About Me

Reportagem: XVII SWR Barroselas Metalfest @ Barroselas - Dia 1



Diz o ditado popular que “todos os caminhos vão dar a Roma”, mas pelo menos uma vez por ano a cidade eterna é substituída por Barroselas, pequena vila minhota que há 17 anos recebe bem uma mancha negra de cabeludos, que se deslocam ao SWR para viver dias de contornos muito próprios. Um festival que já faz parte das nossas vidas e que, no final de cada Abril, é paragem obrigatória no roteiro de qualquer metalhead. O frio e a chuva (embora não como se antecipava) não pagaram bilhete mas marcaram presença. Nada que não tenha sido relativizado a partir de determinada hora e sempre na companhia de música e ambiente ao mais alto nível. No chamado “Dia 0”, a habitual Metal Battle premiou os Revolution Within como banda da noite, tendo assim a fantástica oportunidade de tocar num dos maiores festivais da Europa e do Mundo, o Wacken Open Air. Mas foi no primeiro dia oficial que a grande franja de público chegou. Enquanto muitos ainda se instalavam no acampamento, lá dentro iniciava-se a XVII edição do Steel Warriors Rebellion, repleta de surpresas.

Dia 1

Aos Eternal Storm coube a tarefa de fazer cair o pano do palco 1. Inicialmente previstos para abrir o segundo palco, o cancelamento dos nacionais We Are The Damned obrigou a esta pequena alteração e a algum atraso na abertura das portas, para a partir daqui tudo acontecer conforme anunciado. Ainda com público em número reduzidíssimo e com um som muito embrulhado (felizmente a qualidade foi boa a partir deste primeiro concerto), os espanhóis trouxeram na bagagem um Death Metal melódico sem surpreender particularmente. A banda foi competente, fez o seu trabalho, mas passou praticamente despercebida.

Os Eryn Non Dae começaram então a elevar a fasquia. O palco 2 estava, agora sim, aberto e ocupado por uma surpresa vinda de França. Com as devidas distâncias, o som dos END lembrou-me, aqui e ali, os seus conterrâneos Gojira, com peso e ambiências bem envolvidos e harmoniosos. O público, que começava a aparecer, apreciou a onda da banda. Com certeza resgataram para si novos fãs.



A técnica dos Nami foi o que mais saltou à vista, por ventura uma técnica exagerada. Bons temas definitivamente, boas ambiências criadas com o seu metal progressivo, ora mais ligeiro e ambiental ora mais pesado com a introdução de vozes mais graves. A banda de Andorra, que coleccionou bastantes elogios aquando do lançamento de estreia «Fragile Alignments», surge agora com «The Eternal Light of the Unconscious Mind” a dar seguimento às boas críticas e a protagonizar um concerto bem razoável numa altura ainda precoce do programa. Os motores começavam a aquecer.

A primeira banda nacional a actuar nesta edição chamou-se In Tha Umbra. São, sem margem para dúvidas, um dos nomes mais respeitados da nossa praça, com músicos de qualidade, com ideias e competência para as colocar em prática. O Death/Black de contornos progressivos, deixava antever um excelente concerto, como já nos habituaram, mas infelizmente o som teve alguns problemas que condicionaram a actuação da banda algarvia. Um som algo confuso, mas a banda fez por não deslustrar e representar bem o que de bom se faz em Portugal. 


De volta ao palco de maiores dimensões, o Black Metal atmosférico pincelado com folk e ambiências vinda de um qualquer recanto dos Negura Bunget marcou uma viragem neste dia. A tenda preencheu-se melhor perante os versáteis romenos que, com a sua panóplica de instrumentos e presença convincente em palco, cativaram facilmente os fãs. Nas primeiras filas era possível perceber a harmonia entre todas as partes, harmonia essa que atingiu o seu pico aquando de “Dacia Hiperboreana” um tema absolutamente mágico e que colocou um fim nesta viagem pelas margens do Mar Negro. Apesar das profundas mudanças no line-up, Negru e companhia já criaram a harmonia certa e surgiram em Barroselas com uma solidez assinalável e tudo no sítio certo.

Um dos grandes concertos do dia e, é justo afirmar, de todo o festival, foi o dos Sourvein. De frente para uma “sala 2” cheia, os americanos estrearam-se finalmente em Portugal e estiveram perto de deitar a barraca abaixo. Ao som sujo e pesadão de uns graves do tamanho do mundo, as cabeças rolaram com a intensidade que a banda de T-Roy aplicava em cada momento da sua música. Um bloco de som extremamente sólido; um concerto de sludge que cumpriu com as expectativas criadas e que assume um lugar cimeiro na lista dos melhores, e que seria bem escoltado pouco depois.


Os experientes Gorguts eram outro dos nomes mais aguardados desta edição. Os canadianos deram especial enfâse à sua fase mais experimental e obscura, particularmente ao mais recente «Colored Saints» e não tanto ao Death Metal puro dos seus primórdios. O que fazem, fazem com excelência, são de uma qualidade técnica incrível, mas pareceu-me que tantos foram aqueles que adoraram a genialidade de Luc Lemay e seus pares, como os que preferiam que a banda visitasse mais o «Considered Dead» de 1991. Não obstante, foi com certeza um dos melhores concertos do ano, colocando a cereja no topo do bolo ao terminarem com “Obscura”.

Escrevi há pouco que a brutal parede som dos Sourvein teria justos seguidores pouco depois. Pois bem, os Graves At Sea tomaram de assalto o palco e, nessa linha de continuidade, levaram-nos novamente até ao fundo do poço, através da voz afundada em riffs sujos e agonizantes de Nathan Misterek. É certo que a dinâmica não foi exactamente a mesma, mas quem termina um concerto com “Lord of This World”, de Black Sabbath, e o monstro “Pariah” do seu split de 2005 com Asunder, tem de ficar na memória de quem viu e ouviu.


Os Misery Index fechavam o programa de festas nos palcos principais. Tinha a sensação que a turma de Baltimore, que conta com cinco álbuns de originais, a contar desde 2003, era muito apreciada no nosso país, e capitalizaram isso mesmo com um concerto bem vivo de Death/Grind, conseguindo aliar o peso bruto do seu som à melodia de riffs bem sacados. Uma roda intensa esteve sempre presente, com a banda visivelmente satisfeita por obter esse sinal de aprovação. 

Texto por Carlos Fonte
Fotografias por Marta Rebelo gentilmente cedidas pelo Tympanum
Agradecimentos: SWR Inc.