A estrada que trouxe até mim este trabalho de Via Sacra foi sinuosa, mas não serão as curvas, montes e vales que habitualmente tornam uma viagem agradável aos sentidos e que nos deixam as memórias a que prazenteiramente recorremos ao longo das nossas restantes aventuras? Gosto de acreditar que sim!
Confesso aqui a minha inicial confusão com o nome desta banda, talvez devido a qualquer sugestão do subconsciente que continuamente me impeliu para os Arte Sacra, banda da Amadora, deixando em câmara ardente a Via Sacra em questão, aqueles que assinam este disco, “The Road”, um lançamento em edição de autor, que em pouco ou nada deve a semelhantes entregas por outros colectivos que se entregam às mesmas sonoridades destes famalicenses.
Este quarteto coloca a sua música em redor de um género que pretende oscilar entre as diversas variações do rock-gótico e, ainda que não esteja totalmente de acordo com esta rotulagem, consigo compreender como é que um tema como ‘No Lies’ se encaixa nesse universo, com o seu ambiente muito bem sublinhado numa cadência segura e com os seus arranjos vocais a tornarem esta uma das músicas com mais potencial neste álbum! No entanto, sinto uma natural resistência em procurar abrigo debaixo da sombra gótica quando muitos dos momentos deste disco se encontram confortavelmente no calor do rock mais pesado, roçando ombros e partilhando genes com algum heavy metal de inspiração americana!
Se é verdade que podemos encontrar momentos de uma calma consagrada, graças a um enquadramento melódico suportado pela inclusão de algumas partes de teclas, como declaradamente acontece no caso da balada ‘Never Come Back Home’, o grande fio condutor deste disco são mesmo as músicas mais dinâmicas e musculadas onde, ocasionalmente, vamos encontrando momentos que nos fazem lembrar os dias de glória de Blackie Lawless (ouçam o refrão de ‘Black Angel’, por exemplo), fruto da semelhança de alguns tons, entre a voz de Lázaro e a do líder de WASP! Coincidências felizes a condimentar esta ementa variada!
Em retrospectiva, ficamos com a ideia de que continuam a existir bandas a produzir música de qualidade neste pequeno país que, eternamente, satura os meios com os dinossauros de sempre e os seus acólitos reverentes! Este disco é prova de que existem bandas que, acreditando no valor do seu trabalho, arriscam um trabalho pessoal e com recurso aos seus próprios fundos e vias de promoção, sem contar com garantias ou retornos de moderado sucesso! “The Road” poderá não ser um disco perfeito e, obviamente, não está livre das suas falhas, mas o que lhe é capaz de valer, a ele e aos Via Sacra, são os bons temas que ali se podem encontrar, sinónimo também de um grupo de músicos que sabe explorar e construir, colher e devolver!
Seja através do orelhudo ‘No Lies’, do rockeiro ‘Baby, Baby’ ou dos agradáveis mergulhos proporcionados por ‘Black Angel’, ‘Souls Of Fire’ ou ‘Jimmy’s Life’, podemos estar certos de que muito do material aqui gravado pelos Via Sacra tem qualidade mais que necessária para ficarmos atentos ao futuro editorial desta banda!
Nota: 8/10
Review por Rui Marujo
