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Entrevista aos Immolation


Os ícones americanos do death metal, Immolation, estão de volta com um novo álbum que ameaça surpreender tudo e todos. “Kingdom of Conspiracy” é o nono álbum da carreira desta banda e é a prova que, apesar de já andarem por cá há vinte anos, estão cada vez melhores. O baterista Steve Shalaty dialogou com a Metal Imperium sobre o novo álbum e o estado actual do mundo.


M.I. - O Ross recentemente afirmou que o vosso som é pouco ortodoxo para death metal, muito dissonante, obscuro. É intencional ou sai mesmo assim?

É o som do Bob que é mesmo miserável e dissonante. O Bob é um tipo muito extrovertido e simpático, mas há algo dentro dele que é bastante obscuro e distorcido e precisa de ser libertado. Se fosse intencional, penso que não sairia nem parecido nem tão bom. Esta música é a expressão honesta do homem e isso é que a torna poderosa. A sua convicção não pode ser defraudada. Este line-up já está junto há tanto tempo que compreendemos e respeitamos a visão de cada um e podemos trabalhar no sentido de embelezarmos criativamente o que ele pretende.


M.I. – Os Immolation entraram nos Sound Studios em Millbrook, Nova Iorque, para gravar o nono álbum com Paul Orofino, o vosso produtor de longa data. O que podemos esperar deste álbum?

Para mim este é o passo natural na progressão da banda pois arranca a partir do ponto em que “Providence” parou. É limpo e claro como “Providence” mas mantém a escuridão poderosa de “Majesty and Decay”. É mais agressivo e tem mais tomates do que tudo o que eu fiz com a banda até ao momento. Tem todos os elementos que fazem parte do melhor material dos Immolation com uma clareza e produção superiores. Há partes rápidas e furiosas assim como partes mais lentas e assustadoras combinadas com grooves e cadências e marchas estilo militar que avançam a um bom ritmo. Ter mudanças de tempos constantes e esquizofrénicas e riffs duplos mantém as coisas interessantes. Não trabalhamos muito tempo com o mesmo equipamento. Não nos quisemos alongar em secções demasiado longas que podem arrastar ou arruinar o ponto alto do tema. Há partes que me recordam “Failures For Gods” e “Here In After” e outras lembram-me “Close to a World Below”. Acredito que este álbum representa bem a banda!


M.I. – Tendes trabalhado sempre com Paul Orofino. Como é essa colaboração?

É basicamente como ir à casa do tio Paul no campo e ficar lá para umas férias de duas semanas com muitas festas e churrascos, onde por acaso também se grava um álbum! É mesmo assim!


M.I. –Os Immolation voltaram a usar Zack Ohren (All Shall Perish, Decrepit Birth, Suffocation) para masterizar este novo álbum. Porquê ele?

Tens razão. A verdade é que o Zack tem feito sempre um trabalho fabuloso e misturou e masterizou dois dos nossos melhores álbuns até à data. Acreditamos piamente que os sucessos anteriores serão todos ultrapassados com este álbum. Todos os envolvidos na criação de álbuns fazem parte de uma equipa criativa. Este é o meu quinto projecto de gravação com a banda e ainda estou a aprender como fazer para dar o meu melhor à música. É justo que permitamos aos outros membros da banda que se desenvolvam e cresçam musicalmente, especialmente quanto temos de nos testar repetidamente, tal como o Zack. A progressão na produção é audível nos três últimos álbuns. Desde que consigamos progredir, sentimo-nos felizes, até porque não estamos a pensar desistir em breve, portanto pressa para quê?


M.I. - O processo de gravação/produção de “Majesty and Decay” foi diferente do usado nos outros álbuns e recebeu excelentes críticas. Usaste a mesma fórmula para “Kingdom of Conspiracy”?

Usámos o mesmo processo usado no álbum "Providence". Usámos uma técnica de pré-produção mais evoluída que nos permitiu obter mais flexibilidade e criatividade em menos tempo e sem ter de andarmos sempre a viajar de Nova Iorque para o Ohio e vice-versa. É muito importante mantermo-nos a par da qualidade de execução do novo material para não perdermos tempo quando de facto entramos em estúdio. Acidentalmente, cometemos esse descuido durante a preparação do "MajestyandDecay".


M.I. – Porquê “Kingdom of Conspiracy” (Reino da Conspiração)? O título tem alguma alusão a situações políticas ou sociais?

Claro. Abordamos todos os tipos de manipulação das massas, propaganda e preconceito dos média, bem como a doutrinação da juventude e os factores e ambientes que estimulam ou permitem conspirações intencionais de enganar o público.


M.I. – Acreditas que existe uma teoria da conspiração no mundo neste momento? O nosso planeta está mesmo a viver uma crise severa?

