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Entrevista aos Deconstructing Sequence






Oriundos da Polónia, mas sediados no Reino Unido, os Deconstructing Sequence têm feito uma caminhada brilhante dentro do panorama avant-garde. Na conversa que tivemos com Morph, o músico contou-nos como se formou o projecto, falou-nos do conceito que querem criar e ainda houve tempo para revisitar clássicos da ficção científica. Depois de dois EPs, 2015 será o ano em que a banda prepara o primeiro disco.


M.I. - Os membros da banda têm um passado mais extremo que tem a ver com projectos black metal. O que é que vos levou a criar um projecto mais avant-garde como Deconstructing Sequence?


Bem, no início foi esse o caso, mas a progressão foi uma coisa natural para nós. Para além do metal extremo, nós gostávamos de música progressiva e avant-garde, especialmente bandas que faziam uma mistura inteligente como Dodheimsgard, Arcturus ou Aborym. Eu e o Tiberius estávamos numa banda chamada Northwail antes de começarmos com Deconstructing Sequence. Começou como um projecto black metal com raízes na escola escandinava, mas transformou-se para algo mais progressivo e experimental. Ainda sobre Northwail, com o lançamento “Cold Season”, de 2011, nós já éramos uma banda que desafiava o género, por isso com Deconstructing Sequence foi meramente uma questão de avançar com as coisas. Pegámos nalguns elementos que apreciávamos, pusemos tudo num caldeirão de ideias e foi assim que a banda nasceu.


M.I. - No primeiro falam de um mundo habitável que foi encontrado. Que mundo é esse? Como o descreves?

As letras de Deconstructing Sequence são uma metáfora para a nossa jornada musical. O primeiro EP, “Year One”, foi uma saída para a nossa frustração causada pelo falhanço da nossa banda anterior. Muitas coisas correram mal, não tínhamos boa comunicação como músicos e estava a ser cada vez pior ao ponto de não haver outra solução senão terminar a nossa cooperação. Eu estava particularmente frustrado, porque eu estava a tentar colocar a banda no mapa da música há já 11 anos – portanto foi uma grande parte da minha vida. Estava prestes a desistir da música, mas o Tiberius mostrou-me algumas coisas que ele estava a fermentar há alguns meses e eu disse: “vamos a isso!” Esse nosso primeiro EP foi uma grande explosão de ideias, libertámo-nos de alguns constrangimentos que anteriormente bloqueavam a nossa criatividade e deixámo-nos levar pela música. Os resultados foram insanos. Estávamos muito ansiosos pela recepção, sabíamos que tínhamos levado alguns limites bem longe mesmo para nós, o que tornou algumas coisas complicadas. Apesar disso, algures dentro de nós sentimos que queríamos fazer isto, por isso decidimos manter-nos fiéis a isso e ver o que acontecia. Parte da nossa história está num tema desse EP, chamada “Departure Of The Stellar Fleet Marks The Year One”. É sobre uma porção da humanidade que foi alimentada numa Terra tóxica e a morrer, e embarcou numa jornada para o desconhecido… Está a ver a metáfora, certo? No geral, a recepção do primeiro lançamento foi boa e motivou-nos a fazer material mais maluco e sem fronteiras. Portanto, o mundo que encontrámos é o nosso mundo musical, onde temos liberdade musical sem constrangimentos. Mesmo assim, estamos a tentar fazer as coisas coerentes e há por aí pessoas que estão entusiasmadas com o que fazemos! A única coisa que queremos é ter mais dessas pessoas.


M.I. - E sobre o código de acesso? É um código para destruir ou (re)criar?

A nossa música é maioritariamente sobre criação. Já não somos jovens metaleiros cheios de raiva indirecta. O que estás a perguntar relaciona-se directamente com a questão anterior. Temos o código de acesso para o nosso estilo, para a nossa criação musical. Encontrámos um nicho que é muito distinto e isso faz-nos sentir bem para o explorarmos.


