Dia 1
Ano novo, fórmula nova para o festival Hell of a Weekend. Para este ano, a Hell Xis decidiu apostar na sala lisboeta do RCA, em detrimento de Corroios onde aconteceu o ano transacto. Para além desse facto, a aposta foi em estender o certame por três dias, ao invés dos dois de 2017. Curiosamente, a edição deste ano tardou em ganhar a potência que nos tem habituado, por culpa de um Junho muito atípico em termos de meteorologia, e que decidiu brindar a quinta-feira de arranque do festival com chuva. Com a seleção de Portugal a jogar à hora de jantar, foi com uma plateia despida de headbangers que os algarvios Villain Outbreak subiram ao palco do RCA. Com a banda a tocar a sua própria intro, ao invés de uma faixa gravada, entraram em força com “Shaken Faith”, que antecedeu 30 minutos de uma performance potente, e onde já se incluiu um tema novo, “Rivals”, do disco que se encontram a gravar, e que desde já promete bastante qualidade.
Os Don’t Disturb My Circles eram a banda mais diferente do cartaz do primeiro dia do Hell of a Weekend mas nem por isso deixaram que isso os intimidasse. O seu punk hardcore aqueceu a plateia para o que viria a seguir, com a banda a anunciar que estão em gravações para um novo EP, facto pelo qual vão “desaparecer” dos palcos até ao final do ano.
Os lisboetas Hills Have Eyes tinham bastantes adeptos presentes na sala e isso notou-se desde o primeiro minuto que a banda de Fábio Batista entrou em palco. Apesar do escasso espaço, uma vez que a bateria estava montada à frente da bateria dos cabeças de cartaz da noite, a banda fez a festa apesar de apenas ter tido tempo de apresentar um punhado de faixas. “Never Quit”, “PinPoint” e “Hold Your Breath” ficaram na memória de quem se deslocou à abertura do Hell of a Weekend.
Mas eram os Caliban que a grande maioria tinha vindo para ver. Nove anos depois de terem aberto o concerto dos Kreator no Porto, Foi com a novidade “This Is War”, retirado do novíssimo “Elements”, que o quarteto arrancou a sua prestação, logo seguido de “Walk Alone” com o mosh a iniciar-se. Do último disco marcou presença o potente “Intoxicated”, antecedido por “Paralysed” e “Intoxicated, seguindo para “Devil’s Night” e “Mein Schwarzer Herz”. “Ich Blute Für Dich”” e “Before Later Comes Never”, ambas do novo disco, marcaram também presença, numa actuação que mostrou Andreas Dörner muito falador com o público, levando mesmo ao vocalista germânico a mergulhar para a plateia, que o levou em braços algumas dezenas de metros até o entregar de novo ao palco para encerrar o concerto com “Memorial”.
Dia 2
O dia forte do Hell Of A Weekend reunia grandes nomes do hardcore nacional e internacional. Infelizmente, por motivos alheios à sala e à organização, houve a necessidade de adiantar o início do concerto, fazendo com que os algarvios M.E.D.O. tomassem lugar no palco uma hora mais cedo do que o previsto. Felizmente, foi interessante ver que a comunidade hardcore respondeu da melhor maneira, mostrando presença e energia na frente de palco. Realce para uma perninha na bateria de Ivo Salgado, ex-Okkultist e actual Mordaça, que deu uma perninha num dos temas, ele que tomou conta das peles imediatamente a seguir, com uma actuação potente dos Mordaça. Depois da estreia no Stairway, Ivo mostrou que está para durar na banda de Linda-A-Velha, arrancando excelente prestação em faixas clássicos como “De Costas Voltadas” ou “Tiro P’la Culatra”, para além de “2795”, hino dedicado a LVHC.
Os londrinos Knuckledust chegaram a Lisboa com vinte anos de uma carreira repleta de grandes discos. “Sick Life” despoletou a energia de uma sala que teimava em encher a conta gotas, com Pierre sempre a picar a plateia para se chegar mais à frente. Com uma actuação bastante eficaz, a raiar o limite do violento, deixaram a sala em alvoroço até final, preparando o piso para quem vinha atrás.
