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Reportagem: Moita Metal Fest 2018 @ Largo do Pavilhão Municipal de Exposições, Moita - 06 e 07/04/2018


Dia I

Os 15 anos do Moita Metal Fest foram consagrados da melhor maneira, muito devido às notáveis enchentes, grandes cabeças de cartaz como The Exploited e Vader e outras tantas bandas nacionais e estrangeiras de renome, tendo sido possivel mais uma vez animar este verdadeiro "Circo do Rock".

Perante uma noite soturna, exigia-se talvez sonoridades negras e nada como os Dark Oath para servirem como banda sonora ideal para tal ambiente. A banda oriunda de Coimbra teve o privilégio de dar início ao festival, sob uma envolvência épica ao som de "Land Of Ours", mostrando-se à altura com o seu death metal melódico, cuja atuação teve como base o seu álbum "When Fire Engulfs the Earth", que serviu inclusive como tema final de um concerto bem conseguido.

Ainda na senda do death metal, mas desta vez com bastante veterania à mistura, seguiram-se os Sacred Sin que nos trouxeram alguns clássicos sagrados da sua autoria como "Ghoul Plagued Darkness" ou "The Chapel Of The Lost Souls" que fizeram animar as almas que se manifestaram com alguma veemência. Embora com um desempenho "curto", houve ainda tempo para o primeiro circle-pit da noite ao som de "Darkside" e de constatarmos que estávamos perante um marco do metal nacional.

Virámos o disco, mas não escutámos o mesmo. Desta vez, tínhamos o punk rock dos Viralata, o que significava que a diversão estava garantida. Sempre com muita energia, o quarteto deu a conhecer temas do seu mais recente álbum, "Rota de Colisão", como "Estrelas Decadentes" ou "Lúcio Fernando", um anagrama com o nome de um grande metaleiro chamado Lúcifer, mas não se esqueceu de outros temas que compõem a sua matriz como o entoadíssimo "Zé Ninguém" ou "Carocho", já para não falar no famosíssimo "F.A.M.E.L.". Mais um ótimo concerto dos Viralata, levando-nos até mesmo a afirmar - sem contudo querermos ferir quaisquer suscetibilidades - que foda-se esta banda é linda!

A doutrina dos Filii Nigrantium Infernalium esteve também presente neste festival, sendo que a palavra do necro rock 'n' roll foi mais uma vez espalhada com mestria. A partir de "Calypso", a banda de Lisboa iniciou a toda a velocidade o seu concerto que, apesar de alguns contratempos técnicos que poderiam ter sido compensados com a flagelação do dorso de Belathauzer, foi bem desempenhado. Finalizado o culto, ficámos ansiosamente à espera de "Hóstia" que será consagrado não a 13 de maio, mas sim a 25 de maio.

Com o intro do filme "Jaws", antevimos que muitos seriam despedaçados ao som dos Suicidal Angels e atendendo à posterior quantidade de stage-dives e circle-pits, estávamos certos. A única coisa que não conseguimos antever, foi o facto deste concerto dos thrashers gregos ter sido um dos melhores da noite. Com uma sonoridade avassaladora, a Moita tornou-se - ou pelo menos o recinto do Moita Metal Fest - numa verdadeira "Capital of War" com malhas como "Eternally To Suffer" ou "Moshing Crew", tema este dedicado áqueles que faziam a festa. Sem darem descanso, os Suicidal Angels mantiveram a mesma energia e excelente interação até final, aquando do último tema "Apokathilosis", concluindo-se que este excelente concerto não iria desparecer tão cedo das nossas memórias.

Num festival que parece ter sido dedicado à veterania, estavam reservados para o final os The Exploited, banda que consegue reunir consenso entre punks e metaleiros, sendo que todos estão sempre mais que convidados para desfrutarem do caos e da anarquia. Clássicos como "Let´s Start A War" ou "Sex & Violence" despoletaram um turbilhão de emoções traduzido em inúmeros stage-dives e outras tantas movimentações eufóricas, mas o auge deu-se aquando de "Fuck The U.S.A.", onde a dada altura foi impossível distinguir entre o palco e o chão, uma vez que todos queriam fazer parte deste memorável concerto. De volta ao nosso país, este quarteto escocês conseguiu mostrar mais uma vez de que fibra é feito, fibra que inclusive está prestes a comemorar 40 anos!

