About Me

Entrevista aos Darkthrone


Fenriz é um nome incontornável quando se está a falar de nomes marcantes da cena underground. O aclamado baterista dos Darkthrone teve uma animada conversa com a Metal Imperium.


M.I. – O que pensas do pessoal que cria perfis falsos no facebook a fingir que és tu? Porque é tão cool ser o Fenriz?

Isto acontece com a maior parte das “celebridades” e é mesmo doentio. No Dia da Nação, fui ver o desfile da banda infantil na cidade (mudei-me de novo para Kolbotn que é a minha cidade natal e a dos Darkthrone) e encontrei uma miúda que costumava tomar conta de mim e do meu irmão quando éramos pequenos. Perguntei-lhe como é que ela me tinha reconhecido e ela respondeu que me viu na televisão muitas vezes e que éramos amigos no facebook. Disse-lhe que não tenho facebook e ela ficou assustada. Estou habituado a esta situação e tento que as pessoas percebam que não sou eu mas há quem pense que sou. Já lidei com cenas doentias ao longo da vida mas a mais doentia delas todas é haver pessoal que se faz passar por mim e que engana toda a gente. Tal chama-se roubo de identidade e é ilegal. Há pessoal que sempre me tentou f*der o juízo desde o início da minha carreira, mas eu já ganhei calo e não me deixo afectar. O que me deixa chateado é que mesmo que o facebook elimine estes perfis falsos, aparecem logo outros a seguir. Uma coisa que me falta nesta vida é TEMPO, por isso não tenho tempo para lidar com tudo isto, é como remar contra a maré.


M.I. – Esclarece a afirmação: “Quando eles vêem pessoas livres, não se querem sentar ao lado delas no autocarro. São cépticos quando uma banda se liberta das correntes em vez de se prender a um só género. Os Darkthrone tiveram a audácia de se libertarem”.

Não me parece que seja possível esclarecer essa afirmação ainda mais. Muito pessoal chateou-se porque nos tornamos numa banda de death metal mas mesmo quando eramos black metal lançávamos álbuns diferentes uns dos outros (excepto “Ravishing grimness” e “Plaguewielder” que são praticamente irmãos) e mudamos lentamente a partir daí e ainda nos incomodam por termos vindo a mudar desde 1995 – estranho é não termos ouvido tantas críticas por todas as vezes que mudamos antes de 1991.


M.I. – O álbum “The Underground Resistance” é algum tipo de afirmação relativa à cena underground de hoje em dia?

Não, é sobre a luta eterna pelo verdadeiro som do baixo e contra o som bass drum que nem bass tem!  “The Underground Resistance” trouxe o heavy metal de volta, entre outras coisas. “The Underground Resistance” e a internet (sim, é isso mesmo) trouxeram o metal de volta com mais força e melhor do que nunca, distante do reino de metal plástico que vingou no final dos anos 90 e inícios de década de 2000. 


M.I. – No álbum do ano passado abandonaste os elementos crust punk que tinham estado presentes nos álbuns anteriores… ireis trazer esses elementos de volta ou vai começar uma nova era para os Darkthrone?

O primeiro tema “Dead Early” (do Ted) ainda tem muito punk. Eu tenho andado a fazer e a deitar fora muitos temas e nenhum deles tem elementos punk. Mas muitos dos nossos álbuns têm elementos punk (o black metal tem raízes no punk desde o primeiro dia, portanto…)… para mim este é tempo para reflectir sobre o metal dos anos 80 e tentar fazer mais cenas do género das que fazia em 1988. Por outro lado, nós não fazemos planos e o que tiver que acontecer, acontecerá. Já te disse que fiz e deitei fora muitos temas portanto é difícil dizer o que levarei para o estúdio. Já eliminei também um tema de doom e outro de speed… também dependerá de quando entrarmos em estúdio, pois quero sempre levar temas frescos em vez de temas antigos, por muito bons que sejam.


M.I. – Este foi considerado o vosso álbum mais metal… pensas que a mudança de género é o resultado da vossa maturidade como músicos e seres humanos?