Acredito que a religião organizada é a maior, mais antiga e a mais abrangente conspiração de todas. Serviu como templo para todos os tipos de manipulação das massas e campanhas para controlar tudo o que o mundo testemunhou... ou não! Contém todos os métodos característicos e motivos para controlar as pessoas, tanto de forma passiva e agressiva, bem como secretamente e sem o conhecimento das vítimas. É a doutrina do inocente e ingénuo e corrompe a sua maneira de pensar. Usa o medo, culpa e vergonha para manipular os fracos e a informação incorrecta e mentiras para manter a fidelidade. Remove o senso de auto-responsabilidade do indivíduo e, até mesmo a nossa espécie como um todo e coloca-o nas mãos de Deus. Quando alguém tem uma morte não natural ou devido a circunstâncias cruéis, eu ainda ouço as pessoas dizerem coisas como: "Deus decidiu que era a sua hora" ou "Deus chamou-o para o seu reino." Isso é uma maluqueira! Acabei de ler uma notícia sobre um miúdo de cinco anos que acidentalmente disparou na sua irmã de dois anos e ela morreu com a arma que os pais tinham comprado para o quinto aniversário do miúdo. Quando a avó foi entrevistada, disse algo semelhante às citações que acabei de mencionar. Nenhum sentido de responsabilidade, negligência ou culpa, apenas a vontade de Deus. Fico boquiaberto! Esse tipo de mentalidade está bastante interiorizado e é completamente irresponsável. Isto é que é a verdadeira crise. Ter pessoas no poder que acreditam nesse tipo de lixo, é a receita certa para o desastre.


M.I. – No press release, a Nuclear Blast refere que “Kingdom of Conspiracy” é, sem dúvida alguma, a mais completa, ameaçadora e obscura culminação da loucura musical que a banda já lançou! É assim mesmo ou eles estão simplesmente a fazer um excelente trabalho de promoção?

A Nuclear Blast é fantástica e estão a fazer um excelente trabalho promocional! No entanto, acredito mesmo que as palavras deles são verdadeiras e que eles estão muito orgulhosos deste álbum e acreditam seriamente no que estão a dizer!


M.I. - A nova faixa “Indoctrinate” está disponível para download gratuito e, na página oficial do facebook, já tem muitas partilhas. Como é que os fãs têm reagido?

A reacção tem sido admiravelmente positiva. Os Immolation têm os melhores e mais leais fãs dentro do death metal. Também reparei que há muitos ouvintes novos que estão a reagir entusiasticamente. Isto é altamente encorajador para uma banda que já cá anda há 25 anos. Obrigado a todos!


M.I. – Não temeis que o facto de disponibilizar as faixas para download possa prejudicar as vendas?

Na verdade, é o oposto.


M.I. - O Robert Vigna disse e passo a citar: “Acho que os fãs  não vão saber o que os atingiu após ouvirem este álbum! "Kingdom of Conspiracy" é um álbum intenso e miseravelmente obscuro!". Parece que estais muito confiantes! O que torna este álbum tão especial?


Como já mencionei anteriormente, nós sentimos que a banda está num novo estágio de evolução. Estamos mais confiantes com este line-up e só agora temos noção do que somos capazes. Temos aquela atitude de querermos dar sempre o nosso melhor. Por que não? Quando gravámos “Harnessing Ruin”, eu tinha acabado de me juntar à banda e havia constrangimento e hesitação. Eu não estava acostumado com o estilo e a maneira dos Immolation tocarem. Levou algum tempo para desenvolver a química e a confiança entre os membros da banda. Naquela altura, éramos como uma banda na fase inicial. De certa forma “Harnessing Ruin” foi um retrocesso comparando com “Unholy Cult”. O Alex Hernandeze o Craig Smilowski encorajaram-me a usar o meu próprio estilo. Eu sinto que eles têm mais confiança em mim do que nos meus antecessores e que a confiança na minha capacidade permitiu ao Bob esquecer as restrições e escrever com mais liberdade. Nada está fora dos limites agora.


M.I. - O novo álbum tem 10 faixas intensamente obscuras ... como conseguem tornar as coisas cada vez mais obscuras com cada álbum novo?

(Risos) Yeah, quão obscuro é possível ser-se? Eu acho que tem a ver com a evolução e combinação de confiança e liberdade durante o processo de escrita do Bob. Ele demora o seu tempo a escrever, a relaxar e a divertir-se e assim ele consegue escrever o material mais obscuro e miserável capaz de assombrar a mente humana. Quando ouvires as faixas "All That Awaits Us" e "The Great Sleep" vais concordar com o que digo.


M.I. – O processo de escrita é muito difícil? Não temeis estar constantemente a repetir-vos?

Por que faríamos isso? O Bob parece ser um poço sem fundo de riffs miseráveis. Ele também é muito meticuloso na escolha do que se pode manter e o que não pode ser usado. Após nove álbuns, é inevitável que haja partes que são uma reminiscência de trabalhos anteriores, mas isso faz parte do nosso próprio estilo e som. Eu não consigo pensar em nenhuns álbuns de Immolation que sejam iguais.


M.I. - A capa do álbum foi desenhada por Pär Olofsson (Immortal, The Faceless, Abysmal Dawn) e apresenta pessoas que estão amarradas e acorrentadas e têm os olhos e as bocas costuradas. Qual é a mensagem por trás desta imagem? Como é que ele a concebeu... com base na vossa interpretação ou na sua própria interpretação da música e das letras?

