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Reportagem: Moonspell, Septicflesh e Bizarra Locomotiva @ Coliseu dos Recreios, Lisboa - 27/03/2015


A visita dos Moonspell ao nosso país - e isso até pode soar estranho já que se trata de uma banda portuguesa - é sempre um acontecimento e a prova maior disso verificou-se nesta noite de 27 de Março, num Coliseu dos Recreios praticamente cheio. Embora não tenha havido uma festa de lançamento de "Extinct" com a grandiosidade que os seus fãs tão habituados - lembramos do impacto que teve a festa de lançamento de "Alpha Noir/Omega White" no Campo Pequeno - esta noite serviu como uma celebração do novo álbum e não apenas como mais uma data na digressão da banda que já tinha às costas uma sucessão de 16 espectáculos non-stop.

Para provar que o ambiente era mesmo de festa, logo às 21 horas o público do Coliseu, ainda longe da sua moldura final, teve a oportunidade de provar os Bizarra Locomotiva em plena celebração também da sua mais recente obra-prima, "Mortuário". Na intro de "Na Febre De Ícaro", e com a entrada da banda em palco, foi o suficiente para levar o público ao rubro e caso existissem dúvidas acerca da forma como o álbum é recebido pelo público, bastaria o tema título para as desfazer, ou a "Na Ferida Um Verme". Claro que numa ocasião destas, era mais que esperado a "Anjo Exilado" com a presença de Fernando Ribeiro, como prova maior da amizade e espírito de colaboração que existe entre as duas bandas, algo que se voltaria a ver novamente mais à frente. Ainda houve tempo para mais uma música nova e a inevitável "Escaravelho". Uma curta actuação mas bem intensa como é apanágio da banda portuguesa que se mostra cada vez mais cativante, até para um público que não é seu. Em trinta minutos, a banda veio, viu e venceu.

Seguiu-se uma breve pausa para montar o palco dos Septicflesh e durante algum tempo se fez soar música orquestral como que a funcionar como uma intro da intro e assim que a banda grega se começou a posicionar, as hostes no público começaram logo a se movimentar, já com uma moldura humana bastante completa a encher o Coliseu, mesmo que a não esgotar. "War In Heaven" foi o tema de abertura para o alinhamento dos gregos e logo aí a banda gozou de uma excelente recepção por parte do público, embora o mesmo não se possa dizer do seu som, demasiado alto e a fazer como grande parte dos pormenores orquestrais da sua música se perdessem um pouco, algo que em parte também aconteceu com os Bizarra Locomotiva. No entanto isso não deteve os gregos, nem o nosso público de os apreciar. A banda baseou o seu alinhamento nos últimos três trabalhos, ou seja, nos álbuns lançados na sua segunda vida, o que foi uma pena, já que para os fãs mais antigos seria uma boa prenda ouvir temas que nunca tiveram oportunidade de ouvir ao vivo antes.

Tudo isto não belisca a qualidade da entrega das músicas retiradas de "Titan", "The Great Mass" e "Communion", como a "Order Of Dracul", "A Great Mass Of Death", num grande espectáculo de death metal sinfónico que merecia ser ouvido em todo o seu esplendor. O público mostrou-se satisfeito e a banda também pela forma como foi recebida. E quanto mais tempo passava, mais se sentia a ansiedade pelos cabeças de cartaz, a viver um excelente momento de criatividade como prova o seu mais recente trabalho de estúdio e que dá o nome à digressão que tem em Portugal como pontos de passagem o Coliseu dos Recreios quase esgotado e um Hard Club já há muito esgotado.


Com uma versão da "La Baphomette" a servir de introdução e com a banda a entrar em palco, ficou bastante claro que nas primeiras notas de "Breathe (Until We Are No More)", a banda tinha o público na mão, com Fernando Ribeiro a referir que finalmente estavam em casa e notou-se, sentiu-se isso perfeitamente, os Moonspell estavam em casa, recebidos com honras de Estado por aqueles que lhes interessam mais, os fãs do seu próprio país. Também ficou bem claro que o som estava de uma qualidade que as duas bandas anteriores não tiveram, visivelmente mais baixo, mas perfeito para se perceberem todos os pormenores das músicas. Seguiu-se o tema título do último álbum que também foi recebido como se um clássico da banda se tratasse, uma característica de muitos dos temas novos, provocam um sentido de identificação imediato, algo que a banda se valeu para apostar em bastantes temas do trabalho para transpor para o palco, prova de que, como Fernando Ribeiro referiu, reflecte a forma como a banda acredita na qualidade de "Extinct".

Numa das raras excursões ao passado mais recente, seguiu-se "Night Eternal" recebido em êxtase, assim como a sequência "Opium/Awake!", sempre infalível onde quer que seja, mas muito mais na sua própria "casa". Seguiram-se mais dois destaques do último trabalho, a hiper-melódica "The Last Of Us" e a viciante "Medusalem", dois temas que demonstraram ser bastante fortes ao vivo. Ribeiro referiu por diversas noites que esta noite era bastante aguardada pela banda e que mais que ser um concerto, seria uma celebração da banda e dos seus fãs e que como tal teriam várias surpresas, sendo uma delas a presença de Mariangela Demurtas, vocalista italiana dos Tristania (mas que até se safou bem com o português) que colaborou com os Moonspell ao vivo em 2013, tendo também feito o mesmo com os Orphaned Land e Dark Tranquility). A música escolhida foi outra retirada do passado mais longínquo, "Raven Claws", que de certeza trouxe muita nostalgia a muitos fãs.


Como era a noite de "Extinct", "Funeral Bloom", "Dominia", "Malignia" e "The Future Is Dark" surgiram de rajada e mostraram a força com que este trabalho resulta ao vivo, totalizando oito temas que fizeram parte da setlist, um número que não deixa de ser impressionante. Noutra das incursões ao passado mais recente, foi a vez da "Em Nome Do Medo", onde Fernando contou com a ajuda de Rui Sidónio, quase transformando o tema num dos Bizarra Locomotiva, sem dúvida um dos (muitos) pontos altos da noite. Para finalizar a actuação antes do encore, seguiu-se uma visita a "Wolfheart" que, como Fernando disse, celebra os vinte anos em 2015. Poderia ser uma desculpa, mas será que são necessárias algumas para que se ouça mais uma vez "Vampiria", "Ataegina" (é impressionante a forma como este tema resulta sempre e meteu o Coliseu a mexer como se numa festa medieval estivessem) e a incontornável "Alma Mater".


Um curto intervalo deu-se antes de mais uma visita a "Wolfheart" com um assombroso "Wolfshade (A Werewolf Masquerade)", um também saudoso "Mephisto" e o ponto final oficial dos concertos da banda, "Full Moon Madness", a música máxima no que diz respeito à ligação que a banda tem com os seus fãs, principalmente os portugueses. Aquele solo de Ricardo Amorim, é uma coisa assombrosa, ele que cada vez se assume como um shredder nos mais variados temas. A banda esteve no seu melhor, com um Mike Gaspar certo como um relógio suíço, um Aires Gaspar inabalável, Ricardo Paixão entregue exclusivamente às teclas sem passar pela guitarra (algo que até não se sentiu assim muito falta) e um Fernando Ribeiro visivelmente feliz por estar de volta ao seu país. Uma daquelas noites que ficam imortais no coração da banda e sobretudo no dos fãs, as centenas e centenas que estiveram presentes no Coliseu dos Recreios.


Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Paulo Tavares
Agradecimentos: Everything Is New