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Reportagem: Decayed, Irae, Sonneillon BM, Nefastu @ Spot Music Club, Porto - 11-05-2013





Numa noite em que se pretendia fazer uma Ode Ao Caos, avizinhava-se também uma ode ao peculiar. Os Nefastu subiram ao palco desprovidos de baixista e foi com eles que os problemas técnicos, a nível vocal, se começaram a notar. Quando assisti a um concerto deles em 2011 (com Inquisition e Scarificare) até lhes dei o crédito de serem uma banda do underground a ter em conta. Agora, passados sensivelmente dois anos, fizeram-me crer que regrediram quando eu imaginava que até tinham progredido. Numa sala com pouca capacidade para acolher bandas deste género, a qualidade sonora e os já referidos problemas técnicos não ajudaram muito os Nefastu. Continuo a dar um voto de confiança ao trabalhador baterista que parece-me levar a banda às costas em muitos momentos que quebram, de forma positiva, a rotina musical já incutida.




A expectativa pessoal residia nos Sonneillon BM que também subiram ao palco desfalcados de baixista. Quer-me parecer que, mais uma vez por culpa das condições, a banda ficou aquém daquilo que é capaz – ou que, pelo menos, já mostrou ser em estúdio. Com uma ou outra bridge a fazer lembrar Mayhem e com uma passagem, no tema “Unleashing The Grave”, a fazer lembrar Watain, os Sonneillon BM esforçaram-se por dar um bom concerto. Apesar de ter referido que a banda não mostrou, na minha opinião, tudo do que é capaz, lutaram pela concisão sob a batuda do baterista Bellerophon. Acredito que os riffs cortantes e gélidos se fariam sentir noutra sala que não aquela – ou, então, estou a ser exigente demais.



Irae não é novidade para mim e não cansa ouvi-los ou vê-los. De novo, como já se tinha visto ao longo da noite, esta equipa não estava completa – por falta do habitual baixista, Angel-O (que nos habituou a estar na segunda guitarra) foi lançado para o baixo. Com o split “From The Underworld With Hate” (com Decayed e Inquisitor) aí a rebentar, a banda do sul brindou-nos com os temas novos “Queima As Casas de Deus” e “Azazel”. Como já é apanágio dos mestres da ira em Portugal, a técnica aliada ao expressionismo ficou ao cargo de Andrecante (para mim, o baterista mais versátil no panorama black metal nacional). De resto, ouviram-se os temas fortes do costume: “Horns Of Doom”, “A Ira Nasce nas Noites de Sintra” ou “Fátima em Ruínas” – com pena ficou de fora “Order of the Black Goat”. A segunda guitarra em falta iria, por certo, abrilhantar o concerto de uma banda que é um tal desbravar os caminhos insultantes à religião. De longe, a melhor banda de black metal no activo constante em Portugal, tanto em concerto como em composição.


Para finalizar a Ode Ao Caos, tivemos entre nós os Decayed que dispensam apresentações. Andam por aí desde 1991 (Decay em 1990-1991) contra tudo e todos, ao sabor da sua atitude que completa o culto com milhentos EPs, demos, splits, compilações e nove álbuns. E com eles, também uma novidade para a noite que decorria: uma banda completa. Vulturius encarregou-se da voz e de uma das guitarra, enquanto que lá atrás estava Tormentor (dos icónicos alemães Desaster) a debulhar uma bateria que, através da sua mestria, deu a consistência exacta que qualquer banda estava a precisar naquela noite. Com black metal directo que os caracteriza e, diga-se, com melhor qualidade sonora do que as restantes bandas – o que é complicado de obter numa sala má como aquela -, os Decayed debitaram aquilo que melhor sabem: riffs velozes e pesados que abanam a cabeça de qualquer um. Não houve descanso possível.



Por fim, e não me querendo armar em purista true do black metal, acho que a mistura entre futebol e música não convém a ninguém, sobretudo quando se diz que a “Spikes, Leather and Bullets” é para os benfiquistas que foram c’ocaralho – contudo, não provocou mossa, porque estava quase tudo a marimbar-se para o futebol. A última crítica vai para o “iluminado” que se lembrou de chamar ao palco todas as bandas para que os Decayed vociferassem o último tema, “Fuck Your God”. Neste final fica a memória de um circo em palco que em nada enalteceu a conclusão desta Ode Ao Caos.



Texto por Diogo Ferreira
Fotografia por Daniel Lopes
Agradecimentos: Organização