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Reportagem: Pain of Salvation e Forgotten Suns @ RCA Club, Lisboa – 30/06/2018


A noite prometia para os fãs do progressivo. Apesar de contarem com 26 anos de carreira, esta foi a primeira vez que os suecos Pain of Salvation atuaram em nome próprio no nosso país. Vieram apresentar o seu mais recente registo, “In The Passing Light Of Day”, lançado no início do ano passado, mas houve lugar para revisitar outros temas emblemáticos de lançamentos anteriores. E mais tempo houvesse… 


A primeira parte da noite esteve a cargo dos nacionais Forgotten Suns. A banda entrou em palco ao som de “Flashback”, do álbum “Innergy”, lançado em 2009; porém, a atuação concentrou-se no último lançamento dos lisboetas, “When Wolds Collide”, editado há três anos. O vocalista Nio Nunes foi bastante comunicativo ao longo da atuação – quer por palavras ou pela sua expressão corporal, que foi ajudando a marcar e realçar cada nota tocada (como esquecer aquele olhar penetrante?). O músico agradeceu a oportunidade de poderem marcar presença nesta data, confessando que ele próprio é fã da banda sueca que viria a pisar o palco mais tarde. Também aproveitou para recordar que a banda se encontra a trabalhar no lançamento de “Singles Collection – 2000-2015”, que irá contar com “os melhores singles e versões single de temas mais longos”. Entre risos, disse que as rádios não gostam do progressivo. Esperemos que este lançamento surta o efeito pretendido (e mais algum), pois os Forgotten Suns são uma banda que merece maior destaque, algo que ficou provado pelo modo como o público se manifestou ao longo da sua atuação. Da sua prestação, realçou-se o tema “In Harm’s Way”, que não só teve direito a solo de bateria, como também foi um dos mais poderosos no restante instrumental.


Já passava um pouco da hora marcada e nada de suecos. Quanto mais tempo passava, maior a expectativa. Eram 23h25 quando os Pain of Salvation se apresentaram com “Full Throttle Tribe”, do seu último registo, que levou logo o público ao rubro. “Will you follow me?”, entoavam em conjunto com Daniel Gildenlöw. A transição de luzes, em perfeita sintonia com o instrumental, fez instalar, de imediato, um ambiente único. Que entrada! E assim continuou em “Reasons”; quem entrasse na sala naquele momento, com tamanha envolvência por parte dos membros da banda e da plateia, diria que o concerto já devia ir a meio. Felizmente, estávamos só a começar uma noite que foi nada mais do que memorável. “Meaningless” mostrou-se ainda mais emotiva ao vivo (que grande “grito de revolta” soltou Daniel) e o seu refrão estava mais do que sabido pelos fãs. 


O líder da banda recordou que tinham acabado de estar em Espanha e que o público tinha sido muito poderoso, questionando se os portugueses conseguiriam acompanhar. E se já estávamos com vontade de fazê-lo, depois de sermos espicaçados com um “vamos ver se conseguem ganhar alguma coisa esta noite” (a propósito da recém-saída da seleção nacional da Copa do Mundo), então era certo que sim, íamos ganhar alguma coisa esta noite. “Too soon?”, brincou Daniel. O público português foi aquecendo a voz e Daniel garantiu que podíamos dar tudo sem nos preocuparmos com a segurança da banda, também entre risos. Assim, “Linoleum” foi literalmente abraçada pelos portugueses, que cantaram de braços bem erguidos no ar. Missão cumprida.

Seguiram-se “Rope Ends” e “Beyond The Pale”, que foi aplaudida assim que se ouviram os primeiros acordes, e assim permanecendo até ao fim. “Kingdom of Loss” foi arrepiantemente declamada por Daniel: “It’s all for sale...!”. Ainda há esperança, Daniel: há momentos que nos permitem sentir algo que não está nem nunca estará à venda. Este foi, sem dúvida, um deles. 

Daniel refere que vão tocar um tema que já não era contemplado há muitos anos nas suas tours, estando presente na atual. Um fã apressa-se a dizer “Inside Out”, e claro que obteve resposta de Daniel, novamente entre risos: “What are you, Google?”. É de reforçar que, para além da extrema competência da banda, sentimo-nos verdadeiramente acarinhados durante toda a atuação, quer seja pelos gestos, pelos olhares ou pelas piadas que foram surgindo. E sim, era “Inside Out”, um dos temas mais antigos da noite, a par com “Inside” (referentes a “One Hour by The Concrete Lake”, de 1998), com especial destaque para a prestação de Daniel Karlsson nas teclas. 

Seguiu-se a muito aplaudida “Ashes” e “Silent Gold”. Esta última foi de ir literalmente às lágrimas, na qual voltámos a ter especial destaque nas teclas e pudemos ouvir todos os membros da banda a cantar em uníssono. O mesmo aconteceu com o público – não se esperava outra coisa. Lágrimas enxugadas, foi a vez do baterista Léo Margarit brilhar em “On a Tuesday”. Sim, brilhou na bateria, mas não só, pois teve direito a um solo brilhante nos vocais. Mas há alguma coisa na qual estes suecos não sejam bons? 

O encore trouxe-nos “Inside” e uma energia inesgotável de Daniel, que se mexia como se estivesse a iniciar a atuação. Para terminar em grande, “The Passing Light of Day”, tema que Daniel dedica à relação com a sua mulher, veio soltar mais algumas lágrimas. Novamente, os membros da banda juntam-se para cantar harmonicamente. Pegámos nas emoções (re)ativadas por toda uma atuação brilhante e saímos para a rua, cumprimentando a madrugada de Lisboa. Como enfrentar o mundo depois disto? Foi o último concerto da primeira metade de 2018 e não é loucura dizer que poderá ter sido o melhor. 
Texto por Sara Delgado
Fotografias por Sophia Silva
Agradecimentos: Free Music Events