Nem pensar, nunca fui um baterista tão fraco como neste álbum… mas sei como equilibrar melhor as coisas e tal pode ser maturidade! (Risos) Os nossos álbuns são o reflexo do que nos vai na alma e, desde o segundo álbum, temos sido uma banda retro. Mas somos muito maus a copiar o passado, portanto, acidentalmente, as coisas soam frescas, para além de sabermos tocar bem um som antigo. Eu não me considero músico, sou mais uma personalidade musical. Já não tocava bateria há dois anos e, hoje em dia, quando gravamos, só nos encontramos no estúdio, aprendemos os temas uns dos outros e, uma hora mais tarde, está tudo gravado. É super fresco!



M.I. – No momento estais a preparar o sucessor do álbum do ano passado… o que nos podes dizer sobre isso?


Por acaso não estamos. Eu escrevo temas ou riffs de vez em quando porque eles surgem na minha cabeça e, quando não há tempo para ir para o estúdio, deito-os fora. Quando o álbum “The Underground Resistance”  saiu na primavera do ano passado, foi quando o trabalho começou para mim (e acabou para o Ted)… respondi a 104 entrevistas em 8 meses. Esgota-me de toda a energia e não posso fazê-lo todos os anos porque é impossível. Portanto este ano trabalhamos no lançamento da box e livro, pelo menos eu e o Andrew (autor do livro) trabalhamos. Talvez entremos em estúdio em novembro mas temos vindo a dizer que podemos entrar em estúdio a qualquer momento mas tal nunca encaixa nos nossos compromissos diários e na nossa criatividade.


M.I. – Estás a tentar recriar a música dos anos 70/80 quando tudo era puro e verdadeiro?

Sim, desde o “A blaze in the northern sky”, aquele momento em que o Ivar e o Ted foram à minha casa no início de 1991 a dizerem que tinham descoberto um death metal mais técnico e dark e eu concordei. Desde aí temos olhado para o passado, nascemos em 1971/72 e crescemos com o rock dos anos 60/70 e depois começamos a ouvir metal quando entramos na adolescência. Foi sempre aí que pertencemos. Nem tudo era puro e verdadeiro mas todos os estilos de metal que ainda são verdadeiros foram criados nos anos 60/70 e 80. Depois do “Hell Awaits” já houve grandes lançamentos mas eu não preciso de nenhum deles. Eu poderia sobreviver com o “Hell Awaits” como álbum mais extremo, pois não preciso de metal mais rápido do que esse. Bem, na realidade, até nem é verdade porque eu ouço cenas bem mais rápidas do que esse álbum. (Risos) 


M.I. – Neste Maio foi lançada a “Black Death and Beyond Compilation”… porque decidiram fazer uma compilação?

É um livro com um triplo vinil “Best Of”. Eu estou sempre a classificar a música que ouço e tive de fazer o mesmo com todos os nossos 16 álbuns para decidir os temas que deveriam estar incluídos, para além de ter de escrever uma pequena “introdução” para cada tema escolhido. 


M.I. – Este lançamento só terá uma edição e, quando esgotar, não haverá nenhuma outra. Porquê? É algo só para os verdadeiros fãs? Este tipo de produto ajuda-vos a manter o estatuto que alcançaste ao longo dos anos?

Não faço ideia porque eu faço a música e não trato do marketing. Eu só queria um livro sobre a banda e, como a Peaceville é uma editora, é natural que quisessem adicionar alguma música ao livro. Espero que o livro seja lançado como um livro normal mas não sei se haverá muito interesse nisso. Um livro sobre nós seria também um livro sobre metal e há muito interesse no metal.


M.I. – A compilação  “Black Death and Beyond” contém um livro sobre a história da banda e a vossa filosofia. Isto é completamente original… quem teve a ideia? Acreditas que este lançamento interessará ao pessoal?

Bem, parece-me que é o livro que agrada ao pessoal. Não sei quem teve a ideia mas parece-me que fui eu… mas eu sou mesmo assim! (Risos)


M.I. – Os três vinis incluem material de toda a vossa carreira, sendo que um é dedicado à era do death, outro à era do black e o Beyond é dedicado ao quê?

