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Entrevista a Sabaton


A Metal Imperium teve o prazer de falar com Joakim Broden, o carismático vocalista do grupo de heavy metal sueco Sabaton, acerca do novo álbum da banda e das suas recentes mudanças no line-up. Este foi o resultado.

M.I. - Já passaram 11 anos desde que lançaram “Primo Victoria”, o vosso álbum de estreia. Como é que te sentes quando vês o que conseguiste alcançar desde então?

Bem, eu tento não pensar demasiado nisso, mas uau não acredito que já se passou tanto tempo. Ao que parece o tempo passa a voar quando nos estamos a divertir, suponho. Bem nós não mudamos muito, sendo que desde então temos feito sempre o mesmo, compor música e andar em tour.

M.I. - Mas houve algo a mudar ao longo destes anos todos?

Não muito, se pensarmos bem nisso. Como é de conhecimento geral tivemos algumas mudanças no nosso line-up, pessoal a entrar e a sair da banda ao longo dos anos, mas para mim o sentimento \manteve-se. Continuo a ficar nervoso sempre que lançamos um novo álbum, a sentir aquela pressão sempre que escrevo músicas novas, ainda me sinto ansioso antes de entrar em palco para um concerto. Óbvio que as coisas foram mudando entretanto, eu pessoalmente estou uns kg mais gordo do que estava (risos), mas o importante e o esquema das coisas manteve-se sempre como tem sido desde o início.

M.I. - Apesar de ainda não ter passado muito tempo desde o lançamento do vosso novo álbum “The Last Stand” como é que achas que tem sido o feedback tanto por parte dos vossos fãs? E da crítica?

Eu ainda não fui ler as críticas que saíram entretanto, mas tenho andado bastante atento às reações e aos comentários por parte dos nossos seguidores nas redes sociais, em especial no facebook. No entanto, da maneira como vejo as coisas creio que nunca saímos a ganhar. Se mudarmos demasiado o nosso som, vamos ter cerca de 50% dos nossos seguidores a queixarem-se que não tem nada a ver com o som “clássico” de Sabaton, que não estamos a ser fiéis à banda, etc., se por outro lado continuarmos na mesma linha daquilo que temos feito desde o início, o que aconteceu com este álbum, então vamos ter os outros 50% a queixarem-se de que estamos demasiado presos ao mesmo estilo e que não somos capazes de inovar. Como não podemos agradar a todos de forma alguma, neste caso encontramos os elementos “clássicos” de Sabaton com uns detalhes novos, algo que tentamos sempre fazer, puxando um pouco as fronteiras da originalidade enquanto não nos afastamos muito daquilo que nos caracteriza.

M.I. - Como é que descrevias quais são os elementos musicais “clássicos” de Sabaton a quem não conhece bem a vossa música?

Teria que dizer que os elementos musicais que mais nos caracterizam são as harmonias nos riffs e o coros das vozes. A forma como fazemos os arranjos nas nossas músicas também são algo que nos distingue e é muito característico do nosso som, fica aquele ponto de equilíbrio entre o heavy metal clássico da década de 1980 com os elementos sintetizados mais modernos e com um toque de coros de igreja, tudo junto com um produção e vibe mais moderna.

M.I. - São então uma banda de heavy metal clássica com um toque mais modernizado...

Sim, é isso mesmo. Ninguém pode negar que temos raízes musicais profundas nos clássicos do heavy metal e que foi isso que nos ajudou a definir e a lançar a nossa música.

M.I. - Na sua essência este álbum tem os mesmos elementos de base como “Heroes” lançado há dois anos atrás,  embora incorpore novos elementos como as gaitas de foles no tema “Blood of Bannockburn”. Como é que surgiu essa ideia?

Bem, é uma música com a afinação em D maior (ré maior), e as gaitas de foles são tocadas numa escala maior, por isso encaixavam ali bem, especialmente tendo em conta que é um tema sobre uma batalha escocesa ainda mais sentido faz. Mas esta não foi assim a única ideia mais diferente e fora do vulgar que encaixamos neste álbum. Por exemplo, no tema “The Lost Battalion”, a bateria foi substituída por uma metralhadora de calibre .60 e a tarola é uma pistola de 9mm. Esta música tem assim este tom mais industrial, porque achamos que se encaixava bem no tema. Como disse anteriormente, nós ainda temos alguns truques nas mangas para usar e continuar a dar um toque fresco aos nossos lançamentos, embora fiquemos sempre dentro do estilo de Sabaton.

M.I. - Tens alguma música favorita deste álbum? Qual é?

Sim, todas e nenhumas (risos).Desculpa, mas é uma pergunta bastante difícil de responder. Muda todos os dias, a resposta hoje vai ser diferente daquela que te daria ontem ou amanhã, está sempre a mudar.

M.I. - Passando agora às letras das músicas. Os temas dos vossos álbuns têm sempre como base a história militar, acabando sempre por ter uma vertente educativa nesta área. Algum de vocês +e formado em história? Porquê este fascínio pelo tema?

