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Entrevista aos Earthless


"Black Heaven" é o mais recente álbum dos Earthless, lançado pela Nuclear Blast Records. Este trio está a evoluir em termos de som e o seu material mais recente é excelente e completamente diferente do que estamos acostumados. O baixista Mike Eginton tirou algum tempo para responder a algumas perguntas e para nos contar sobre a tournée, o novo álbum e muito mais. Continuem a ler...


M.I. – O álbum “Black Heaven” foi lançado recentemente. Como é que os fãs estão a reagir ao novo som de Earthless com músicas mais curtas, vozes e tudo o mais?

As pessoas parecem estar a reagir favoravelmente ao novo álbum. Eu não vi nenhuma crítica horrível nem recebi feedback negativo até agora.


M.I. - Rubalcaba disse: "Estou pronto para lidar com um pouco de decepção das pessoas que só querem material louco. Ao mesmo tempo, acho que vão gostar de ouvir um lado diferente de nós.” Como é que os fãs estão a reagir até agora? Estão desapontados ou não?

Nenhuma decepção que eu saiba. As pessoas sempre perguntavam por que não fazíamos mais músicas com voz ou diziam que gostariam que fizéssemos mais músicas com voz. Então assim foi!


M.I. - Nos vossos álbuns anteriores, a maioria das faixas tinha 20 minutos de duração, excepto “Cherry red”, que tem 4:36 e “Equus October”, que tem 5:42. As faixas deste álbum são mais curtas. O que é que mudou no processo de escrita ou gravação que causou esta “mudança” no tamanho das faixas?

Nós queríamos escrever algumas músicas com mais estrutura. Eu acho que isso contribuiu para que os temas ficassem mais curtos. Para além disso, também queríamos fazer algo um pouco diferente. Há mais de 15 anos que tocamos músicas parcialmente improvisadas. Penso que estava na hora de uma pequena mudança.


M.I. - Como as faixas são mais curtas, achas que serão mais fáceis de ouvir? Será que os Earthless vão passar a ter mais fãs com “Black Heaven”?

Eu acho que as músicas mais curtas são mais acessíveis. Neste sentido, podemos vir a ter mais fãs.


M.I. - De acordo com a banda: “Nos álbuns mais antigos, Mike era responsável por muitos dos riffs, mas neste álbum, o Isaiah realmente trouxe o seu próprio entusiasmo e toque pessoal. Eu diria que essa é uma das principais diferenças neste álbum: o Isaiah contribuiu mais.” É esta a causa da mudança no “estilo” da banda?

O Isaiah apresentou uma demo com três músicas bastante completas. Três das quatro faixas tinham voz. Isso provavelmente contribuiu para a mudança no som, já que é a maior parte do álbum.


M.I. - O álbum tem uma duração de 39:39… bastante estranho, certo? É uma coincidência?

É um pouco estranho e eu gostaria que houvesse alguma explicação lógica para isso, mas é apenas uma coincidência.


M.I. - Como correu a parte americana da tournée?

Correu muito bem. Foi óptimo estar na estrada com os Kikagaku Moyo e JJUUJJUU. Foi incrível ouvir e assistir às duas bandas a tocar todas as noites e acho que o cartaz atraiu boas multidões.


M.I. - Vocês também andaram em tournée pela Europa... quais eram as vossas expectativas? Gostarias de tocar em algum lugar em particular? Porquê?

Eu realmente não tenho nenhuma expectativa para as tournées. Só espero que todos os lugares sejam tão bons, ou melhores que os anteriores. Acho que há locais que nós gostamos mais do que outros, o que geralmente tem a ver com o som no palco e se podemos nos ouvir ou não lá em cima.


M.I. - Comparando o público em todo o mundo... Quais as diferenças, que valem a pena mencionar, entre os fãs de Earthless de país para país ou de continente para continente?

Sim, existem alguns lugares onde as pessoas ficam loucas durante os concertos e querem fotos e autógrafos quando terminamos e há alguns lugares onde as pessoas estão mais calmas e apenas vêm para o concerto e depois vão-se embora. Os concertos que tocamos no México foram bem loucos, enquanto o concerto que tocamos em Oklahoma City foi bastante descontraído.


M.I. - Como mantens a sanidade quando estás em tournée?

Simplesmente a mantenho. De certo modo, é um trabalho, e eu tenho a tendência para pensar dessa maneira. As viagens mais longas podem ser muito duras, por estarmos presos numa carrinha o dia todo. Mas somos amigos e mantemo-nos entretidos.


M.I. – Qual é o objetivo principal por trás do lançamento oficial de trailers antes do lançamento do álbum "Black Heaven"?

Apenas promoção, começar a agitar as coisas um pouco antes do lançamento do álbum.


M.I. - Nos trailers, é possível ver o Isaiah com uma atitude relaxada e roupa muito descontraída... é assim que ele costuma tocar?

Sim, ele é uma pessoa muito relaxada. Somos todos muito casuais.


M.I. - Por que há tantos olhos na capa? Qual é o significado?

Os olhos têm sido um tema recorrente nas nossas capas. A arte da capa foi feita por Andy Sloan. Ele, frequentemente, usa olhos no seu trabalho, mas não acho que haja algum significado real por trás disso. Nós apenas gostamos de globos oculares.


