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Reportagem: Amenra, Treha Sektori, Oathbreaker, Hessian @ Hard Club, Porto - 17-04-2014


Dia 17 por volta das 20:00, a sala 2 do Hard Club serviu de templo para acolher os peregrinos devotos da Church of Ra, para um concerto intimista reservado apenas aos escolhidos, que certamente não esquecerão o rol de sensações que foram vividos/ revividos dentro daquelas 4 paredes. O muito aguardado regresso dos Amenra à invicta para mais uma purga espiritual, desta vez acompanhados dos seus discípulos Hessian, Oathbreaker e Treha Sektori, que se estreavam em solo nacional com o objectivo de evangelizarem todos aqueles que ainda não tinham escutado a sua palavra, constitui assim esta via-sacra.

A primeira oração coube aos Hessian, cujo concerto teve início pouco tempo depois da hora marcada às 20:30. O grupo belga prega uma sonoridade ao estilo de Entombed e Trap Them, assinando uma prestação curta e dura, podendo-se usar aqui como analogia a capa do seu disco de estreia lançado o ano passado pela Southern Lord, “Manégarmr”, que tal como uma praga de gafanhotos, devoraram vorazmente tudo à sua passagem durante os pouco mais de 20 minutos do seu concerto. Nem mesmo a falha do microfone do vocalista Bram Coussement fez com que a intensidade diminuísse, com destaque para malhões como “Mourn the World of Man” e a colossal “Mother of Light”.

Quem viu a tímida e aparentemente inofensiva vocalista dos Oathbreaker, Caro Tanghe, a beber o seu cházinho na bancada de merch do alto do seu ar angelical, esperava tudo menos o que se passou durante os 45 minutos da sua actuação. Mal a calmaria de (Beeltenis) acaba e dá lugar à fúria de “No Rest for the Weary”, o anjo transforma-se em demónio, e com toda a garra e intensidade vocifera a negra poesia das suas mais recentes escrituras que constituem, “Eros|Anteros”, no qual se focou praticamente todo o set. A banda consegue misturar de forma inteligente o contraste entre o hardcore metálico com momentos de beleza atmosférica e shoe-gaze, tendo gerado as primeiras movimentações por parte do público ao som de temas como “Upheaval” e “As I Look Into the Abyss”. A versatilidade da voz de Caro Tanghe pôde ser testemunhada em “The Abyss Looks Into Me” e “Agartha”, passando de “bela” a “monstro” com facilidade. Terminaram da melhor forma com “Glimpse of the Unseen” do disco de estreia, “Maelstrom”, editado em 2011, conseguindo evangelizar muitas das almas presentes que aplaudiram em apoteose.


“We’re not born with masks, we’re born with the knowledge of death.”, foi com esta passagem que a negra entidade Treha Sektori formada pelo artista francês Dehn Sora, iniciou o seu ritual de dark ambient. Praticando uma sonoridade muito diferente da dos seus companheiros de culto, talvez para muitos algo deslocado do cartaz, mas não ao que à atmosfera criada toca. Servindo como uma espécie de “prequela” para o concerto de Amenra, as suas taciturnas manipulações sonoras conjugadas com as mórbidas projecções, proporcionaram uma desconcertante longa viajem pelas turvas águas do rio Styx, onde os minutos pareceram dias, tornando difícil o regresso das profundezas abíssicas evocadas pela sua música.


Da escuridão de Treha Sektori emergimos para a “luz” de Ra,“The Pain. It Is Shapeless.”, marcou assim a segunda aparição de Amenra  segundo as profecias.  Seguiu-se “Razoreater”, a pacífica atmosfera de “A Mon Âme” onde mais uma vez o microfone teimou em falhar, dando depois lugar à entoada ritualista de “Boden” que culmina no peso megalítico dos riffs sludge bem característicos do dogma estabelecido na composição dos temas do grupo. Após o instrumental “Terziele”, foi feita a “Nowena 9.10” a todos os irmãos presentes nesta celebração onde só faltou a singularidade da voz de Scott Kelly, aqui substituído pelo baixista Levy Seynaeve. A performance do vocalista Colin H. Van Eeckhout manteve-se imaculada, feita de honestidade, entrega, sangue, suor e lágrimas, igual a si próprio, arrastando a sua cruz em “Am Kreuz” como que um Cristo até Gólgota. O sufoco de “Silver Needle. Golden Nail” é nos berrado na cara, ganhando a dor um rosto, pois a carne no final de tudo, é fraca.  


Texto por Rúben Pinho
Fotografias por Miguel Oliveira
Agradecimentos: Amplificasom