Dia II

Em concordância com o nome do festival, o segundo dia começou com metal, desta feita com heavy metal, tal como assumiu Alex Carrapiço, o líder dos Toxikull. Embora com pouca assistência, devido à hora ingrata, os Toxikull deram uma boa prova do que são capazes através por exemplo dos temas que dão nome aos seus únicos trabalhos, a saber "Black Sheep" e "The Nightraiser". Tratando-se de um grupo muito recente, o mesmo revela contudo uma boa presença em palco e espera-se deste quarteto um percurso duradouro com muito mais speed.

Pelo vale da sombra do doom, subiram ao palco os Wells Valley que se prontificaram a arrebatar os nossos ouvidos com alguns temas do seu repertório como a errante "Hands Are Void". Com outras malhas bem cunhadas de post-metal se compôs o alinhamento do trio de Lisboa, mas o destaque foi para "Set The Controls For The Heart Of The Sun", um original dos Pink Floyd, pertencente ao último EP da banda intitulado "The Orphic", lançado em abril do ano passado, e que serviu para findar da melhor maneira o concerto de um dos projetos mais interessantes no atual panorama nacional.

Diretamente do cofre do stoner rock, tivemos em seguida os Low Torque que nos trouxeram o seu mais recente disco "Chapter III: Songs From The Vault", de onde pudemos escutar "Mutant" ou "Supafreak", temas que resultam muito bem ao vivo. Mas esses não foram os únicos temas que resultaram bem em palco, pois como é sabido, "Storm Hag" do álbum anterior é igualmente portentoso. Liderada por David Pais, um vocalista com high-torque, a banda de Palmela deu assim uma excelente réplica daquilo a que já nos habituou.

Num registo completamente diferente das bandas anteriores, simplesmente mais brutal, seguiram-se os Dead Meat, um dos nomes mais conhecidos do grindcore nacional. A banda não pediu permissão para começar a destilar todo o seu alinhamento gore que se valeu do seu último trabalho de seu nome "Preachers of Gore". Comandados pela metralhadora, vulgo bateria, de Rolando Barros - sim, esse mesmo - e pela voz de Dinis, o quarteto alvejou os ouvidos dos poucos "cadáveres" presentes no recinto com "Sliced in Pieces" ou "Symphonies of Impalement", perfazendo um concerto bastante coeso.

Mais brutalidade se seguiu, a partir do momento em que os Equaleft detonaram os primeiros acordes de "New False Horizons". A banda do Porto está mais forte que nunca e consegue facilmente transmitir isso ao público, que retribuiu com uma maior presença e alguns circle-pits. Meia dúzia de temas foram suficientes para tal, entre os quais se destacaram "Once Upon A Failure" ou "Overcoming", que farão parte do próximo lançamento da banda, previsto para este ano. Resumindo, uma atuação "Maniac"!

Já ninguém arredou pé para a banda seguinte, na tentativa de aproveitar a energia que ainda se sentia no espaço, que aumentou consideravelmente aquando da entrada dos Terror Empire. 
Estes praticantes do new school thrash metal tiraram proveito desse fator e deram um recital de muito peso, onde não faltaram malhas já bem conhecidas como "You´ll Never See Us Coming" ou "The Servant". 
Concerto imperioso!

Passámos para o core com os britânicos Malevolence que instalaram imediatamente o caos, com a ajuda de muitos caratecas que compareceram no recinto propositadamente e vestidos a rigor, e que se manifestaram logo aos primeiros breakdowns. A banda de Sheffield mostrou toda a sua força com base no seu último álbum e nem os mais céticos ficaram indiferentes ao peso de "Slave to Satisfaction" ou "Trial by Fire". Para o final, ficou reservado "Self Supremacy", tema que não só deu nome ao derradeiro trabalho dos Malevolence, como também serviu de mote para a presença em palco destes rapazes.