Eu tenho que admitir que tenho um interesse e fascínio bastante grande por história, sou um autêntico nerd na verdade, mas não sou nenhum especialista, nem nenhum de nós da banda é formado no tema. Por vezes pode parecer que sim, visto que temos sempre o cuidado de fazer uma pesquisa extensa sempre escrevemos e trabalhamos as letras das músicas, embora sejamos uns meros amadores, mesmo que uns amadores extremamente interessados no tema. Posso no entanto dizer que nós temos um conhecimento de história militar mais extenso do que aquele dos comuns mortais. Eu consigo ter uma noção básica da grande maioria dos conflitos militares ao longo da história, consigo-te dizer as datas, o porquê de terem acontecido e o local onde tiveram lugar, mas não me consigo alongar muito mais que isso. Creio que seja um bom começo para as nossas letras.

M.I. - Dirias que tens gosto de ensinar os teus fãs um pouco mais sobre história?

Sim, embora sejamos uma banda de heavy metal e não professores, ficamos contentes quando vêm ter connosco e nos dizem que aprenderam coisas novas sobre o tema por causa das nossas músicas. Creio que as pessoas, em especial a nossa base de seguidores, gostam de se relacionar com estes temas, pois também é uma forma de criarem algo novo, baseando-se em algo que aconteceu com um pouco de fantasia e imaginação.

M.I. - Tens algum período, ou batalha, na história que aches particularmente mais interessante?

Sim e não. Depende um bocado dos dias, por vezes estou numa fase em que ando a ler tudo o que encontro sobre a 2ª Guerra Mundial, outras vezes sobre batalhas medievais, ou até mesmo sobre as guerras Napoleónicas, não sei bem ao certo.

M.I. - Recentemente sofreram alterações no vosso line up com a saída do guitarrista Thobbe Englund da banda. Como é que foi o processo de encontrarem um novo substituto para ele (o novo guitarrista é Tommy Johanssen)?

Bem começando por aquilo que aconteceu, posso dizer que foi uma situação bastante simples, o Thobbe veio ter connosco um dia há uns meses atrás e disse que queria sair da banda. Nós perguntamos-lhe se havia algo que pudéssemos fazer para evitar a situação, e ele disse que não voltava atrás na decisão. Foi um pouco triste, porque ele além de membro da banda é nosso amigo, para mim em particular ainda me custou mais, porque desde o início que sempre me dei bastante bem com ele, mas compreendi as razões que ele apresentou. Se ele não se sente mais capaz de fazer tudo isto a um ritmo completamente alucinante, é compreensível, por a meu ver precisas de ser um bocado louco para passares cerca de 180 dias na estrada, a dares uma média de 150 a 160 concertos por ano, longe de casa e da tua família. Todos os músicos querem estar numa banda rock e sair para fazer concertos em grandes palcos para casas cheias, mas depois acabas por chegar a uma certa idade e começas a ver que isto não é para todos, algo que eu sou perfeitamente capaz de respeitar. Nunca vais saber sem experimentar se este sonho é ou não de facto a vida que vais querer ter sempre, pelo menos é assim que vejo isto.
Encontrar um substituto para ele, foi no entanto um processo bastante rápido e simples. Fomos falar com o Tommy, a pessoa com a qual já tínhamos conversado anos antes para se juntar a nós, creio que em 2012, algo que não chegou a acontecer pois ele encontrava-se indisponível na altura. A meu ver, ele encaixa-se perfeitamente na banda, pois além de ser fã do nosso trabalho desde 2005, sempre esteve connosco nos nossos concertos e até chegou a fazer uma cover da música “Primo Vitoria” com uma das suas bandas. Além de que, e importa mencionar, ele é um guitarrista e vocalista fantástico.

M.I. - Os vossos concertos são conhecidos por terem sempre um teatralidade enorme por detrás, bem como por vocês serem uma banda bastante comunicativa e com sentido de humor. Consideras que o palco é o teu “habitat natural”?

Sim, completamente. Há duas coisas que eu adoro e que sinto sempre falta relativamente à música. A primeira é aquela sensação de quando começo a escrever as letras para um álbum e as coisas vão ganhando forma, a outra é quando estou em palco. Há várias razões pelas quais ainda continuo a fazer disto a minha vida, no entanto estas duas são as que me fazem continuar e me dão força, quando vejo todos os sacrifícios que fui fazendo na minha vida para chegar onde cheguei. Quando estou em palco a sentir toda a aquela energia, vale a pena, pois ali só o agora é que existe, estou a sentir o momento, não interessa o segundo antes, nem o seguinte, apenas o aqui e o agora, que é aquilo que eu realmente gosto. Não há muitas oportunidades na vida para me sentir assim, por isso quando estou em palco vivo isso ao máximo, e só o momento importa.

M.I. - És aquilo que se pode chamar um verdadeiro entertainer. Eu recordo-me de que quando vos vi ao vivo no Porto em 2014 que tu perguntaste ao público quais eram as músicas que queriam ouvir, que estavas ali por gosto e a absorver toda a energia da sala...

