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Reportagem: Mono e Helen Money @ Hard Club, Porto - 06/05/2015



Um concerto de Rock em que a “banda” suporte é uma violoncelista, poderá soar estranho, mas quando se trata de uma actuação dos japoneses Mono e uma produção da Amplificasom, tudo se torna mais claro. 

Resta explicar que a violoncelista era Alison Chesley no seu projecto Helen Money. Apesar de tudo a sua presença não causou estranheza ao público que ia preparado para a receber assim que na sala 2 do Hard Club ecoaram os primeiros acordes de “Rift”, faixa de abertura do seu trabalho de 2013, “Arriving Angels”. À segunda faixa, “Too Heavy”” entrava-se no território de “In Tune” de 2009. Com “Radio Recorders”, um conjunto de sons de bateria criaram uma dimensão mais intensa à prestação da doom-cellista que acompanha a corrente digressão dos Mono. “Hendrix” seria a única faixa do seu álbum homónimo, de estreia, em 2007, num leque de sete faixas que ilustraram a presença desta artista por território nacional. Ficou a curiosidade de ouvir e ver mais do seu trabalho, face à excelente actuação.

Não seria preciso um suporte assim tão enigmático para criar expectativas numa sala esgotada, pois o quarteto japonês já tinha actuado no Porto e todos sabiam ao que iam. Yoda, Takada, Tamaki e Taka possuem bastantes fãs por cá e mais uma vez não os desiludiram. Descrever a música de Mono passa obrigatoriamente pelo uso de termos como “suave”, “delicado”, mas também obriga a referir a complexidade de um origami ou a violência e sexualidade de uma pintura como “The Dream of the Fisherman's Wife” de Hokusai. Isto porque ao longo de sete temas foram estas as sensações e imagens que passaram na mente desde os primeiros acordes de “Recoil, Ignite” até ao encerramento com “Everlasting Light”. Tamaki Kunishi era o único elemento de pé, em palco, com os dois guitarristas quase sempre sentados. 
Com “Unseen Harbor”, em que a japonesa trocava o baixo pelos teclados, em que se sentou, percebeu-se a sua necessidade de mobilidade. Takaakira "Taka" Goto, do lado direito do público ia gesticulando qual maestro que segue as notas que ecoam na sala e guiou o colectivo na fabulosa “Ashes In The Snow” em que o crescendo musical terminou com o gongo de Yasunori Takada. Por esta altura, apenas mais um tema restava no alinhamento, ficando simultaneamente a sensação de preenchimento e a falta de ouvir ainda mais. Face aos dois trabalhos editados em simultâneo em 2014 – “The Last Dawn” e “Rays of Darkness” - ficava alguma expectativa face à forma de apresentação, mas no final ambos acabaram retratados como discos separados, com poucos dos seus temas incluídos no alinhamento da noite, baseado principalmente em “Hymn to the Immortal Wind” de 2009. Fica a esperança para uma noite em que a execução na íntegra de ambos permita perceber ainda melhor a sua cumplicidade. Numa actuação perfeita, esta terá sido a única expectativa não superada.


Texto por Emanuel Ferreira
Fotografias por Daniel Sampaio
Agradecimentos: Amplificasom