Beyond é o outro material. Na nossa carreira já tocamos tantos estilos mas, desde 2003, temos tocado um metal free style, portanto são estes temas que estão incluídos no disco final. 


M.I. – Usaste o Fenrizolator para avaliar todos os temas do vosso catálogo… foi muito difícil fazê-lo?

Não tive problemas em avaliar os meus, foi bem mais complicado avaliar os temas do Ted.


M.I. – No teu sistema, o tema “Hans Siste Vinter” só obteve 12 de 60 pontos… é por isso que consideras este o pior tema dos Darkthrone? O que o torna tão mau?

É muito melódico, o ritmo do som não está certo para o estilo rápido de “Transilvanian Hunger”. Ficou claro que esse tema é só um eco do estilo de “Transilvanian hunger” e o álbum “The Panzerfaust” tem dois temas que não encaixam nem no som nem na estrutura do álbum. Eu não ouvi tudo isto para descobrir o que estava errado com os temas… a minha avaliação reflecte os sentimentos e tenho a certeza que também falei deste tema na faixa comentário (no relançamento do CD). Nunca mais quero ouvir esse tema!


M.I. – Sendo este um “Best of”… qual o teu vinil preferido?

O “Don’t break the oath” dos Mercyful Fate ou “Mega Therion” dos Celtic Frost. Mas tenho toneladas de vinil. Nos Darkthrone não tenho um favorito, só temas favoritos ou partes favoritas mas “Under a Funeral Moon” será a resposta certa.


M.I. – Não incluíste faixas dos álbuns “Total Death”, “Plaguewielder”, “Hate them” ou “Sardonic Wrath”. Porquê?

Falta de espaço. Não sou grande fã de “Total Death” ou “Plaguewielder” mas tenho quase a certeza que há temas de “Hate them” e “Sardonic Wrath”. 



M.I. – Houve muita discussão quanto aos temas a incluir? 


Só podíamos incluir 1-2 temas de cada álbum (e nós temos 16), por isso muitos favoritos tiveram de ser excluídos. Fui eu o responsável pela selecção (sou eu o DJ) e tive a ajuda do Paul da Peaceville. Pedi muitas vezes ajuda ao Ted mas ele estava ocupado com outras cenas.


M.I. – O que te inspirou a criar o blog Band of the Week?

Pedem-me conselhos frequentemente e eu tinha acabado de descobrir os In Solitude… e esses factores combinaram-se e foi assim que comecei o blog para poder oferecer algo ao mundo da música.


M.I. – Qual a maior vantagem da internet? E a maior desvantagem?

Acesso fácil para todos os loucos por música. Hoje em dia há peritos em música com apenas vinte anos de idade e tal era impossível na minha geração. Era normal ter 20 álbuns quando se tinha 10 anos de idade mesmo que se fosse um louco por música desde tenra idade. Era um início muito lento. A maior desvantagem são os campos dos comentários e da cusquice. Uso muito o metal archives mas participar em salas de chat e comentários? Nem pensar!


M.I. – O Nocturno Culto referiu que é complicado para os Darkthrone tocar ao vivo porque sois pessoas difíceis… é verdade? Tendes mau feitio ou exigis demais dos promotores?

Eu já devo ter escrito livros sobre o facto de não tocarmos ao vivo, pois há centenas e centenas de razões. Tocar ao vivo é como uma igreja com um padre (a banda) e as ovelhas. Eu gosto de ser ovelha ocasionalmente mas detesto ser o padre. Eu cresci com os álbuns e não com concertos. Eu queria criar álbuns e música e não estar em cima de um palco. As pessoas têm de respeitar que nem todos os músicos querem tocar ao vivo. Se exigíamos muito aos promotores? Quando tocávamos ao vivo nem éramos pagos. 


M.I. – Partilha uma mensagem final com os teus fãs Portugueses.

Não se esqueçam de ouvir “Hour of 13”.


Entrevista por Sónia Fonseca