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Reportagem: Madball, Strife, Rise Of The Northstar, Backtrack, Reality Slap e Push @ República da Música, Lisboa - 26/02/2015


Com um alinhamento de topo, a Rebellion Tour de 2015 juntou no mesmo cartaz Madball, Strife, Rise of the Northstar e Backtrack. Portugal teve o privilégio de receber esta tour em Lisboa, mais concretamente na já habitual República da Música em Alvalade, tendo como bandas de abertura os nacionais Push e Reality Slap.

Os concertos começaram pontualmente, sendo que coube aos Push dar início a uma noite que se adivinhava memorável. Com uma sala ainda muito despida, a banda lisboeta apresentou-se com a pujança e entrega do costume, demonstrando o porquê de neste momento serem uma das bandas mais interessantes e promissoras do hardcore nacional. Foi pena ter sido um “concerto relâmpago”, com um alinhamento muito curto devido ao pouco tempo disponível. O mesmo problema aplicou-se, de certa forma, aos Reality Slap. Apesar de já ter mais público comparativamente ao concerto da banda anterior, a sala ainda estava longe da enchente que se viria a verificar mais tarde. Quanto ao concerto, foi a descarga de energia do costume: músicas curtas e intensas que deixam qualquer um rendido à verdadeira força da natureza que esta banda é. O concerto pecou apenas por ter sido demasiado curto, e também, em parte, por a adesão do público não ter sido tão significativa como costuma ser nos concertos da banda. De qualquer forma, foi um bom concerto, ficando ainda a promessa de um álbum novo num futuro próximo.

Depois de uma passagem algo discreta em 2011 com os Terror, Firstblood e Lionheart, os Backtrack voltaram ao nosso país, num regresso muito aguardado. Parece-me seguro afirmar que a banda nova-iorquina é um dos fenómenos mais interessantes do hardore americano actual, o que fica comprovado com o excelente concerto que a banda deu, correspondendo às elevadas expectativas das (muitas) pessoas que estavam na República da Música para os receber. Setlist focada nos dois álbuns, – “Darker Half” e o recente “Lost in Life” – num desfilar de temas que meteram a sala a mexer. Não foi um concerto propriamente longo, e ficou a sensação de que o público queria mais tempo de actuação, e a banda, sem dúvida alguma que o merecia. Soube a pouco, e por isso resta-nos esperar por um regresso da banda a solo nacional, se possível como cabeças-de-cartaz, porque já o merecem.

De seguida, vislumbrou-se um palco com faixas com referências orientais e uma banda com roupas e acessórios peculiares. Foi este o cenário com os Rise of the Northstar  se apresentaram em palco. A banda francesa, que tem a cultura japonesa como uma das suas principais temáticas musicais, apresentou-se nesta tour de uma forma algo deslocada, dando a sensação de não encaixar muito bem no meio das restantes bandas. Mas, uma das coisas que o hardcore ensina é que dentro do meio existe espaço para todos, e certamente que quem se deslocou a Alvalade para ver a banda não terá ficado desapontado. Contudo, não posso deixar de notar que o concerto foi algo enfadonho, com uma postura e um “show-off” – fazendo parte da imagem que a banda quer transmitir – que não me agradaram particularmente.

Seguiram-se os Strife. A banda de Los Angels regressou ao nosso país, depois de um excelente concerto no Jurassic Fest de 2013, e deu uma verdadeira lição de como deve ser um concerto de hardcore. Com uma entrega exemplar, a banda norte-americana foi crescendo ao longo do concerto, e no final era visível o sorriso dos presentes, rendidos à humildade e interacção que a banda demonstrou e soube criar, o que acaba por se revelar como fruto de uma grande experiência acumulada ao longo dos anos.

A noite já ia longa e já eram muitas as  horas em que se estava fechado numa sala quase lotada. O cansaço era por de mais evidente, e até se ficava com a ideia de que já não havia energia para mais. Mas ainda faltavam os grandes Madball, e mal soaram os primeiros acordes da clássica “Set if off” todo o cansaço e toda a falta de energia desvaneceram, e apoderou-se da sala um ambiente de caos, com movimento e  stage-dives para dar e vender. Em apresentação do seu mais recente trabalho “Hardcore Lives” a banda de Freddy Cricien deu um concerto ao nível do nome e legado que carregam, demonstrando que sim, que o hardcore está vivo, sobretudo enquanto existirem bandas como os Madball. Com uma setlist que foi rebuscar um bocado de todo o vasto catálogo da banda, houve tempo para recordar clássicos como “Cant stop, won´t stop” ou “Lockdown”, bem como apresentar novos temas como “Born Strong” ou “Doc Marten Stomp”. Os novos temas obtiveram uma aceitação razoável (o disco está excelente, diga-se de passagem), mas foi nos clássicos que o público foi ao rubro, traduzindo-se em mais um concerto memorável da lendário banda de hardcore americana em solo lusitano. Para finalizar, a emblemática “Pride” com a presença de Poli dos Devil in Me a ajudar à festa.

Com uma sala cheia a corresponder à elevada qualidade do cartaz, a Rebellion Tour 2015 deixou a sua marca em Portugal, demonstrando que a cena hardcore está viva e de boa-saúde. Eventos desta qualidade são sempre bem-vindos, e dão provas de que existe no nosso país muita força no movimento, o que se revela em salas cheias para acolher bandas que vão continuando a manter o nosso país nos seus destinos de eleição. Uma referência também ao (habitual) excelente trabalho da Hell Xis na organização deste evento, a todos os níveis espectacular. Hardcore lives! 

Texto por Pedro Reis
Agradecimentos: Hell Xis