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Wells Valley - "Matter as Regent" Review


Ao longo da vida do Metal Nacional têm surgido trabalhos que pelas mais variadas razões marcam os tempos que vivemos. Muito já se fez e já se faz, por isso a capacidade de se criar uma identidade própria dentro deste género nunca é tarefa fácil, sendo esta feita ou à custa de experiências consecutivas, com o risco de desvirtuar as intenções inicialmente projectadas ou do talento pessoal dos músicos envolvidos. Neste caso, os Wells Valley combinam este dom com a experiência e visão de alguns dos seus elementos que em conjunto assimilam a dita tradição de peso no nosso panorama. Seja pela multidimensionalidade artística de Filipe Correia (Concealment), pela capacidade de produção orgânica de Pedro Mau (Kneel) ou simplesmente pela presença invisivelmente marcante de Pedro Lopes, o que é certo é que este primeiro trabalho “Matter as Regent” vai ficar na história como um disco que ultrapassa largamente os horizontes tradicionais da maneira de pensar a música extrema Portuguesa.

Com apenas 6 temas, os Wells Valley definem e redefinem o termo de qualidade que é preciso impor na escrita musical actual. “Ghost of You” é um tema que incorpora um ambiente ilusionista, levando-nos a viajar numa galáxia onde somos assombrados pelas melhores e piores memórias da nossa existência. “The Star Over a Wheel” induz-nos para uma realidade Voivodeska quando a melodia vocal quebra o seu  início impetuoso, esta alternância dá ao tema uma aura de expulsão da frustração e raiva acumulada tornando esta combinação quase fatal. “Hands are Void” segue-se e quase que nos penitencia pela sua tristeza distorcida, arrastada pela dissonância das suas notas, sente-se quase que um choro gritado que custa a sair. “Sacred Mountain” apresenta-se como um dos temas mais pesados e variados, servindo de um bom catalisador para dar seguimento ao resto do álbum. “Plead for Light” cativa-nos com as suas diferentes texturas e atmosferas, obrigando-nos a um contorcionismo auditivo exemplar. “Kingdom of Salvation” termina este ciclo de experiências da melhor maneira, a música tem peso, tem passagens rápidas, tem suavidade, tem agressividade e tem um refrão monumental.

Feito num mundo à parte, devo assumir que este “Matter as Regent” conquista-nos pela sua simplicidade, algo a que não estamos habituados, derruba-nos pela sua criatividade e preenche-nos com a sua sensibilidade. Não que seja importante fazer previsões, mas estou certo que estamos na presença de um dos melhores trabalhos nacionais deste ano. Audição obrigatória para todos os que gostam de música.

Nota: 9.7/10

Review por Pedro Pedra