M.I. - Dirias que a imagem de marca da banda é a complexidade das estruturas e dos tempos?

Sim, definitivamente. Gostamos que as coisas sejam técnicas, mas não queríamos tomar o rumo técnico das outras bandas. Em vez de encontrar forma de tocarmos cascatas de notas, tendemos a confiar em padrões polirrítmicos e estruturas complexas. Alguma partes são mesmo o limite e acho que a melhor maneira de fazer headbang com elas é usar uma calculadora! [risos] Mesmo assim, isso não é a forma de arte em si mesmo já que as usamos com outras formas de expressão como uma ferramenta para criar esta experiência ímpar que é a nossa música.


M.I. - Também adicionaram sons não-orgânicos. Qual é o processo para implementar esses sons? É tudo pré-definido na vossa mente ou deixam-se levar pela composição?

Muitas das partes melódicas são pré-definidas. Anteriormente, para algumas partes costumávamos usar duas guitarras ritmo em cada lado do espectro stereo para criar peso e uma guitarra mais efervescente, com um som mais estreito para se tocar as partes lead. Mas ao desenvolvermos as nossas músicas, reparámos que os sintetizadores funcionam melhor do que as guitarras para essas parte lead. O som é mais espacial, cheio e assenta melhor na mistura. Adicionámos uma silenciosa parte de guitarra uníssona modulada com coros ou manilhada para um efeito mais alienígena. Também há muitas partes em que os sintetizadores aparecem do nada. Às vezes, após gravarmos as guitarras, ouvimos os sintetizadores mesmo que não estejam lá. A vibração geral organiza-se de forma a implorar por um ou dois acordes ou uma profunda linha de baixo. Tendemos a usar emulações de algum equipamento mesmo old-school, portanto as nossas sintetizações não soam tão modernas – é mais como uma banda sonora de uma ópera espacial dos 1970s.


M.I. - Podemos dizer que têm um background de ficção científica? Talvez dos tempos de infância… Quais são as tuas obras favoritas nessa área?

Não posso apenas dizer que podemos dizê-lo, tenho que o afirmar claramente! [risos] Em criança vi dúzias de filmes sci-fi e adorava-os! Não sou muito de cinema moderno, é como ver videojogos num grande ecrã. Penso que no tempo em que as possibilidades eram limitadas, os efeitos especiais eram mais convincentes. Por exemplo, o “Blade Runner”. Meu, esse filme é tão velho como eu e a parte visual ainda rebenta com tudo! O mesmo se aplica aos filmes “Alien”. Odiei quando fizeram xenomorphs em CGI no quarto filme. Quando apenas punham um tipo dentro de um fato ou usavam animatronics, eles não podiam mostrar a criatura por inteiro, mas o mais medonho é tu não conseguires ver tudo! Um filme que mudou a minha percepção do cinema foi o “Space Odyssey” do Kubrick. Há algumas partes redundantes que se tornaram velhas com o decorrer dos tempos – o filme podia ter ficado uma hora mais curto. Mas ver o Bowman a lutar com o Hal e entrar no monólito é uma viagem dos diabos!


M.I. - Um EP em 2013 e outro em 2014. O que nos reserva 2015?

Um álbum! Temos novo temas bem proggy, funky, extremos e futurísticos para um total de 51 minutos de música. Provavelmente, quando esta entrevista for publicada já teremos as guitarras gravadas. O próximo passo são os arranjos de bateria seguido do baixo e das vozes. Tudo vai ser misturado e masterizado no final de 2015. Não esperes mais do que um trabalho progressivo espacial bem assinalável e estonteante!


M.I. - Reparei que a banda está sediada no Reino Unido, mas vocês são todos polacos. Emigraram da Polónia para o Reino Unido?

Parte da banda, sim. Planeámos que começaríamos o novo projecto no Reino Unido, mas apesar das inferiores possibilidades financeiras na Polónia, seria um país melhor para tocar metal, porque a cena lá é mais forte.


Entrevista por Diogo Ferreira