Por vezes acontece encontrar uma ou outra banda com a qual não é possível deixar de ficar admirado como é que, com uma potencialidade tão grande, essa tal banda continua a passar despercebida. E quantas existirão nas profundezas do underground à espera de serem descobertas pelo seu enorme talento. Por este discurso já se viu que estes artesãos franceses do black metal atmosférico, The Great Old Ones, são uma dessas bandas. Tendo-se apresentado com um disco de estreia simplesmente fenomenal em 2012, editam agora este “Tekeli-li”, um álbum em tudo merecedor de ser o sucessor do brilhante “Al Azif”.
Os TGOO sabem que os olhos também comem e bem se esmeraram para dar a “Tekeli-li” um invólucro de luxo: um digipack esmerosamente bem ilustrado, com uma t-shirt e o livro “At The Mountains of Madness”, de H.P. Lovecraft – autor cuja obra é o néctar de inspiração dos The Great Old Ones – incluídos entre os diversos brindes que vêm com o disco. Parece um lançamento que só uma banda de elevado estatuto e com um reconhecimento bem maior por parte do público lançaria. Podem estar a pensar, e bem, que um pacote bonito de nada serve se a música do disco em si não for nada de memorável, mas, se houve algo em que estes franceses se esmeraram mais do que no requinte da edição especial do álbum, foi na música que se pode ouvir em “Tekeli-li”. Para começar, foi masterizado por Alan Douches, homem que já trabalhou com nomes grandes e tão díspares como Motörhead, Baroness, Sigh e Sepultura. E no que toca à qualidade das composições aqui registadas, bom, é só pegar em qualquer uma delas e verificar a qualidade por si mesmo (excepto a intro, que apenas é mais uma intro na já muito vasta história de intros mundanas). “Antarctica” começa de um modo duro e um tanto simplista, mas depressa se acaba por tornar num dos temas mais inebriantes de “Tekeli-li”; “Awakening” também segue uma fórmula semelhante: começando com um momento de spoken voice, seguido de um black metal a mid tempo com um pouco de doom misturado e alterando-se logo, mas subtilmente, para um tema bastante poderoso. Mas, que não se fique a pensar que tudo aqui segue a mesma estrutura, pois o magnífico instrumental “ The Ascend” começa logo a abrir e leva o ouvinte por uma montanha russa de sequências musicais até chegar ao seu belo final melancólico que faz a passagem para a peça de encerramento “Behind The Mountains”, o longo tema de 17 minutos que, mesmo sendo uma boa canção, parece ter sido feito com toda a música escrita para “Tekeli-li” e que não chegou a tornar-se num tema e daí ter sido introduzida neste aqui para o fazer chegar aos 17 minutos.
Este é um registo onde cada tema explora muito bem e de forma individual a atmosfera obscura e épica que é alma da música desta banda, fazendo de “Tekeli-li” uma obra intensa e completa. Um lançamento que quer afirmar que os The Great Old Ones são uma banda a ser seguida de perto.
Nota: 8.8/10
Review por Tiago Neves
