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Lord Agheros - "Demiurgo" Review


Decididamente, quando Euronymous “cunhou” a sonoridade black metal, decerto que não teria em mente o tipo de aventuras que bandas como estes Lord Agheros abraçariam anos mais tarde. Com origem na Catania, este projecto não é mais do que uma one man band, idealizada por Gerassimos Evangelou, responsável claro está, por (quase) todas as vozes e instrumentos nos seus discos. Demiurgo é já o seu quarto disco, que faz a continuidade com os ambientes sinfónicos e melancólicos que já tinham vindo a ser explorados nos lançamentos anteriores.

De facto, Demiurgo terá porventura tudo aquilo que poderá irritar, e de que maneira, um fã mais acérrimo de black metal. Alias, colar esse rotulo a Lord Agheros, é puxar em demasia os limites deste subgénero. Piano, vários tipos de orquestrações, guitarras acústicas, algumas vozes femininas, passagens atmosféricas baseadas, não nas guitarras, mas em elementos sinfónicos, enfim, toda uma panóplia de razões que poderá granjear poucos amigos a Gerassimos Evangelou.

É notório que estamos na presença de algo bastante ambicioso, pois Demiurgo não é um disco de canções, mas sim de andamentos, como se de uma sinfonia se tratasse. Uma obra de uma hora, que se encontra dividida em duas partes, onde na primeira o black se faz notar na bateria, tonalidade das guitarras, e voz torturante do músico, e uma segunda onde apenas os elementos sinfónicos se manifestam.

O mais interessante neste trabalho é que ao contrário do que costuma ser a maioria destes casos, não resvala para uma ode de chorrilhos orquestrais ala Enthrone Darkness Triumphant de segunda categoria, isto porque o músico acaba por explorar uma componente bastante intimista, muitas das vezes dando mesmo uso à simplicidade e subtileza, como um simples piano a entoar uma melodia soturna. Talvez por isso, haja aqui muito mais de Ulver recente ou de Evinta (My Dying Bride), do que propriamente Summoning ou qualquer banda cuja base seja elementos sinfónicos barrocos.

Para o final fica a ideia de que Demiurgo, não é uma obra-prima, mas tem laivos disso. O mais importante é que as pretensões de Gerassimos resultam, e os momentos de qualidade do disco são bastantes. A atmosfera aqui contida é suficientemente credível para conseguir impingir arrepios na espinha, e a curta duração de cada andamento evita que qualquer momento menos conseguido ganhe especial relevância.

Decididamente, este é daqueles álbuns que é mesmo para ouvir todo de seguida, e não destoaria como banda sonora para um filme de época italiano, de cariz soturno e melancólico.

Nota: 8.3/10

Review por António Salazar Antunes