A arte presente na capa é muito simbólica. O topo do edifício parece ter holofotes e isso é um símbolo óbvio da fiscalização e vigilância a que estamos sujeitos. O próprio edifício é construído com esses não-indivíduos que simbolizam que estamos a ser usados para criar uma estrutura de poder ao sermos despojado da nossa individualidade e identidade. A costura dos olhos e das bocas das figuras simboliza a nossa falta de vontade ou incapacidade de nos expressarmos ou ajudarmos a nós mesmos. O código de barras estampado na testa representa o facto de estarem a ser catalogados e integrados no sistema e serem vistos como números e estatísticas, em vez de serem vistos como indivíduos com vontades e opiniões próprias. O conceito começou com um esboço do Bob e depois ele e o Par trabalharam e passaram por diferentes etapas até obterem o produto final. Eu acredito que é a capa perfeita para as letras e tema do novo álbum.


M.I. - A capa tem uma sensação orwelliana... sois fãs do trabalho de George Orwell?

"1984" é um livro porreiro e cheio de temas semelhantes, mas acho que a semelhança não passa de uma mera coincidência.


M.I. - Na Decibel Magazine Tour nesta primavera ides andar em tournée com Cannibal Corpse e Napalm Death e depois fareis alguns festivais. Estais entusiasmados?

Estamos muito animados! Estamos ansiosos por tocar o novo material ao vivo. Eu, pessoalmente, tenho esperado por esta tournée desde 2003.



M.I. – Na tua opinião, qual é o álbum que mudou a vossa carreira?


Espero que seja este! (Risos)


M.I. – O álbum "Majesty and Decay" vendeu cerca de 1400 cópias nos Estados Unidos na primeira semana de lançamento e entrou na posição 29 no Top New Artis tAlbums (Heatseekers). Se, há muitos anos atrás, vos tivessem dito que os Immolation iam alcançar tal feito, teriam acreditado?

Não, claro que não. Quando a banda começou, foi para se divertir. Ninguém tinha expectativas elevadas mas temos sido muito felizes e tido muita sorte. 


M.I. - Vigna é considerado um dos mais talentosos guitarristas de death metal e é conhecido pelos seus solos e riffs complexos. Alguma vez ele imaginou que iria alcançar tal estatuto?

Mais uma vez, essas palavras são muito amáveis e agradecemos imenso. O Bob é um tipo muito humilde. Eu acho que ele não tem noção da influência que exerce sobre outros músicos. Ele não é um virtuoso ou um tipo muito técnico, por isso é um grande elogio.


M.I. - Ross Dolan e Robert Vigna são os únicos membros do line-up inicial. Uma vez que tocam juntos há mais de 20 anos... como é o seu relacionamento? É uma relação de amor/ódio?

Diria que é mais amor/amor. Eles são praticamente inseparáveis. Nunca testemunhei um momento desagradável entre eles.



M.I. – Há alguma questão à qual detestas responder? Qual?


Até agora não houve nenhuma, porque isto é uma novidade para mim!


M.I. - Na tua opinião, o que aconteceu para que o metal se tenha tornado mais atraente e aceite na sociedade em geral? São as bandas que produzem melhores álbuns ou foi a mentalidade das pessoas que evoluiu?

Eu acho que o facto de mais bandas tocarem uma mistura de géneros do metal é o principal factor. O Death Metal ainda é muito underground, mas os Linkin Park e os Slipknot são enormes.


M.I. – Os Immolation já cá andam há cerca de 20 anos... ainda não se cansaram? Quanto tempo mais esperam aguentar?

Eu acho que tal só acontecerá quando deixarmos de ter energia. O facto de  termos empregos normais, faz com que a vida da banda seja muito especial. Se só nos dedicássemos a lançar álbuns e andar em tournée, talvez fosse mais cansativo.


M.I. – Os Immolation são o concretizar de um sonho para ti?

Sem dúvida alguma. Sentimo-nos muito afortunados por termos este sucesso e sermos apreciados.


M.I. – Qual é a tua principal fonte de inspiração?

Para mim pessoalmente é o Bruce Lee. Ele prestava atenção ao que era importante e a sua dedicação e ética de trabalho eram inigualáveis.


M.I. – A vossa página oficial é a "Everlastingfire" mas não é actualizada há alguns anos. Por que optaram por esse nome em vez do nome típico da banda? Por que é a página está desactualizada?

Eu nem sabia que ainda existia. (Risos) Eu acho que foi abandonada.


M.I. - Deixa uma mensagem final aos leitores da Metal Imperium, por favor!

Fiquem bem e lembrem-se sempre das coisas mais importantes da vida. Deus é um mito e cabe a nós assumirmos a responsabilidade pela nossa própria existência e as nossas acções. Pensem por vocês mesmos e sejam fortes. Vamos ver-vos em breve. Até lá, esperamos que aproveitem e ouçam “Kingdom Of Conspiracy”. Obrigado a todos e, especialmente a ti, Sónia.


Entrevista por Sónia Fonseca