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Within Temptation - "Hydra" Review


Se é verdade que foi nos anos 90 que surgiu o metal com vozes femininas, especialmente pela mão dos The Gathering, Theatre of Tragedy e The 3rd and the Mortal, também não é menos verdade que foi no início do século XXI que este género teve o seu grande boost, para o qual muito contribuíram os Nightwish, Lacuna Coil e, claro está, os Within Temptation.

Três nomes que abriram a caixa de pandora para que, todos os anos, novas bandas venham inundar o género, a maioria deles enveredando pelo lado mais sinfónico e delicado do metal. Tendo isso em mente, desde "The Heart of Everything" que os Within Temptation decidiram procurar por outros caminhos... e em boa hora o fizeram. Ao verem-se livre dos clichês sinfónicos abriram alas a novos processos de criatividade, trazendo para a sua música outros elementos, menos comuns neste género, cuja apreciação tem sido amplamente discutida.

Posto isto, "Hydra" apresenta-se desde já como o disco mais diverso que Sharon, Robert e companhia alguma vez criaram. Para além disso, fica a ideia de que esta colecção de temas parece ter bastante mais substância do que os dos discos anteriores. Em "Hydra" ouvimos desde o regresso do pedal duplo e das vozes grunhidas, passando pelo rap (ainda mais descarado que a brincadeira com o Keith Caputo), e até mesmo temas do mais pop que alguma vez fizeram, tudo isto embelezado pela voz habitual, capaz de tornar um composição de riff e meio numa obra-prima.

"Hydra" é também palco de alguns convidados de renome, a começar por Tarja Turunen em Paradise, o single de avanço. Um dueto que já há muito que se esperava, é verdade, mas que nem por isso salva esta incursão de pop rock, de se apresentar como o tema menos conseguido do disco, mas nem por isso desinteressante. Mantendo a mesma toada, "The Whole World is Watching", com Dave Pirner dos Soul Asylum (quem ainda se lembra deles?), quase que nos lembra "Nobody Wants to Be Lonely" de Cristina Aguilera e Ricky Martin… mas em bom. No extremo oposto temos "Dangerous", com a participação de Howard Jones (ex-vocalista dos Killswitch Engage) que, como seria de esperar, se revela um tema bem mais enérgico e pesado, e que conta com um trabalho de guitarras que, decididamente, não estamos habituados a ouvir em Within Temptation.

Mas se há algum momento que poderá gerar alguma polémica em "Hydra", esse é, sem dúvida, "And We Run", que conta com o rapper Xzibit. Os picos de intensidade musical aqui contidos são simplesmente incríveis, e a voz de Xzbit, ao contrário do que se poderia esperar, contribui ainda mais para acentuar o contraste entre as partes mais atmosféricas, com as mais enérgicas. Goste-se ou não, "And We Run" é sem dúvida diferente de tudo o que a banda fez até então e aplaude-se a ousadia.

Mas muito mais haveria para dizer de "Hydra", afinal, o que seria um disco de WT sem um excelente tema forte a abrir as hostilidades como "Let Us Burn", com um refrão que promete ficar na cabeça por uns bons tempos, uma balada arrepiante como "Edge of The World", ou a delicadeza de "Dog Days"?   

"Hydra", mais do que a confirmação de um novo rumo da banda, irá servir também para reforçar a força do colectivo ao vivo, tornando-os menos dependentes de faixas gravadas, e sim numa verdadeira banda de rock, hoje em dia numa forma assinalável e com Sharon den Adel cada vez mais perfeita.

Para já, um dos grandes discos de 2014.

Nota: 9/10

Review por António Salazar Antunes