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Entrevista aos Painted Black


Apesar de não terem abandonado a estrada, os Painted Black estiveram ausentes de novos lançamentos desde que “Cold Comfort” arrebatou a cena metal em Portugal durante 2010 e 2011, mas estão de regresso com o EP digital “Quarto Vazio” e com eles uma nova aventura musical. Para percebermos melhor este “Quarto Vazio” falámos com Luís Fazendeiro que, durante as próximas linhas, nos leva ao íntimo dos Painted Black e ainda nos deixa a novidade de um segundo álbum que está já na calha.


M.I. - Quatro anos após o álbum de estreia, “Cold Comfort”, os Painted Black estão de volta com o EP “Quarto Vazio”. Depois do grande sucesso que foi a promoção do álbum, foi um alívio ou foi custoso ficarem assim tão ausentes?

Houve de facto vários factores que nos levaram a estar quatro anos sem lançar um registo novo. A promoção ao vivo do "Cold Comfort" durou até 2013, pelo que nesse aspecto estivemos um pouco mais activos, mas sabíamos que nos dias que correm um período mais extenso entre edições pode levar a um certo esquecimento por parte das pessoas que nos ouvem. A composição para o segundo álbum também foi um pouco mais morosa. Apesar de ser um processo mais emocional do que racional para nós, não queríamos repetir fórmulas passadas e como músicos gostamos sempre de explorar sonoridades diferentes. Isto levou a um cuidado maior na construção das músicas. Neste mesmo período também estive envolvido na criação de um outro projecto, Sleeping Pulse, com o vocalista Mick Moss de Antimatter e isso acabou por inevitavelmente roubar um pouco de tempo aos Painted Black.


M.I. - Agora reaparecem com uma formação renovada. Foi difícil reformular a banda? É também essa uma das razões para estes quatro anos de silêncio?

Sim, sem dúvida que também foi uma das razões que levou a esse período mais longo de silêncio. Num espaço de sensivelmente um ano ficámos sem teclista, baterista e guitarrista. As saídas também ocorreram em alturas diferentes o que nos levou a constantes adaptações. Felizmente encontrámos no Filipe Ferreira (Oniromant, Infra) um baterista à altura para nos acompanhar ao vivo e tivemos a grande sorte de integrar como segundo guitarrista o Gonçalo Sousa, que já nos acompanhava como técnico de som há 5 anos. Sentimos que as coisas não podiam ter corrido melhor e tudo acabou por ficar em família. 


M.I. - Dos três temas que compõem este novo trabalho apenas um é inédito – o tema-título. Nota-se uma aproximação ao rock e um distanciamento do metal. É este o caminho que os Painted Black vão percorrer daqui para a frente?

Bem, para responder à tua pergunta preciso de recuar um pouco no tempo. Depois de finalmente estabilizarmos a formação da banda, decidimos apontar baterias para o que realmente importava: a música. Tínhamos noção que já há quatro anos não lançávamos nada e que o segundo álbum ainda ia demorar algum tempo até estar finalizado. A ideia do EP surgiu como uma forma de dizer às pessoas que estamos vivos e ao mesmo tempo encurtar o intervalo de tempo entre edições, unir mais a nova formação e explorar algumas ideias que até à data nunca tínhamos tido oportunidade de realizar. O "Quarto Vazio" é um tema que existe desde 2005(!) e é um dos muitos temas do nosso baú que, apesar de gostarmos, nunca tínhamos conseguido encaixar nos nossos registos oficiais. A ideia de ser cantado em Português surgiu mais recentemente e chegámos à conclusão que só desta forma fazia sentido. Nunca  fomos uma banda de um só rótulo e desta vez abraçámos a oportunidade para fazer algo diferente e mostrar, de uma forma mais vincada, o nosso lado mais "Rock'n'Roll". Não é de todo uma indicação de como vai soar o segundo álbum. Olhamos para este EP como uma janela para um lado musical que sempre  existiu em nós e que de outra forma nunca o iriamos conseguir explorar. A experiência foi tão refrescante para nós que estamos a pensar criar uma tradição de lançarmos EPs mais experimentais entre álbuns, como uma forma de explorarmos diferentes sonoridades que fazem parte do nosso ADN mas que não se ajustam dentro do conceito do que nós consideramos ser um álbum de Painted Black. O próximo EP tanto poderá ser um registo completamente acústico como ter um cariz puramente Doom Metal. As hipóteses ainda são algumas e é uma questão de olharmos para o nosso baú e ver para onde tende o nosso estado espírito na altura. 