Continuámos com o core, mas desta vez de forma muito marcante, já que se tratava da última aparição em palco por parte dos For The Glory que, após 15 anos de glória, deram como terminado o seu percurso. A atuação deu-se com muita boa disposição, muitas t-shirts oferecidas por Ricardo Dias, qual tendeiro, muitas palavras de ordem, algumas lágrimas, mas acima de tudo com aquela vivacidade, com a qual a banda de Loures nos habituou e pela qual estaremos eternamente gratos. Ainda assim, "Survival Of The Fittest" fez todo o sentido num concerto com muitos outros hinos do hardcore português. Não queremos dizer até sempre, mas sim até à próxima.

De regresso a casa, os Switchtense tiveram uma entrada "in your face", claro está com "Face Off", como já é habitual. 
A partir daí, já todos pareciam infectados com o groove da banda moitense, enquanto se desdobravam em inúmeros circle-pits orquestrados por "Infected Blood", "Super Fucking Mainstream" ou "Monsters", temas que alinharam mais um concerto monstruoso.

Também a jogarem em casa, ou pelo menos no concelho, os veteranos Ibéria ensinaram-nos que a perseverança é meio caminho andado para o sucesso. 
Neste caso, o caminho já é longo e embora não exista um vasto repertório por parte da banda de heavy rock, a música fica para a história quando é bem feita e, prova disso, é o facto de "Hollywood", um tema com 30 anos, ter sido entoado por miúdos e graúdos no final do concerto. 
E por falar em música bem feita, atentem o último álbum dos Ibéria, do qual ouvimos ao vivo malhas como "Much Higher Than a Hope" ou "God´s Euphoria", que bem soaram.

Enganaram-se aqueles que julgavam que a brutalidade tinha chegado ao fim, pois assim que os Benighted subiram ao palco acompanhados pela intro "Hush Little Baby", sabíamos que o seu concerto não seria para meninos. A banda francesa presenteou-nos com alguns temas extraídos do seu último álbum, como o homónimo "Necrobreed", mas também com temas mais antigos como a igualmente destrutiva "Let the Blood Spill Between My Broken Teeth", ajudando a perfilar um concerto com bastante interação e energia, onde se respirou garantidamente grindcore.

A Bizarra Locomotiva não podia deixar de passar pela estação da Moita para comemorar os seus 25 anos de carreira, permitindo que os fãs embarcassem numa viagem pela história da banda. Temas como "Na Febre de Ícaro", "Gatos do Asfalto" ou "O Escaravelho" pautaram uma atuação, onde a habitual ação recíproca entre Rui Sidónio e a carinhosamente apelidada de "escumalha", quer no palco, quer fora dele, foi a peça-chave para uma das melhores performances da noite, havendo ainda tempo para uma pequena  participação de Miguel Inglês, vocalista dos Equaleft. No final do concerto, os rostos de satisfação falam (sempre) por si.

Depois de um soundcheck perfeccionista, logo demorado, muitos foram aqueles que desesperaram pela chegada dos Vader que também tinham motivos para comemorar, já que passam agora 25 anos desde o lançamento do seu primeiro álbum "The Ultimate Incantation". Por isso, muitos viram a espera ser bastante compensada, já que tiveram a hipótese de ouvir ao vivo o álbum tocado na íntegra, o que provavelmente não se irá repetir mais na vida dos muitos presentes que não quiseram perder esta oportunidade. Como cereja(s) no topo do bolo, ainda tivémos o privilégio de escutar as bem conhecidas "Send Me Back To Hell" e "Cold Demons" para gáudio do lado negro da força, que se manifestou veementemente no recinto do Moita Metal Fest perante um excelente cabeça de cartaz e um dos nomes mais importantes do death metal europeu. 

Texto por Bruno Porta Nova
Fotografias por João Moura (devido a questões de ordem técnica não foi possível fotografar Vader)
Foto de For The Glory, gentilmente cedida por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Organização