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Entrevista aos Vesania



Passaram cerca de sete anos desde que os polacos Vesania lançaram Distractive Killusions. Mas a banda, com mais de 15 anos de história, está de volta com um novo trabalho, Deus Ex Machina, lançado recentemente via Metal Blade Records. A Metal Imperium teve o prazer de conversar com o Orion (Behemoth) que nos elucidou mais sobre este trabalho.


M.I. - É incontornável perguntar a razão pela qual estiveram tanto tempo até lançar um novo trabalho. Deve-se ao facto de trabalharem noutras bandas ou existe outro motivo de força maior? 

São várias as razões. Depois de lançarmos o terceiro álbum de Vesania, Distractive Killusions, fizemos três digressões e, infelizmente, todas elas, num determinado momento, revelaram-se muito desafortunadas. Tivemos de cancelar metade da nossa última digressão europeia, o que foi bastante desagradável, o suficiente para deixar a banda de lado por uns tempos. Mas sabes, Vesania foi a banda com que começamos, e por isso é como se fosse a nossa criança, e tu nunca podes abandonar o teu filho, até o podes ignorar ou deixar de lhe falar por algum tempo, mas no final tudo volta como estava antes, e foi este o caso. Passados três ou quatro anos, juntámos algumas ideias e fomos para o estúdio. No entanto, levou-nos muito tempo para terminar o álbum, Vesania é uma banda muito complexa, e a música leva muito tempo a ser concluída. Mas também é claro que tínhamos outros compromissos com outras bandas com quem trabalhamos, o que também nos deixa muito ocupados. Para trabalhar no novo álbum de Vesania tivemos de aproveitar os intervalos que as outras bandas nos proporcionavam, o que nem sempre é fácil, mas estamos a fazer com que isso aconteça. 

M.I - Vesania é sem dúvida o teu bebé. Quando é que decidiram que estava na altura de trabalhar num novo registo? 

(risos) É mesmo! Eu sei que pode parecer assustador mas três de nós: eu, o baterista e o baixista, conhecemo-nos há quase 30 anos, o que é mesmo muito muito tempo. E como somos amigos tão chegados e vivemos perto uns dos outros, já tínhamos comentado em trazer a banda de volta e fazer algumas gravações. Mais tarde, começamos a ensaiar e a trabalhar nas estruturas de algumas músicas, isto foi à cerca de três anos. Foi assim que a ideia voltou, e assim que começamos a trabalhar.    


M.I - Deus Ex Machina está prestes a sair através da Metal Blade Records. Quais as tuas espectativas em relação ao mesmo frente ao teu público?

Eu não espero que este álbum seja uma importante revelação no mundo do metal em geral, ou que nos torne numa banda como os Metallica, ou qualquer coisa do género, até porque isso não vai acontecer. Mas espero que seja bem recebido, pois coloquei muito de mim neste projecto, assim como os meus colegas. Realmente espero que o facto de termos assinado com a Metal Blade nos abra algumas portas. Mas no geral as minhas expectativas são satisfatórias, agora é esperar para ver o que irá acontece, vamos aproveitar todas as oportunidades que nos surjam. 


M.I. - Neste novo registo a tua voz parece mais confiante e versátil, achas que amadureceram musicalmente? Como diferencias o novo álbum do anterior? 

Bem eu estou muito mais maduro e claro também mais velho, é isso que queres dizer não é? (risos). Mas é mesmo isso. Sinto que cresci musicalmente depois de inúmeros álbuns lançados. Também tive imensas experiências dentro da música, são mais de 15 anos a trabalhar neste mundo. Toda esta experiência faz com que não tenha mais medo de experimentar coisas novas, nem de me inserir num certo tipo de convenção ou ideal de algumas pessoas. E sim, sem dúvida que estou muito mais confiante do que aquilo que costumava ser. Eu lembro-me de gravar os vocais para o primeiro álbum de Vesania (isto foi em 2000 e qualquer coisa), fiz uma ou duas músicas, e quando ouvi o que tinha gravado achei que estavam uma autêntica porcaria e disse ao engenheiro de som para apagar tudo e decidi parar a gravação. Quando cheguei a casa comecei a procurar um novo vocalista para Vesania, porque achei que a minha voz era demasiado “merdosa” para estar ali. Mas passado um mês eu comecei a pensar: “Que raio é que tu estás a fazer?! Isto é a tua banda, tens de fazer alguma coisa!” Então fechei-me em casa a ensaiar durante algumas semanas, tentando exercitar a minha voz com o objectivo de a melhorar, foi então que finalmente gravei todos os vocais do álbum. É claro que já passou muito tempo desde essa altura, e a minha voz está a evoluir a mudar conforme a idade. Se tu dizes que está mais confiante eu vou considerar isso um elogio, e agradeço-te por isso. Sem dúvida que está definitivamente diferente do que quando era adolescente, isso é óbvio. 


