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Entrevista aos Orphaned Land



Os únicos Orphaned Land estão de volta ao ataque com mais um álbum, entitulado “All Is One”,  carregado de mensagens alusivas aos conflitos provocados por motivos religiosos presentes em todo o mundo, mais em particular no seu país, Israel, e arredores. A Metal Imperium esteve à conversa com Chen Balbus que nos elucidou mais sobre este trabalho e o principal objectivo da banda.



M.I. - Os Orphaned Land são bastante originais devido à fusão de metal progressivo, doom metal e death metal com música popular do Médio Oriente e tradições árabes. Como é que surgiu esta mistura criativa?

Quando eu era adolescente só queria tocar numa banda de metal e abalar o mundo, e surgiu a ideia de torná-lo mais original tentando usar mais elementos do que os habituais neste género musical. Como banda no Médio Oriente, imediatamente pensamos na nossa realidade, no mundo em que vivemos e nas nossas experiências pessoais, vivendo guerras em nome de Deus e da religião e do ódio. Nós queríamos mostrar todos os aspectos da nossa realidade através da nossa música, através do conteúdo lírico que não lida com as nossas vidas pessoais mas que aborda as situações gerais que estamos a viver, através da forma como compomos a nossa música. Nós combinamos as nossas raízes com a nossa música recorrendo ao uso de citações e orações da Bíblia, do Alcorão e aos instrumentos tradicionais, como bouzouki, Saz (Baglama), Oud e muitos mais instrumentos étnicos.


M.I. - Cada álbum dos Orphaned Land tem um conceito relacionado a dois extremos: o encontro do Oriente e do Ocidente, o passado e o presente, a luz e as trevas, Deus e Satanás. Como é que esses extremos funcionam juntos? Em quantos álbuns mais ireis explorar estas questões?

Esses temas fazem parte das nossas vidas quotidianas e são inseparáveis da nossa música. A ideia de usarmos os extremos e juntá-los é para criar um impacto muito forte em todos os que ouvirão a nossa música... assim imediatamente compreenderão a nossa mensagem e as ideias que queremos partilhar e divulgar. Entendemos que temos um poder forte que nos pode unir. Esse poder é a música que nos mostrou que mesmo aqueles que foram feitos para ser "inimigos" podem cantar connosco como irmãos e ver que há sempre dois lados para cada questão. Nós tentamos sempre mostrar o nosso ponto de vista e ainda mais neste último álbum "All Is One” em que pretendemos mostrar que somos todos iguais e não há necessidade de guerras em nome de nada.


M.I. - Os Orphaned Land abraçaram as suas raízes e muitas vezes recorreram à voz feminina de Shlomit Levy para encantar e valorizar a música adicionando-lhe referências dos países orientais. No entanto, usam principalmente a língua inglesa... isso é uma maneira de fazer a mensagem alcançar um público mais amplo? Por que é isso é tão importante para a banda?

O inglês é provavelmente a língua mais usada em todo o mundo. O idioma inglês é usado nas nossas músicas, porque é uma língua em que qualquer pessoa pode facilmente compreender a nossa mensagem. Não utilizamos o hebraico, árabe e latim na nossa música para podermos criar diversidade e singularidade.Quando estás num país estrangeiro e, de repente, ouves a tua língua materna, ficas imediatamente com aquela sensação de que estás em casa. É importante porque as pessoas de todos os países do Médio Oriente, de repente, ouvem uma parte da sua língua materna numa música que eles gostam - é mais fácil para eles associarem-se e perceberem a ideia e a mensagem.


M.I. - A capa do novo álbum e o título "All is One" são bastante elucidativos. Ironicamente, todo o álbum lida com o facto de as pessoas não conseguirem ver que tudo é um. Por que sentis essa necessidade constante de relacionar todas as religiões?

Um dia, nos inícios dos 'Orphaned Land', um fã do Egipto enviou-nos uma foto de uma tatuagem de 'Orphaned Land' que ele tinha feito, explicando como se sentia ligado à música e à mensagem que transmitimos. Ele disse-nos que o nosso estilo musical é proibido no seu país. Isso deu-nos o desejo e fez-nos perceber a responsabilidade e o poder da nossa música que pretende unir os que são 'inimigos' desde os dias da bíblia, que lutam uns contra os outros desde sempre quando nem todos querem guerras e derramamento de sangue. Fomos iluminados para ver que a nossa música pode unir pessoas ainda mais do que qualquer político já fez em toda a sua carreira. Nós sentimos a nossa responsabilidade de mostrar ao mundo que não é só ódio entre religiões, a religião não nos chamou para lutarmos uns contra os outros em nome de Deus... somos todos iguais.


M.I. - As músicas que já estão disponíveis estão a ser muito bem aceites. Estais muito ansiosos com o lançamento do álbum? Costumais ficar nervosos?

Sim, até agora os comentários têm sido incríveis, estamos muito contentes! Estamos ansiosos que o álbum seja lançado. "All Is One 'é definitivamente o nosso melhor álbum de sempre. Temos muita fé na música e no conteúdo do álbum. Os verdadeiros fãs de Orphaned Land vão abraçar este álbum calorosamente, sem o considerar menos metal, por não ter vocais guturais ou algo assim. Nenhum dos álbuns de Orphaned Land soa igual. Cada um segue  um determinado caminho e eu tenho certeza que  "All Is One” nos vai abrir muitas portas.



M.I. - Uma das músicas mais tristes que existe no novo álbum é "Children", que fala sobre as crianças que estão a sofrer em zonas de guerra. O que sentis por estas crianças inocentes que sofrem por causa da estupidez dos adultos e da religião em muitas partes do mundo?


