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Sepultura - "The Mediator Between The Head And The Hands Must Be The Heart" Review


Muita tinta correu já sobre os Sepultura, os Soulfly e os Cavalera e a cada álbum lançado, seja por qualquer uma das entidades, há sempre falatório. Com os Soulfly e os Sepultura na mesma editora a lançar álbuns mais ou menos na mesma altura, tivemos direito (não que quisessemos realmente) a mais uns torpedos lançados de um lado para o outro ficando a impressão de que não poderá acontecer o que aconteceu com os Megadeth (ou Dave Mustaine) e os Metallica, uma paz suportável e uma cortesia entre os dois lados que permitissem que estivessem no mesmo palco e tudo. Um cenário que seria o sonho molhado de muitos fãs mas que está completamente afastado. Há opiniões formadas que por muito que qualquer uma das partes faça não se vão alterar.

Analisemos as coisas de forma fria e objectiva. Os Sepultura desde que Max saiu não têm nada a ver com o seu passado, embora existam elementos que estão presentes, assim como que os próprios Soulfly não têm nada a ver com o que os Sepultura, embora tenham a presença de Max e o seu carisma. São duas entidades algo semelhantes em certos aspectos mas completamente diferentes na sua abordagem à sua música, não querendo julgar se uma é superior à outra, porque vamos parar sempre à questão do gosto pessoal, onde tudo se justifica exactamente por ser isso mesmo, gosto pessoal. Factos então: "Kairos" foi um bom álbum. Esquece-se o nome de Sepultura na capa e as expectativas de um regresso ao passado tipo São Sebastião e apreciando o álbum por aquilo que é... é um bom disco, com as suas falhas e limitações, mas um bom disco. É essa a expectativa que se deve ter em mente para este álbum, cujo título é grande demais. Enorme! Para suicídio comercial, mais valia ser em português.

Inspirado no filme "Metropolis" de 1927 - a frase é dita no filme - há, à primeira vista, uma preocupação. A tendência para os Sepultura, desde a mudança de vocalista, fazerem álbuns com conceitos grandiosos cujo principal interesse reside exactamente no conceito e não na música em si (caso de "Nation", "Dante" e "A-Lex"). Com um início fulgurante em "Trauma Of War" e uma "The Vatican" a demonstrar virtuosismo, arranjos de qualidade e grandes pormenores técnicos (a bateria está uma coisa do outro mundo, com Eloy Casagrande a injectar novo sangue na banda e a fazer-se notar) faz com que se olhe para este disco com uns ouvidos diferentes. Não é o regresso ao passado e esqueçamos de uma vez por todas isso mesmo. Nem os Soulfly, nem os Sepultura, nem os Cavalera Conspiracy, nem todos juntos seriam capazes de fazer isso, porque o passado já lá vai e com ele a sua magia, quase impossível de recriar (só não digo impossível porque o regresso dos Carcass foi o que foi).

Não é um regresso ao passado dos Sepultura mas é o regresso dos Sepultura, uma banda com valores bem mais técnicos do que aqueles que demonstra e que aqui finalmente se sente que vão até ao fundo das suas capacidades, com Andreas Kisser a ser virtuoso como ele tem capacidades para ser - e não apenas apontamentos escondidos no meio de faixas que supostamente tenta agradar a moda do low-tuned e colocar umas coisas de world music a martelo porque faz parte da identidade da banda, tal como o turbo-boost do "Knight Rider", é aquilo que o povo quer, mesmo que não exista muita justificação para isso. Justificação que até existe aqui e faz com que esses apontamentos se entranhem muito bem na identidade do disco, aliás, como aconteceu no álbum anterior. Até a cover "Da Lama Ao Caos", de Chico Science, cantada pelo próprio Andreas Kisser soa bem.

É um álbum que não vai mudar a opinião daqueles que dizem, pensam e sentem que os Sepultura estão mortos e de certa forma, até estão. ESSES Sepultura estão mortos, mas ESTES estão bem vivos e criativamente válidos. Claro que um segundo guitarrista poderia ainda ajudar mais a isto, se fosse um guitarrista criativo e disposto a injectar mais sangue novo - o que também ajudaria e muito em cima do palco - mas até agora, com o que se tem, o saldo é bastante positivo. Fazendo uma comparação que não devia ser feita, no entanto bem apetecível, apenas para colocar em perspectiva, este "The Mediator Between The Head And The Hands Must Be The Heart" é superior a "Savages" como álbum, independentemente das suas limitações.

 
Nota: 8/10

Review por Fernando Ferreira