M.I. - O novo álbum espelha caos, loucura e insanidade, particularidades tão características da banda. Como surgiu e qual a razão destes temas?

As coisas que mencionaste têm tudo a ver com a palavra Vesania (que significa caos), foi sempre este o seu significado desde o início. No que diz respeito a este álbum, é difícil dizer como é que surgiu esta ideia, pois é complicado incorporar, no processo de escrita, toda a informação que recebemos nos dias de hoje. Eu posso dizer que quando estava a fazer o primeiro álbum fui muito influenciado por toda a cena do metal, e isso também fez de mim aquilo que sou hoje. Mas estamos a viver numa época onde somos atacados por todos os tipos de motivos que vêm dos mais variados lugares, como a internet ou os meios de comunicação, para não falar dos milhares de bandas que todos os dias vejo e oiço. Pegar em particular numa inspiração que nos tenha influenciado é impossível para mim. Sabes, as pessoas nos dias de hoje são como uma esponja, incorporam tudo o que está à sua volta, se alguém for criativo o suficiente, eventualmente, poderá criar as suas próprias ideias, mas isso, actualmente, é bastante difícil. Por isso se me estás a perguntar o que me influenciou e de onde todos estes temas surgiram, bem, da maneira como eu o vejo, vieram de tudo o que me faz pensar e agir, ou seja, basicamente pode ser qualquer coisa. 


M.I. - Disseste que Deus Ex Machina é uma chamada para qualquer tipo de ajuda e intervenção. O que vos incentivou a escolher este tema e como ele foi estruturado ao longo do álbum? 

Fundamentalmente, este termo está ligado à arte no geral, eu mesmo conheço pelo menos três álbuns com este nome, e várias músicas também com o título de Deus Ex Machina. Não me importo muito com isso. Quando estávamos a escrever as letras procurávamos um tema unificador, foi então que surgiu a ideia deste “Deus vindo da máquina”, porque no nosso caso é como tu dizes: uma chamada para qualquer tipo de intervenção feita por o que for ou algum tipo de ajuda. Porque é que eu escolhi isso? Bem, Vesania sempre foi muito versátil e teatral, e eu estava à procura de motivos em que este tipo de arte pudesse ser incorporado, esperando dirigir o tema para um outro nível. O título veio directamente de uma tragédia grega, que na verdade é mesmo a sua origem, o teatro. Mesmo o artwork do álbum incorpora o significado das letras e do título. Até os concertos que fazemos actualmente são muito mais teatrais se os compararmos com um concerto normal de metal. Por isso existem tantas coisas que nos fazem produzir o que fazemos, mas é difícil nomear detalhadamente o que nos fez fazê-lo desta determinada maneira. Dentro do contexto da banda tivemos esta espécie de “brainstorming”, que eu adorei. 


M.I. - O título lembra-me a obra de William Golding, O Deus das Moscas. Poderá, eventualmente ter alguma ligação com o tema? 

Eu já li o livro há alguns anos atrás, e também vi o filme. Mas porque é que te lembra o livro?


M.I. - Devido a todo o caos e desespero e, no fim, simplesmente aparece uma salvação tão inesperada. 

Sim, se o puseres dessa maneira estás completamente certa. Mencionaste um grande livro, que hoje é um clássico mas, no geral, se estivermos a falar de Deus Ex Machina, actualmente, é entendido como algo muito mau. Ou seja, se leres um livro em que tudo está a ir da pior maneira possível e não existe nenhuma solução, mas que do nada aparece algum americano com milhões de dólares que soluciona todos os problemas, é isso o significado de Deus Ex Machina. E por isso deste um exemplo excelente, e eu aprecio muito isso. Mas a realidade em que vivemos nos dias de hoje, infelizmente não é tão bonita. 


M.I. - Como decorreu todo o processo de concepção do álbum? Qual o tema que deu mais trabalho a compor? 

Não é assim que vejo as coisas, não acho que algumas faixas tenham sido mais difíceis que outras. No geral estão a passar-se inúmeras coisas que levam muito esforço e tempo pela nossa parte. Acho que chegámos a um período nas gravações em que atingimos um determinado número de faixas para este álbum, cerca de 60 e qualquer coisa. Todo este processo durou um ano, mistura incluída. É claro que durante este tempo tivemos algumas pausas no trabalho, até porque tínhamos outros compromissos. Mas adorámos trabalhar em estúdio com Vesania, embora seja um trabalho duro, apareceram inúmeros obstáculos e fizemos a maioria do trabalho sozinhos, até mesmo a engenharia do som foi feita pelo nosso baixista, ou seja, foi um trabalho a tempo inteiro. Foi também um processo muito longo e é claro que fizemos muitos erros pelo caminho, mas depois de tudo estou muito satisfeito com o resultado pois fizemos tudo exactamente da maneira que queríamos, e não houve outras pessoas envolvidas neste processo, apenas a masterização foi feita por outra pessoa, tudo resto fizemos sozinhos. 