M.I. – Tema pós-apocalíptico por quê? Por que têm a tendência para escrever sobre isso? São pessoas negativas ou é mais fácil trabalhar com as letras… tentando encaixar as palavras na cadência que criaram?

Essa é uma pergunta para o Isaiah. Eu não acho que somos pessoas negativas. Talvez o apocalipse seja algo que temos em mente devido ao nosso clima social e político actual.


M.I. – O Rancho de la Luna Studios parece bastante acolhedor... sentes-te melhor se estiveres a gravar num ambiente confortável? Levantavam-se durante a noite para gravar algum riff se tivessem uma ideia incrível? Como foi a experiência de gravar lá?

Eu acho que gravar num ambiente confortável é muito mais fácil. Como disseste, o Rancho tem uma sensação aconchegante e foi super fixe. Nós tínhamos um cronograma definido em que trabalhávamos do meio-dia às dez da noite. Não íamos ao estúdio a meio da noite, mas como ficávamos na propriedade juntos, então se surgisse uma ideia, poderíamos trabalhá-la em conjunto. A experiência geral foi ótima.


M.I. - É mais fácil fazer uma tournée com este álbum quando comparado com os outros em que as músicas eram bem mais longas?

Na verdade, foi o oposto quando começamos a tocar estas músicas ao vivo. Nós queríamos manter a sensação de um concerto de Earthless onde não há pausas entre as músicas e, no início, foi um pouco estranho tentar transformar estas músicas numa só peça. Agora já temos tudo orientado.


M.I. - Qual é a música mais perfeita alguma vez produzida? Porquê?

Haha! Essa é uma pergunta incrivelmente difícil de responder e acho que não consigo.


M.I. – Já andam por cá há mais de 15 anos, houve alterações no vosso relacionamento com os fãs? As lições de guitarra online do Isaiah ajudaram a estreitar o vínculo?

Bem, ao longo dos anos, enquanto andávamos em tournée, fizemos muitos amigos e também conhecemos novas pessoas graças às lições de guitarra do Isaiah.


M.I. - Desde que assinaram com a Nuclear Blast, ouviste algumas bandas dessa editora? Qual delas te surpreendeu mais e por quê?

Na verdade, não verifiquei muitas bandas da Nuclear Blast, infelizmente.


M.I. - Como é que as mudanças te afectaram como pessoa e como músico? Tens medo do futuro dos teus filhos?

Não sei. Acho que me tornei mais tolerante quando envelheci. Haha! Como músico, gostaria de pensar que me tornei mais proficiente no meu instrumento e que me tornei mais interessado em diferentes tipos de música ao longo do tempo. Não estou muito preocupado com os meus filhos. O passado foi cheio de eventos horríveis e o mundo sempre foi atormentado pela estupidez. As pessoas descobriram como sobreviver. Tenho certeza que a geração dos meus filhos vai descobrir também.


M.I. - A indústria da música sofreu algumas “baixas” no ano passado, todas por suicídio. Por que achas que tantos músicos optam por essa saída?

É verdade. Eu acho que os artistas em geral são um pouco mais sensíveis ao mundo em seu redor do que a maioria das pessoas. Talvez as coisas sejam um pouco mais intensas para nós. Podemos usar a música ou a arte como libertação emocional em vez de falar. Não posso falar pelas pessoas que cometeram suicídio, mas imagino que pode ser difícil continuar se não conseguirmos superar o sentimento de morte iminente ou o pensamento de que o mundo é um lugar horrível para se estar.


M.I. – De que bandas psicadélicas és fã?

Ah, há tantas. Algumas das minhas favoritas seriam November, Los Dug Dugs, The 13th Floor Elevators, Trad Gras Och Stenar, Sand, Ash Ra Tempel, para citar alguns. Algumas bandas actuais das quais também sou um grande fã são Crypt Trip, Monarch, Kikagaku Moyo e Sacri Monti.


M.I. - Adoras comida... quem cozinhava enquanto estavam a gravar no rancho? Quem é o melhor cozinheiro? Qual foi o melhor prato que comeste enquanto estiveste lá? Gravar com estômago cheio de boa comida é completamente diferente de gravar com o estômago vazio, hein?

Dave (Catching) foi quem realmente cozinhou mais enquanto estávamos no rancho. Ele é um excelente cozinheiro. Uma noite ele grelhou algumas pimentas que estavam incríveis. Sim, há menos urgência e agressividade quando estás a gravar com o estômago cheio... pelo menos para mim.


M.I. - Que outros interesses tens para além da música?

Sair com a minha esposa e filhos. Ouvir discos, mas acho que isso é música.


M.I. - Se não fossem os Cream, não haveria Earthless ... já imaginaste onde poderias estar se não estivesses nos Earthless? O que serias? Músico na mesma?

Não sei. Eu acho que poderia estar noutra banda ou talvez ser empregado de mesa. Acho que nunca pensei muito nisso, mas estou feliz por estar nos Earthless e poder fazer música com dois dos meus melhores amigos e celebrar com outras pessoas que gostam disso.

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Entrevista por Sónia Fonseca