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Midday Veil - "The Current" Review


E se o psiquedelismo dos anos sessenta e setenta se fundissem com um certo espírito pop dos anos oitenta e o feeling alternativo dos noventa? Será que teríamos música para o novo milénio ou apenas um reaproveitar requentado de comida estragada? Sem dúvida que a faixa título que abre este álbum aponta para a primeira hipótese. O ritmo de baixo sugere o funk dos anos setenta ou o dub dos noventa, criando um efeito hipnótico que se instala de forma teimosa e implacável e não vale a pena lutar contra ela. Com um trabalho de sintetizadores a lembrar os primórdios dos anos oitenta, e vocalizações que nos trazem aquilo que a música pop actualmente deveria trazer e não traz.

Provavelmente os mais conservadores estão a ficar assustados pela quantidade de vezes é empregado o termo pop. Será apenas para situar o leitor num momento no tempo em que havia música com valor a passar nas rádios. Em que no meio de uma música descartável, havia pelo menos duas com conteúdo e que suportaram bem o teste do tempo. Tal como este álbum. Instrumentalmente soberbo - basta ouvir o trabalho de bateria, com destaque na "Choreia" - e em termos de composição, do melhor que a música progressiva poderia apresentar. Além de ficarem assustados, os leitores, provavelmente estão confusos. Progressivo, pop, dub, música electrónica, psicadélica, alternativa. Tudo isto junto e mesmo assim fica-se longe. Um álbum para viajar, para ouvir no carro e conduzir, apenas dando conta onde se está pouco mais de quarenta minutos depois. Um álbum para viajar sem o corpo se mexer. Um álbum para a mente sair do corpo.

Os Midday Veil são oriundos de Seattle, criados em 2008 pela vocalista e compositora Emily Pothast e pelo teclista David Golightly, tendo-se juntado o multi-instrumentalista Timm Mason, baixista Jayson Kochan e o baterista Garrett Moore, além do percussionista Sam Yoder, e têm aqui a sua obra-prima, este que é o seu segundo álbum (se não contarmos com o álbum fruto de um improviso, edição limitada de duzentas unidades em cassete). Ideal para banda sonora de filme apocalíptico. Intenso, viajante. Surpreendente. Este será sem dúvida um dos álbuns do ano da música alternativa. Incansável, imbatível, ritualista, hipnótico, viajanta, transcendental, libertador. Toda a música deveria ser assim.
 
Nota: 9.5/10

Review por Fernando Ferreira