Isso que descreveste é o que torna tocar ao vivo ainda mais divertido. Se nós tivéssemos exactamente o mesmo set, disséssemos as mesmas coisas e fizéssemos as mesmas piadas noite após noite depressa nos fartávamos de tudo isso. Nós começamos a tocar heavy metal para não termos que andar a fazer a mesma tarefa repetitiva e aborrecida todos os dias das nossas vidas.

M.I. - Há uns meses atrás apareceu um vídeo na internet onde apareces a caminhar uma longa distância para um concerto vosso (cerca de 500km) a pé porque perdeste uma aposta. Queres partilhar connosco o que aconteceu realmente para acabares assim?

Não posso, pelo menos não nos próximos meses (ou até mesmo anos) estou proibido de revelar ao certo qual foi o assunto da aposta que perdi. Mas posso adiantar que isto teve lugar na festa de aniversário de um dos produtores que tratou da produção e da mistura do som do nosso primeiro álbum, “Primo Victoria”, sendo que foi uma noite bem regada, onde certas conversas tiveram desfechos interessantes. Tanto que, a manhã seguinte quando acordei foi provavelmente o meu momento menos agradável daquela semana, em especial quando me apercebi que ia mesmo ter que começar a andar para chegar ao nosso próximo concerto a tempo (risos).

M.I. - Achas que tanto este vídeo do desfecho da aposta, como aquele em que vocês aparecem a tocar enquanto estão a participar numa aula de spinning vos dá a imagem de serem uma banda mais acessível e descontraída?

Sinceramente não sei, tanto que, quando os vídeos foram feitos a intenção não era essa. Nós apenas gostamos de nos divertir e de experimentar coisas diferentes. Somos uma banda que leva a música, e os temas que exploramos, bastante a sério, no entanto não nos levamos a nós mesmo da mesma forma, o que acredito que acaba por ser uma coisa positiva. Não me preocupo muito com aquilo que dizem de nós e das brincadeiras que fazemos, em especial não ligamos nem um pouco quando dizem que o vídeo de nós a tocarmos na aula de spining não é “metal o suficiente”. Aliás, deixo aqui esta questão: quantas bandas é que há por aí que conseguem tocar e cantar heavy metal numa aula de spining na qual estão a participar, pedalando ao mesmo nível sem parar da turma toda? Não há muitas que estejam suficientemente em forma para conseguirem uma proeza dessas (risos).

M.I. - Qual é que foi a coisa mais estranha, ou mais surpreendente e positiva, que um fã te fez?

Bem, a mais estranha foi uma rapariga que veio ter comigo e me disse que eu a tinha engravidado. Fiquei bastante surpreendido, ainda para mais porque não me lembrava de a ter visto antes nem nunca cheguei sequer a aproximar-me dela, muito menos ter relações sexuais com ela. O mais incrível é que agora, quase 3 anos depois, ela continua a dizer o mesmo e a suposta criança ainda não nasceu (risos). Em relação a surpresas que fãs nos tenham feito, não sei mesmo por onde começar, o amor que sentimos e as memórias positivas são tantas que é difícil escolher apenas uma, algo que até pode ser visto como um bom sinal, creio eu.

M.I. - Daqui a uns tempos vão começar uma tour, estás entusiasmado? Vão tocar a algum lado onde ainda não tenham estado antes?

Sim, vamos! Nós temos uma espécie de “regra”, de que em cada tour de um novo álbum temos que ir tocar a um local novo, algo que até agora temos sempre conseguido e que vamos fazer agora coma tour de “The Last Stand”. Estou bastante entusiasmado por andar a viajar e a tocar ao vivo, em especial nos locais onde podemos ter um espectáculo com grande produção. Também estou muito contente por ir partilhar o palco com Accept, na tour europeia, visto que eles são uma das minhas bandas favoritas.

M.I. - Após esta tour, qual é o próximo passo para os Sabaton?

Bem, após esta gigantesca tour, vamos voltar a casa e começar a escrever um novo álbum. Para nós não para, é lançar álbum, fazer tour, compor novo álbum e repetir tudo de novo. É o nosso esquema e até agora tem resultado bastante bem, por isso não o vamos mudar (risos).

M.I. - Para quem nunca vos viu ao vivo, o que podem esperar do vosso concerto em Portugal no mês de Janeiro?

Idealmente, muita energia das duas partes, quando o público está inspirado, algo que acontece sempre que tocamos aí, o ambiente na sala é fantástico. Da nossa parte podem esperar boas músicas e muita diversão.

M.I. - Para terminar, queres deixar alguma mensagem para os fãs de Sabaton aqui em Portugal?

Só vos quero agradecer por todo o apoio que recebemos vindo daí. Não são as plateias mais cheias que temos, mas acabam sempre por ser dos melhores e mais dedicados, que vivem mais a música. Espero ver-vos a todos em breve!

Entrevista por: Rita Limede