A Relapse tem o dom de ir buscar as bandas mais incríveis antes de toda a gente e os Hope Drone são mais uns exemplos disso mesmo. É certo que a pontaria da editora independente norte-americana nem sempre está afinada, mas a quantidade de tiros em cheio no alvo supera largamente aqueles que nem sequer chegaram perto. O black metal pode até nem ser dos géneros mais comuns de encontrar no catálogo da editora, mas “Cloak Of Ash” figurará definitivamente entre as melhores propostas.
Das duas, três: uma banda que tem como primeiro tema do seu primeiro álbum um épico de black metal distorcido e atmosférico ou é louca e não está em contacto com o seu real talento ou é genial. Depois de ouvir isto pende-se automaticamente para a segunda hipótese.
Não há grandes palavras para descrever a beleza de “Unending Grey”, conseguindo juntar no mesmo tacho nomes como Neurosis e Cult Of Luna (nas melodias apocalípticas), Anathema e Alcest (na melancolia etérea que emana apesar da sujidade do seu som) e Anaal Nathrakh(pela adorável javardeira que se ouve). Esta não será mais quem uma descrição tão parva como qualquer outra, e é provável (de certeza!) que cada um que ouvir encontrará as suas próprias referências e é esse o seu poder, a capacidade de falar das mais variadas maneiras, transmitir várias emoções, tocar o ouvinte, quem quer que ele seja. Se é de coragem colocar uma faixa destas em primeiro lugar, o pior fica para o ouvinte, que depois disto fica completamente de barriga cheia. O que nos vale é que o que vem a seguir está ao mesmo nível.
Com mais seis faixas, onde a mais pequena tem seis minutos, a as restantes rondam entre os nove e dez minutos. Não basta ter tempo alargado para que uma música seja épica, até porque quando a coisa é forçada , há tendência para que o marasmo se instale. Os Hope Drone podem estar bem orgulhosos porque em quase oitenta minutos de música não existem momentos mortos, não existem momentos em que se olha para o relógico. Este álbum de estreia – e dá que pensar que se uma banda manda uma bujarda destas na estreia se terá criatividade que chegue para a superar num segundo trabalho – é de uma qualidade doentia. Perdendo o receio de estar a dizer o mesmo daqui a um mês com outro lançamento qualquer, este será sem dúvida um forte candidato ao melhor álbum do ano, se não o melhor até agora. Obrigatório conhecer esta banda, mesmo que não se goste do estilo, obrigatório ouvir “Cloak Of Ash”!
Nota: 9.6/10
Review por Fernando Ferreira