M.I. - Criar música para a difundir ocupa sempre tempo e dinheiro. Porquê lançar um trabalho de forma gratuita?

Criar música consome sempre muito tempo e há sempre o factor financeiro a ter em conta. Sabendo que iriamos entrar em estúdio para gravar o segundo álbum depois de gravar o EP, planeámos a gravação e produção do "Quarto Vazio" de modo a reduzir custos e daí a decisão de sermos nós a realizar o grosso desse trabalho, desde produção, gravação e mistura. Apenas nos deslocámos a Braga para recorrer aos serviços de Pedro Mendes dos UltraSound Studios para gravar vozes e também bateria com o Marcelo Aires (Heavenwood, Colosso, Nebulous). A masterização ficou a cargo do nosso amigo de longa data Mark Kelson (dos Australianos The Eternal) que prontamente se disponibilizou para nos ajudar. A nossa intenção foi sempre fazer algo que voltasse a expor o trabalho e o nome da banda na imprensa especializada e com alguma sorte criar algum "passa palavra" entre as pessoas. Para nós, oferecer música nova foi sempre a melhor arma de promoção que poderíamos usar neste momento e, com alguma sorte, manter as pessoas mais próximas de nós até ao lançamento do segundo álbum. 



M.I. - Sobre as covers… A vossa abordagem à música “O Hábito Faz O Monstro”, dos Rádio Macau, é bem mais lenta e triste do que a original. Quão trabalhosa foi a reconstrução desse tema?


Há já algum tempo que queríamos fazer covers e o novo EP foi o veículo ideal para isso. A ideia de fazermos uma versão de "O Hábito Faz O Monstro" partiu originalmente do Daniel (vocalista) e foi o nosso baixista António Durães que apresentou o primeiro esqueleto daquilo que viria a ser a versão final. Eles apresentaram a ideia base e sentimos que podíamos realmente dar o nosso cunho pessoal ao tema sem cair na opção fácil de nos colarmos ao original. Foi de facto um desafio mas tendo a ideia base definida, de fazer algo mais lento e melancólico, os arranjos surgiram naturalmente e conseguimos limar a música até chegarmos à versão que queríamos. 


M.I. - Confesso que estranhei – e ainda estranho – a cover “The Perfect Drug”, original dos Nine Inch Nails. É uma música, e uma banda, que está longínqua do vosso universo enquanto Painted Black. Foi um risco? Acham que ficou como desejavam?

Fazer uma cover de Nine Inch Nails é sempre um grande desafio e é de facto uma banda longínqua do nosso universo musical mas faz parte do extenso leque de bandas que gostamos de ouvir. Para nós, no que toca a covers, faz mais sentido dar uma roupagem diferente a uma música que não se enquadre directamente no nosso estilo musical. Gostamos desse desafio porque de certa forma acabamos por nos aborrecer se seguirmos o caminho mais óbvio. Estamos completamente satisfeitos com forma como ficou esta cover mas o feedback tem sido variado. Algumas pessoas gostam mais da versão de Nine Inch Nails, outras da de Rádio Macau, é algo perfeitamente natural e sabemos que nunca vamos agradar a toda a gente. Nós gostamos das duas versões e a forma como reflectem dois lados diferentes da nossa música: o lado mais intimista e melancólico e o outro mais pesado e caótico.


M.I. - Agora que estão de volta, o que nos podem dizer sobre o que vai acontecer? Este regresso é o início de uma nova etapa?

Estamos prontos, não para um inicio de uma nova etapa, mas para continuarmos o nosso caminho que começamos em 2005 com o lançamento da nossa primeira maquete "The Neverlight". Tivemos alguns percalços durante estes anos por causa de mudanças de formação mas a vontade e a necessidade de fazer música nunca morreu.  A pré-produção do segundo álbum está quase terminada e já temos estúdio marcado para este ano começarmos a gravar. Entretanto vamos tentar agendar alguns concertos de promoção ao "Quarto Vazio" para matar saudades do palco e dar-nos a conhecer a mais pessoas.

Entrevista por Diogo Ferreira