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Indian - "From All Purity" Review


Apesar de serem classificados como sludge/doom metal, é evidente pelos primeiros segundos de "Rape", o tema que abre este "From All Purity", quinto álbum da banda norte-americana, que o noise é sem dúvida um ingrediente de peso na receita sónica do grupo. Entrando a matar, estabelecendo logo um ambiente desagradável e claustrofóbico que em pouco tempo se revela inabitável, não há aqui enganos, segundas intenções. Fica logo tudo bastante claro para aqueles incautos que se predispõem a ouvir música de forma leviana. "Rape" vai transformando o seu sufoco, diluindo-o em andamento doom, hipnótico. Só não é mais hipnótico devido aos gritos desesperados de Dylan O'Toole ou Will Lindsay (é impossível perceber qual dos dois se trata, se não forem mesmo os dois a gritar).

"The Impetus Bleeds" é um manifesto de doom paquidérmico, mais tradicional, se é que se pode chamar tradicional a qualquer coisa que esta banda faz, enquanto "Directional" apresenta-nos a mesma velocidade mas com uma camada de ruído que funciona muito bem para aquilo que os Indian gostam de provocar no ouvinte. Desconforto. Muito desconforto. Espalhado num loop em crescendo. Mais uma vez, a voz é um dos elementos chave para atingir este ponto. Por outro lado, "Rhetoric Of No" aumenta a cadência ritmica (pelo menos no início) mas não diminui em nada o efeito hipnótico que se ouviu anteriormente, indo culminar no seu final num festim de distorção e ruído.

"Clarify" é talvez a faixa mais surpreendente - ou talvez não, depende sempre das expectativas do ouvinte e do seu conhecimento do trabalho dos Indian - com quase cinco minutos de puro noise. Daquele irritante que entra pelos ouvidos a dentro. Uma faixa estranha e experimental - perfeitamente normal e bem conseguida para quem aprecia o noise, só para pôr em perspectiva - que fica um pouco a boiar no meio das outras cinco faixas. "Disambiguation" compensa um pouco a faixa anterior, revelando-se a forma ideal para acabar "From All Purity", com uma melodia melancólica a comandar os riffs que caem como bate-estacas, em oito minutos que passam sem se dar conta. Não é um álbum perfeito, mas sem dúvida corajoso, por parte de uma banda que não tem medo de experimentar. Para ser perfeito, só teria que ser composto por faixas que tenham o mesmo efeito que a "Disambiguation" tem. Assim, sim.


Nota: 7.5/10

Review por Fernando Ferreira