M.I. - A faixa Scars tem a participação da vocalista de Obscure Sphinx. Como surgiu a ideia de juntar uma voz feminina à música? 

Puseste a questão da maneira correcta. Nós queríamos uma voz feminina de um tipo muito específico na música, devido à letra da faixa. Existiam algumas frases que precisavam de ser ditas por uma mulher e a Zosia Wielebna Fraś, tem uma voz que se adequa. Não queríamos que o final do álbum passasse despercebido, e apenas sabíamos que faltava qualquer coisa. A Zosia concordou ser, de certa maneira, a nossa “ferramenta” para exprimir a letra desta música, e a voz dela inseriu-se perfeitamente naquilo que queríamos. Levou-nos muito tempo a gravá-la (e são apenas algumas linhas cantadas por ela), mas teve tudo a ver com o seu estado psicológico e o humor certo para a fazer soar como nós queríamos, ela fê-lo perfeitamente. Estamos muito contentes com o resultado final, não é como se ela estivesse a cantar para fazer a canção mais atractiva, mas sim mais profunda de forma a encaixar melhor na letra.


M.I. - O símbolo de “Penthavesania” é tão icónico, já reparei que até o tens tatuado no pescoço. Doeu muito (risos)? Como surgiu a ideia?

(risos) Não doeu, nem dói ter algo que tu achas que é uma grande parte da tua vida, mesmo que te cause um bocadinho de dor ao fazê-la, mas não é algo insuportável. O símbolo é muito antigo, eu acho que o nosso primeiro guitarrista fê-lo, eu nem sei se em 1998 ou 1999, ou alguma do género. Simplesmente desenhou-o num livro de rascunho. E sim, está connosco até hoje.  


M.I. - Vai haver alguma digressão conjunta com Behemoth? 

Não sei, talvez. Não é algo que seja impossível se houver alguma oportunidade. Nós costumávamos falar de uma digressão assim há algum tempo atrás, mas nunca tornámos essa ideia numa realidade. Mas sim talvez, porque não? 


M.I. - Existem vários rumores em fóruns ligados ao metal de que fizeste parte Sunwheel/Swastika, pelo nome de AnubiSS. O rumor é verdadeiro, ou não passa unicamente de uma teoria? 

(risos) Eu nunca fiz parte de uma banda assim, são apenas rumores.


M.I. - Tens alguma ideia de como este boato possa ter começado? 

Sim, eu costumava conhecer alguns membros dessa banda, há 20 anos atrás. 


M.I. - Conciliar várias bandas deve ser algo difícil, qual o teu segredo para gerir o tempo? 

Não existe nenhum segredo, de facto, sou terrível a gerir o meu tempo, aliás sou a pior pessoa a gerir o tempo! Se tu tiveres algum segredo por favor partilha-o comigo (risos). Eu apenas sinto que se realmente quiseres que alguma coisa aconteça, encontrarás o caminho para a tornar realidade. As pessoas podem fazer o que quiserem da vida e podem ser boas em praticamente tudo, a única coisa que elas precisam de compreender é que se querem ser realmente boas, têm de abdicar de muitas outras coisas, e isso é a parte mais difícil. Qualquer pessoa pode dizer que podes fazer o que tu quiseres, mas de modo a conquistares esse objectivo, tens de desistir de outros, isto é o mais complicado, ter de tomar decisões.  


M.I. - Que gostas de fazer quando não estás em digressão ou em estúdio?

Normalmente ou estou em digressão ou estou no estúdio, mas tenho um bocadinho de vida privada. De qualquer das maneiras quando estou em casa e durante poucos dias entre as digressões tenho sempre algumas entrevistas, como podes ver esta é a décima que faço. Se perguntas o que faço no meu tempo livre, não tenho quase tempo livre! (risos) Mas o que gosto de fazer é mesmo o meu trabalho, estou a viver o meu sonho e gosto muito da minha vida, isto foi o que eu sempre quis fazer, estar numa banda e trabalhar dentro do ramo da música, e sinto que tudo o que conquistei foi merecido, pois custou-me uma vida até chegar onde estou hoje. Mas ao mesmo tempo dou valor a todas as pessoas que me ajudaram a chegar até aqui e todos os esforços que envolveram outros, senão fosse elas eu não estaria aqui. Mas tenho algum tempo livre de vez em quando, a última vez que estive de férias fui fazer snowboard. Vocês têm muita neve em Portugal? 


M.I. - Não muita, mas é mais frequente num local chamado Serra da Estrela.

Serra da como? Como é que vocês dizem isso? (risos) Estrela como stellar? É parecido com o latim, muito interessante. 


M.I. - Por último, tens alguma mensagem que queiras transmitir aos leitores da Metal Imperium?

Eu estou muito feliz por temos o nosso quarto álbum a sair dentro de dias, e espero que as pessoas o oiçam e lhe dêem uma oportunidade e quando acabarem de o ouvir, dêem a vossa opinião.   


Entrevista por Patrícia Torres