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Voices - "London" Review


Segundo longa duração para aquilo que se poderia denominar por Akercocke 2.0, e que reúne alguns elementos deste grupo e dá um passo em frente na evolução natural do grupo. O projecto, deambula num campo balizado pelo death, black e algum prog, embora também se possam fazer referências ao gótico - A melodia acústica de “Suicide Note”… - e a explosão de “Music for the Recently Bereaved” atirar o ouvinte para um caos sonoro algures entre o math core e o prog death.

Chegados a este ponto, poder-se-á questionar porque a referência estigmatizante de Akercocke, ela justifica-se não apenas na voz de Peter Benjamin, mas por duas características que caracterizaram o grupo britânico: a procura de novos campos sonoros e a incapacidade de serem efectivamente inovadores, que muitas vezes resultava na frustração do “quase”, particularmente quando a inovação passava a monotonia e repetição de uma fórmula. Isso verifica-se aos três minutos de “Music…” em que já se antevê a imaginação musical a ultrapassar a capacidade de produção e composição.

Tal como em Akercocke alguma esquizofrenia e bipolaridade estão omnipresentes, e quando o ouvinte chega a “Vicarious Lover” já o organismo assimilou as ideias de Voices e sua atmosfera anacrónica: Linhas melódicas, vocais limpos e/ou guturais, passagens narradas, sons death, math e por vezes prog metal. Caótico, por vezes muito bem executado (aquela bateria de David Gray), outras questionável, particularmente nas letras, como quando Peter Benjamin canta “Did you spread your legs for him/do way you do for me”, em voz semi-operática, como se pode escutar em “Last Train Victoria Line”. É fácil ver que não resulta muito bem, mesmo que o disco pretenda ser conceptual.

É claro, desde o início, que os ambientes criados pretendem ir para lá da paisagem sonora e interagir com o ouvinte, fazendo-o reagir às mudanças de ritmo e provocando diferentes estados de humor. Nesse ponto o disco funciona bem, roçando quase o experimentalismo como no final de “Imaginary Sketches of a Poisoned Man”, uma daquelas faixas que permite perceber o ambiente esquizofrénico criado em “London”. Não conhecendo as letras todas, reconhece-se perfeitamente que o disco pretende retratar não só a esquizofrenia de uma relação conflituosa, como também a desorientação natural de quem passeia em Londres, por isso nos títulos das músicas e nas letras há tantas referências geográficas a pontos da cidade ou características suas como o nevoeiro, por exemplo. Este é um daqueles pontos em que o disco resulta bem e se louva o experimentalismo do quarteto.

Ambicioso seria a melhor forma de descrever este trabalho. Se o quarteto britânico consegue ser bem-sucedido já é outra história. “London” não é de audição fácil e não pode ser abordado num momento qualquer…

Nota: 8/10

Review por Emanuel Ferreira