About Me

Khors - "Wisdom of Centuries" Review


Por vezes, para escutar um disco é necessário muito mais do que apenas ouvi-lo! É necessário nele colocarmos o nosso coração, os nossos medos, as nossas angústias. Na maior parte das vezes é uma experiência que necessita de tempo e de dedicação, para que lentamente consigamos desvendar os assombrosos segredos que se escondem por detrás dos padrões (ou falta deles) de melodias incandescentes, e assim quem sabe encontrarmos a redenção.

O “Wisdom of Centuries” é um desses álbuns em que o tempo dedicado, tem um retorno gigantesco. É uma viagem espiritual a um mundo tão densamente terreno que chega a “magoar”, e ao mesmo tempo a uma dimensão tão transcendental que podemos ver a confusão dos três tempos, passado, presente e futuro, unindo-se em perfeita harmonia. É dessa mistura do mundano e do sagrado que  vive este álbum!

Oriundos da Ucrânia, os Khors entregam com este seu quinto álbum, um formidável álbum de “Pagan Black Metal” (é inevitável não pensarmos em Primordial, ainda que os Khors possuam argumentos por si próprios, e uma entidade muito ímpar neste espectro).

Uma das características de forte evidência, e que acaba por emprestar um carácter muito próprio a este trabalho é que pela primeira vez este é um álbum todo ele é cantado em ucraniano (mesmo apesar de os títulos serem em inglês). E apesar de tal surtir o efeito de não conseguirmos desmembrar qualquer mensagem por detrás as suas letras, uma pesquisa mais profunda indica que a temática abordada se centra na história política da Ucrânia, no enaltecimento de um povo que carrega às costas o fardo de déspotas e fantasmas. Ainda assim, curiosamente acaba por ser desnecessário compreender as letras, uma vez que este é um álbum para ouvir num sítio mental onde não existem línguas.

Em termos musicais, ao black metal atmosférico e profundamente enraizado na natureza, os Khors colam agora o folk. Com nuances instrumentais muito mais ricas inebriantes e dinâmicas do que outrora (o que poderá ser atribuído ao preponderante papel atribuído ao novo guitarrista que se estreia assim com uma mestria formidável) percorrem com subtileza e uma densa melodia, quadros de melancolia, de raiva, de desolação. Conjugando momentos de angustiante raiva, construída com aquele ímpeto épico das grandes obras de metal, e com as mais suaves e ternas passagens, somos embalados na sombra deste álbum extraordinariamente dinâmico (um álbum que consegue manter a dinâmica do início ao fim, ainda que possuindo 4 instrumentais em 8 músicas).

Terminamos como começamos: para verdadeiramente escutar um disco, é necessário muito mais do que apenas ouvi-lo. É certo que o “Wisdom of Centuries” vai exigir de vós tempo e dedicação. Mas para aqueles que conseguirem penetrar nas muralhas deste monstro sonoro, para aqueles que conseguirem compreender a dor, a tristeza, o ódio e a desolação escondidos nestas músicas, valerá indizivelmente a pena.

Nota: 9.3/10

Review por Sérgio Carvalhais Correia