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Reportagem: Cult Of Luna e Process Of Guilt @ Paradise Garage, Lisboa - 29-01-2013




Quem chegou pouco depois das oito horas da noite às portas do Paradise Garage no dia 29 de Janeiro, talvez se tenha assustado um pouco com as poucas pessoas que se encontravam à porta. Certamente não seria a recepção que os Cult Of Luna mereceriam numa visita ao nosso país em máxima força - ou seja - com todos os sete elementos. Nem tão pouco os Process of Guilt que lhes coube a tarefa de abrir para os suecos e que lançaram um dos álbuns do ano de 2012 (e não estou a falar a nível nacional apenas). 



Felizmente, quando a banda portuguesa subiu ao palco, a casa já estava consideravelmente composta e se por vezes o público tem que esperar pelo início dos espectáculos aos sons mais descabidos para a ocasião, aqui essa tarefa coube aos Neurosis e ao seu último álbum de originais, "Honor Found In Decay", portanto, melhor "aquecimento", dificilmente seria possível. Quando o feedback em crescendo de "Empire" começa a soar, as atenções focam-se apenas numa coisa, no apocalipse que teria lugar em cima do palco nos próximos quarenta e cinco minutos, sensivelmente. Se na crítica ao seu último álbum, "Faemin", disse que seria complicado separar ou sequer analisar as músicas individualmente, não é por acaso que a banda preferiu tocá-lo na íntegra, como tem sido exemplo em quase todos os concertos que têm dado desde o lançamento do álbum. Se o álbum, em casa, no carro, no leitor de mp3 ou no computador, tem o poder que tem, nada pode ser comparado com o poder que tem ao vivo. Uma intensidade sem paralelo e uma experiência sonora que não necessita de comunicação por parte da banda com o público - que foi inexistente. Não houve razão para tal, não existiriam palavras para serem ditas, que fossem acrescentar algo em relação à prestação da banda, ao ambiente criado, ambiente único.



Com uma abertura destas, as expectativas para os Cult Of Luna ainda acabaram por ficar acrescidas, elas que já eram enormes. Seria difícil superar algo como o que os Process Of Guilt tinham feito mas nem se pode comparar, não em questão de ser melhor ou pior. A intro do último álbum, "The One", foi o início que levou ao rubro o público do Garage que aguardava com enorme ansiedade os sete cavaleiros do apocalipse humano. "I: The Weapon" explode nas colunas e dentro de cada um que assistia o concerto, visitando o último álbum "Vertikal", ainda bem fresco na memória e nos ouvidos. Foi nele que o concerto foi apoiado, com cinco temas (além dos dois indicados atrás, tocaram também "Mute Departure", Vicarious Redemption", "Passing Through", "Disharmonia" e "In Awe Of") e com três temas dos dois álbuns anteriores ("Owlwood" e "Ghost Train" do "Eternal Kingdom" e "Finland" do "Somewhere Along The Highway") que se não soaram como intrusos no conceito sonoro de "Vertikal". A exemplo de Process Of Guilt, não houve praticamente comunicação com o público (tirando a curta despedida final, não houve encore, nada que faz parte das regras como os concertos devem ser e se houveram pessoas que ainda queriam mais, sentimento ao qual não pode ser apontado o dedo, depois do que foi vivido nos quase cem minutos que o espectáculo durou - e ver a banda toda na sua máxima força, foi mesmo algo digno de se ver, sobretudo os dois bateristas. Apesar desta falta de comunicação, não se pode dizer, de forma alguma, de que se tratou de uma noite fria no Paradise Garage, porque a emoção transmitida pela música aqueceu de forma escaldante, a sala e aposto que até o quarteirão, mas sobretudo o interior de quem a ouviu e a sentiu dentro de si. Um grande concerto, daqueles que ficam na memória para o resto da vida e não apenas mais um a que se assistiu. Quem esteve lá sabe exactamente o que estas palavras significam.


Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Pedro Roque
Agradecimentos: Prime Artists e Amplificasom