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Skypho - "Same Old Sin" Review


Existe uma condição inerente ao ser-humano que, do ponto de vista filosófico, consegue sempre fazer-me perder algum tempo em  apurada reflexão, como se fosse eu o albergue de esperança em vir a sintetizar a adequada resposta para a grande questão:  porque razão é tão frequente o desconforto com a sorte que os dados do destino nos reservou?

Isto pode fazer um pouco mais de sentido para os habituais esotéricos do karma e dos cristrais e dos mantras mas, de certa  forma e num largo espectro, tende a aplicar-se aos melómanos em particular, se olharmos para esse frágil equilíbrio que se tenta encontrar entre o risco da inovação e a segurança do pragmatismo criativo.

Quer isto dizer o quê exactamente? Que não raras vezes se torna quase obssessiva a nossa busca de conforto, através das  centenas de bandas que ouvimos e dos milhares de diferentes temas que nos passam pelos ouvidos, e se, por um lado, nos conseguimos confortar com aquela certeza acolhedora que algumas dessas experiências nos proporcionam, também não raras vezes se nos rebela a alma, o espírito e a mente com a necessidade de pensar fora da caixa e encontrar um risco que possa ser tomado ou, com alguma sorte, um ou outro dogma que possa ser destruído.

Entram em cena os Skypho. Banda de Albergaria-a-Velha que, até ao momento em que premi play pela primeira vez, ainda não se tinha imiscuído no meu radar musical. Talvez tenha sido um feliz acaso do destino, pois chega-me assim este “Same Old Sin” de uma forma quase virgem e sem tentação comparativa com o passado criativo que possa ter saído da mente destes seis músicos.

Confesso que, após terminar o primeiro encontro com a música dos Skypho, pensei para com o estuque que limita a sala onde me encontrava: não vai ser fácil escrever acerca deste disco!

Se eram riscos que queriam correr e se, na vossa busca de conforto, eram desafios criativos que queriam encontrar, então os Skypho podem muito bem ser os autores da banda sonora ideal para a vossa aventura. No entanto, se o vosso imaginário se regula pelas mesmas regras que controlam coisas como o subir das marés ou o ser o lado da manteiga que fica para cima, é necessário que abracem a ambiguidade dos seus exercícios de fusão.

Penso ser necessário trazer para o fogo desta consideração o inequívoco à-vontade que parece estar patente em todos os membros desta banda em cada uma das suas áreas, lugares, instrumentos, como queiram. Existe, espalhado por este disco, o peso necessário para fazer sorrir o adepto metaleiro, na mesma medida em que o rock alternativo e mesmo alguns ritmos mais quentes (reggae e ska? Heresia, dirão alguns...) se conseguem aconchegar na autêntica viagem que é este disco. Há ainda tempo e atrevimento suficientes para incluir samba e riffs thrash (alguém se lembra dos brasileiros Overdose nos anos noventa?) num tema como ‘Jungle Syndrome’!

Mas até que ponto é esta mistura de cores e sabores o catalista necessário para a explosão de qualidade desejada por todos? Esta é uma questão de difícil resposta. Este autêntico caleidoscópio de influências (ouça-se por exemplo ‘Your Love, My Cage, My Prison, My Rage’) poderá ir ao encontro de ouvidos mais progressivos que se revejam na audácia de quem funde influências de Max Cavalera ou Primitive Reason, com melodias mediterrânicas ou consiga levar didgeridoos ao rock alternativo e oscilando vocalizações ásperas com vozes limpas e explorando recantos de dialéctica, ora em inglês ora em português (em ‘Nowhere Neverland’, por exemplo, os dois idiomas encontram-se na mesma tela), mas não podemos também ignorar que, até certo ponto, este constante curvar à esquerda e à direita pode também representar uma busca de identidade própria que ainda não chegou ao seu destino final e que pode correr o risco de perder alguns passageiros ao longo do caminho.

Não obstante este aparente conflito, a qualidade está bem presente neste trabalho, ainda que, em determinados momentos, seria bem vinda alguma capacidade de síntese na altura de compor (a maioria dos temas estão acima dos 5 minutos), mas todos sabemos que não se deve impôr um limite à criatividade, apenas deixá-la fluir livremente. Os Skypho parecem ter abraçado muito bem esse conceito.

Nota: 7/10

Review por Rui Marujo