álbum novamente antes que fosse difícil de mais. Os discos de filmagens são MUITO melhores do que simples notas e acho que fui o primeiro a roubar esta ideia dos lançamentos de DVD da indústria cinematográfica. Também proporciona mais informação do que as entrevistas, é muito virado para a música, detalhes da música que as pessoas podem ouvir e, acima de tudo, a música é para ser ouvida e não lida! ;)


M.I. – O que é que tens andado a ouvir? Quando trabalhas como DJ só te centras no metal?

Nem pensar! Eu tenho um vasto conhecimento musical e sou muito eclético. Da última vez que trabalhei como DJ (no concerto de Witchcraft no Revolver em Oslo), toquei de tudo, desde Tusmørke, Earth and Fire aos Parlament! Também passo muito underground house e techno se puder, mas o pessoal espera sempre que eu toque cenas com guitarras. A mente é como um paraquedas, só funciona se estiver aberta. (Frank Zappa). Todos podem ver no blogue Band Of The Week o que tenho andado a ouvir. Os últimos vinis que ouvi em casa foram Herb Alperts Brass Tijana Band (60s) e o LP “In Dutch” de Vanderbuyst. 


M.I. – Manténs um blogue entitulado “Band Of The Week” no qual apresentas uma banda “nova” cada semana. Curtes promover as bandas? Tens noção de quantas pessoas seguem o blogue?

Não faço a minima ideia já que está no facebook, na minha página do myspace e é postado também no myspace dos Darkthrone e no site.  Não há publicidade, nem fóruns, só música. Sim, muitas bandas são muito jovens e “frescas”… por acaso já ouviste falar da última, Mion’s Hill? De certeza que não! Mas geralmente opto por aquelas que já lançaram algo antes de as destacar no blogue, para me certificar que são bandas com gosto pela música. Muitas bandas nem soam bem nos primeiros meses…. Eu sei porque a minha banda soou mal durante dois anos. (risos) Eu aprecio promover bandas desde que fiz as primeiras entrevistas em 1988 e esse era mesmo o melhor aspecto das entrevistas, portanto sempre tive isso em mente. Sempre quis ter uma fanzine mas não tinha tempo para tal e quando surgiu a ideia do blogue Band Of The Week tive de me desenrascar sozinho mas quando consegui foi sempre a rolar. A princípio estava sozinho mas, felizmente, depois surgiu a ajuda do Arjan da Holanda, o verdadeiro guerreiro do metal.


M.I. – Esta tua ideia já inspirou um festival e houve bandas que até conseguiram contrato. Como te sentes por ser considerado um modelo e ídolo para muitos metaleiros? Alguma vez esperaste alcançar este tipo de reconhecimento?

Não, nunca esperei que nos tornássemos mais conhecidos do que o Blod Feast, por exemplo. Mas eu dediquei a minha juventude ao underground e, quando consegui um contrato em 1990, pude finalmente relaxar e fiz o que os jovens fazem e dediquei-me às miúdas, cervejas e diversão. Nunca tinha tido tempo para tal até aos 18 anos! Arrgghhh, mas eu estava possuído pelo metal underground e após os anos tristes entre 1993-2003, o metal melhorou outra vez. O Oscar de Old levou-me a descobrir muitas bandas dos anos 80 que eu desconhecia e eu costumava ouvir simultaneamente bandas novas e bandas antigas e tornei-me um complete maníaco do metal! Arrgggghhhhhhhhh, o metal reina no inferno!


M.I. – Partilha uma mensagem com os fãs e leitores.

Não se esqueçam de ouvir “Manilla Road” que é cristalino e mistura de um modo mágico os anos 70 e os 80. Este álbum mostrar-te-á o caminho certo para o melhor som do reino do metal. Não estou a brincar!

Entrevista por Sónia Fonseca