O metal pirata é daquelas coisas que só podiam aparecer no heavy metal. Juntar o lado “selvagem” dos bandidos dos mares, a festividade etílica do folk marítimo e o shred do thrash pode causar horrores indescritíveis aos intelectuais “pós”, mas é um movimento tão metálico, tão genuinamente underground, que nem mesmo o sabor a moda de todos os seguidores de Alestorm e Swashbuckle consegue apagar.
Os Ol' Jolly Roger clamam ser os pioneiros do estilo em Portugal, pese embora se posicionem na linha de sucessão do folk metal que os Gwydion levaram a extremos de popularidade local. Ainda assim, as seis faixas do EP de estreia da banda de Setúbal – cidade inevitavelmente piscatória – mostram uma abertura estilística para o black metal, death metal melódico e o incontornável thrash que encaixa perfeitamente no movimento “pirate metal” internacional. No entanto, convém não esquecer que «From The Depths We Rise» é ainda um lançamento de estreia e, caso existissem dúvidas, as melodias folk meio primárias, a dificuldade em lidar com a métrica da língua portuguesa na única faixa que a explora («Adamastor») e a inutilidade da versão “8 bit” da canção «Crack Jenny's Teacup» estão lá para lembrar-nos.
Ainda assim, este é um cartão de visita que mostra bem as qualidades e fragilidades dos Ol' Jolly Roger. Se há trabalho a fazer na profundidade e dinâmica do folk, não falta nem entusiasmo, nem tendência para os leads épicos e nem uma consciência muito decente da temática do género, o que é sempre um bom ponto de partida para uma carreira “coerente” (se tal coisa existe neste estilo de metal) e, pelos vistos, para a pilhagem ao vivo, em que o grupo se tem vindo a especializar. Para recordação que se pode trocar por uma rodada de rum num qualquer bar de pescadores, «From The Depths...» cumpre a sua função bem e sem rodriguinhos.
Review por Fernando Reis