E quem se seguiu em cima do palco foram os holandeses No Turning Back. Tal como antes, também Martijn se fartou de pedir que o grosso da plateia se chegasse mais à frente, algo que timidamente foi acontecendo, até que à quinta música já os indefectíveis ocupavam o seu lugar. O primeiro stage diving acabou por selar uma excelente prestação do quinteto do país das tulipas, que aproveitou para elogiar a cena hardcore lisboeta e confirmar o regresso ao nosso país na segunda semana de Setembro, no Algarve.
De Boston chegaram os Slapshot, que apesar de três dezenas de anos de carreira, mostrara,-se incansáveis. Jack “Choke” Kelly ganhou imediatamente pontos com a plateia lisboeta quando depois de tentar algumas palavras em português, declarou que é filho de uma senhora lusitana, da qual herdou o apelido Cabral. Foi enorme a prestação da banda, arrancando com “No Friend” e nunca mais perdendo o rumo e o controle de como fazer uma bela festa hardcore. “Watch Me Bleed”, “I Told You So” ou “Fire Walker” foram destaques até que soaram os primeiros acordes de “Old Tyme Hardcore”. Simplesmente brutal! A sala teve como prémio um encore especial, com “Pennies From Heaven” e “Break Your Face”. Alertado pela organização de que teriam que fechar a sala impreterivelmente à meia noite, foi com muita ordem que o público acatou a decisão, estranha para uma noite de sexta-feira que tinha ainda muito para dar.
Dia 3
O último dia da edição de 2018 do Hell of a Weekend tinha o metal como aliciante maior. A festa começou com os Diabolical Mental State, banda que regressa agora aos palcos depois de algumas alterações no line-up. Com um thrash metal musculado, a banda levou ao RCA seis faixas, abrindo com “Children of the Tides”, seguido de “Long Way Down”. Destaque ainda para “Warfare” e o fecho com o hino “Diabolical Crew”, dedicado a todos aqueles que nunca deixaram de acreditar na banda.
Os Burn Damage são sempre garantia de um excelente espectáculo de death thrash, liderado pela carismática Inês Freitas, que não se cansou de puxar e interagir com o público, brindando a plateia com os temas do seu álbum de estreia mas foi agradável ouvir as novidades “Fire Walk With Me” e “They Live”, que segundo a vocalista está já no forno.
Os irlandeses Gama Bomb estão para os filmes de terror como os germânicos Tankard estão para a cerveja! Boa disposição, thrash speed sempre a abrir e um Philly Byrne, vestido de fato completo amarelo com desenhos de tesouras azuis, a protagonizar um tornado de thrash com muito humor à mistura. “Slam” abriu as hostilidades e o mosh não mais parou. A celebrar uma década do lançamento de “Citizen Brain”, e depois de tocada a primeira música desse trabalho, “Zombie Blood Nightmare”, Byrne deu as boas e más noticias: iriam tocar o álbum todo e as músicas eram todas iguais, para o bem e para o mal. “Evil Voices” e “Sentenced to Thrash” foram os pontos mais altos numa actuação sempre espectacular.
O cabeça de cartaz deste festival vinha da distante Suécia e trazia um death metal que até então não tinha passado pelo RCA nos três dias. Os Grave entraram em palco depois de um demorado check sound, com um dos amplificadores a ter inclusive de ser trocado, mas “Deformed” e “Black Dawn” arrasou a sala! Que som! Que performance! Fiel ao seu estatuto e ideal, a banda não comunicou praticamente com o público, enquanto debitava clássicos atrás de clássicos como “Day Of Mourning” e “Morbid Way To Die”. Altura para Ola Lindgren, o guitarrista e frontman da banda, de se dirigir à sala, anunciando a celebração dos 30 anos da banda, e terminando de forma apoteótica com “Eroded” e “Annihilated Gods.
Terminou da melhor maneira a edição de 2018 do Hell of a Weekend que voltou a apostar em diversos estilos musicais no espectro mais pesado da música, com um balanço perfeito entre dar espaço aos portugueses e chamar a Portugal nomes consagrados e incontornáveis. Venho a edição de 2019!!!
Texto por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Hell Xis