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Reportagem: Beira Rio Metal Fest @ Revolver Bar, Cacilhas


Sinceramente, não consigo entender como um festival destes, com um cartaz de bandas nacionais em ascensão e já com créditos firmados, uma organização a altura e um preço de bilhete convidativo conseguem trazer tão pouco público ao Revolver Bar. Além do mais, um festival com um cariz de beneficência, onde era doada uma percentagem do valor do bilhete à causa do lobo ibérico. Mesmo assim, o espaço do Revolver Bar em Cacilhas foi mais que apropriado para receber as seis bandas nacionais escolhidas para este evento. Quanto a público, não chegou à centena e esteve sempre muito contido durante quase todo o desfilar de bandas.

A iniciar o evento os Auschwitz, que tive a oportunidade de ver anteriormente no “Artilharia Pesada” em Setembro e que desde essa altura se notou uma evolução favorável deste quinteto, principalmente ao nível de presença em palco, mais entrosada e confiante. A música assenta num death / thrash metal moderno, com algumas ideias interessantes, onde aqui e ali introduzem pequenos detalhes e apontamentos fora do comum para este tipo de sonoridade. Algumas arestas a limar e uma focagem nos objectivos musicais são ainda precisos, mas no geral uma boa actuação desta jovem banda.


Os Ancient Horde elevaram um pouco mais a fasquia da qualidade, eles que já têm um pouco mais de rodagem. A mistura de black / thrash metal da banda é muito interessante e bastante bem executado. Trouxeram consigo uma pequena horda de seguidores, que vêm no tema “Heavyfuckers of Thrashmageddon” o seu hino. Um bom concerto desta jovem banda da Moita, que anunciaram que vão gravar um disco em breve.


Os Nuklear Infektion foram os seguintes no cartaz e debitaram o seu thrash metal de veia “old school” sobre uma plateia que mostrou os primeiros sinais de vida. Sempre em ritmo muito acelerado, mostraram muita competência em palco, para além de boa música, ainda a apoiar o seu EP deste ano “Weapons of Massive Genocide”. Bandas como Sepultura antigo, Nuclear Assault e Overkill fazem parte das preferências da banda e isso nota-se na sua música. No entanto, as ideias mostradas são interessantes e não são uma colagem descarada às bandas indicadas. Uma dupla de guitarristas em grande destaque e que, apesar de muito jovem, mostrou que sabe dominar ritmos rápidos e intricados com facilidade. Temas como “Preachers of Lies” e “Dark Passanger” e ainda três covers (“Black Magic” dos Slayer, “Ace of Spades” dos Motorhead e “Troops of Doom” dos Sepultura) ajudaram estes miúdos a darem um bom concerto antes da pausa para o jantar.


Para a segunda parte deste evento, a abrir os lisboetas Undersave. E que excelente surpresa. O death metal praticado por este trio, inspirado no norte-americano, é bastante poderoso e viciante, o que aliados a uma qualidade de execução acima da média, fez do concerto dos Undersave um dos melhores da noite. De forte inspiração de bandas como Suffocation ou Deicide e com um vocalista de presença austera em palco, a lembrar Jason Mendonça dos Akercocke, provaram ser a melhor escolha para anteceder as restantes bandas. Sem dúvida, uma banda que ainda vamos ouvir falar mais vezes.


Os Neoplasmah estão de volta. Depois de um hiato de sete anos, eis que uma das mais inovadoras e interessantes bandas o panorama death metal nacional está de volta e o concerto que deram nessa noite em Cacilhas demonstrou que estão mais fortes que nunca. A gravar o seu segundo álbum depois do disco “Sidereal Passage” de 2004, os Neoplasmah deram um concerto arrasador. Integrando membros dos Grog e Martelo Negro e com a vocalista Sofia Silva em excelente forma, foram os temas do disco de estreia que preencheram o concerto desta banda lisboeta. Temas como “Mummified in Hybrid Plasma” ou “Enter the Void of Spectral Velocity” provaram que são executantes de primeira linha e que estão prontos para esta segunda vida.


E para terminar, quem melhor que os Switchtense para finalmente por o pouco público a mexer? Aqueles que eram os cabeças de cartaz deste evento provaram que eram a banda por qual todo o público esperava. Estes rapazes da Moita, mal começaram o seu concerto fizeram explodir o Revolver com a sua mistura de thrash musculado. Uma banda que tem subido pulso na sua carreira e que não tem nada a provar a ninguém. Hugo, Neto, Pardal, Karia e Xinês deram uma lição de violência à qual ninguém ficou indiferente. “Face Off”, “Unbreakable”, “Into the Words of Chaos” foram apenas alguns dos temas tocados por uma banda que comemora dez anos de existência e que, para assinalar a data, irá lançar em breve um DVD alusivo ao concerto que a banda deu no Moita MetalFest e ainda mais algumas surpresas para um futuro próximo. Uma delas foi lançada nessa noite, com o desvendar de um novo tema, “The Right Track” que segue a mesma linha dos seus temas habituais, numa toada rápida e brutal. Um concerto absolutamente arrasador.

Pensemos. Se um concerto de uma banda qualquer internacional consegue ter muito mais gente a assistir que um concerto de bandas nacionais, o que está mal? Não falemos em qualidade, pois isso temos nós de sobra. Exposição, sucesso? Isso hoje em dia não é sinónimo de qualidade. O que devemos fazer é (continuar) a apoiar o metal nacional, e aqueles que estiveram nessa noite no Revolver provaram que não é preciso ser uma banda internacional para ser menos apoiada.

Texto por João Nascimento
Fotos por Joana Carvalho
Agradecimentos: Metals Alliance