Estamos com o coração partido porque as crianças têm que “crescer” rapidamente devido às guerras, ao derramamento de sangue, aos massacres... tudo isto em nome de deus, da religião, de escolhas políticas.  Os média fazem-nos lavagem cerebral e depois nasce o ódio de ambos os lados, porque os média não mostram as partes boas que cada lado tem. Esperamos que um dia as pessoas percebam que é importante construir um futuro melhor para as crianças crescerem... elas são o nosso futuro e não deviam ser forçadas a lutar para sobreviver.


M.I. - Qual a história por trás do tema "Brother"?

"Brother" conta a história de Isaac e Ismael... tanto judeus como muçulmanos têm versões diferentes da história de Abraão, de quem ele levou para a montanha. Os judeus acreditam que Abraão levou Isaac e os muçulmanos acreditam que levou Ismael para a montanha. Em “Brother” agarramos na história bíblica e abordamo-la de uma maneira que demonstra que eles são irmãos e não importa quem foi levado para a montanha. 


M.I. - Os Orphaned Land em breve estarão extremamente ocupados com a tournée para promover este novo opus. As tournées são uma óptima maneira de promover os vossos trabalhos. Sabendo que sois uma banda tão única e diferente das outras bandas de metal, é complicado encontrar bandas para fazer parte do mesmo cartaz ou acreditam que o público prefere a diversidade?

Andar em tournée é definitivamente importante para espalhar a nossa mensagem pelo mundo. Todas as experiências na estrada permitem-nos ver os factos de outra perspectiva e vamos a lugares e situações que nunca imaginamos... por exemplo, os Orphaned Land receberam quatro prémios de paz da Turquia. Na estrada vamos para o desconhecido e encontramos inúmeras e fascinantes pessoas que apoiam a nossa causa. É sempre preferível tocar com bandas que partilham os mesmos interesses ou género musical porque ajuda a tornar a mensagem mais forte. Mas estamos sempre de mente aberta para todas as oportunidades que surgem.


M.I. -  Porque é que uma das t-shirts de Orphaned Land diz: "Nós somos os terroristas da luz"? Usais a vossa "fama" para alertar as pessoas sobre os problemas da vossa região, a morte de crianças inocentes... a vossa voz tem ajudado muitas pessoas até agora? Acreditais que a música tem o poder de curar e unir inimigos de sangue?

Essa é uma frase extraída da letra de 'Codeword; Uprising' do álbum "The Never Ending Way Of ORwarriOR", porque nós queremos espalhar a luz, o bom em tudo. Se não mostrarmos às pessoas a luz entre todas estas guerras e escuridão, quem o fará? Nós acreditamos que é nossa responsabilidade mostrar a todos que somos guerreiros da Luz e que precisamos de lutar por um mundo melhor, um futuro melhor, sem guerras e ódio entre as pessoas. Até ao momento, parece que a nossa mensagem se está a espalhar cada vez mais, unindo pessoas e fazendo com que tenhamos inúmeros fãs em países árabes que supostamente nos odeiam e nos consideram 'inimigos', de acordo com os políticos e os meios de comunicação. A música é o poder mais forte que pode unir-nos a todos - nós acreditamos profundamente nisso. A Música é a nossa religião.


M.I. -  O Kobi disse uma vez que julga as pessoas olhando-as no coração. Esta é mesmo a melhor maneira de o fazer?

Eu acredito que é mesmo a única maneira para que este mundo seja um lugar melhor. Não se deve julgar alguém por causa da sua religião, de onde vem, da sua aparência... só se deve julgar uma pessoa pela pessoa que é e pelo que representa.'The enemies now turned to brother' extraído da letra de 'Let The Truce Be known' mostra exactamente o que queremos que as pessoas vejam. Embora esses dois soldados tenham sido enviados para lutarem um contra o outro como inimigos - eles descobriram as semelhanças entre eles e são irmãos.


M.I. - Em 2012, houve uma petição online para os Orphaned Land serem premiados com um Prémio Nobel por causa do vosso compromisso de permitir que o mundo árabe possa ouvir a vossa música apesar das proibições dos países dessa zona. Quão importante foi ver que as pessoas realmente prestam atenção e valorizam o que a banda faz?

Para nós foi um momento marcante na história dos Orphaned Land, pois verificamos que os fãs apoiam seriamente as nossas ideias e a nossa mensagem e isso aqueceu os nossos corações. Para nós, a coisa mais importante é partilhar e espalhar esta mensagem, tanto quanto possível, para que as pessoas vejam que, neste mundo, não precisamos de viver em guerras, ódios e restrições por causa das nossas religiões ou da nossa região. As pessoas devem ver que 'All Is One'.



M.I. - As guerras religiosas e problemas políticos afectaram a banda? Isso reflecte-se nas letras? Já receberam ameaças de morte?


Somos afectados por tudo que esteja relacionado com a realidade no Médio Oriente e tal está reflectido nas letras desde 'Sahara' até hoje. Em "All Is One ' as letras lidam directamente com o simples facto de que "Tudo é Um". Nós nunca recebemos qualquer ameaça às nossas vidas. A nossa mensagem é espalhada e as pessoas aceitam-na calorosamente e apoiam-nos.


M.I. - Se pudesses pedir um desejo, apenas um... qual seria e porquê?

Desejamos que as pessoas compreendam que, independentemente, de onde somos, o que as nossas crenças são, devemos ter respeito mútuo e vontade de viver em paz, porque no final "All Is One '. Somos todos iguais, vamos construir um futuro melhor para nossas crianças.


M.I. - Obrigado pelo vosso tempo! Por favor, deixem uma mensagem aos fãs portugueses que estão ansiosos para vos verem ao vivo em Outubro!

Obrigado! Esperamos ver-vos a todos em breve e apresentar a nossa mensagem. Lembrem-se que 'All Is One'!