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Reportagem: Resurrection Fest 2018 - Dia 2 @ Viveiro, Espanha - 13/07/2018


O segundo dia do Resurrection Fest era, a priori, o mais calmo do festival. Os Scorpions eram os grandes protagonistas, mas os Megadeth acabaram por ficar nas bocas do mundo pois os seus pedidos de alteração de horário trocaram as voltas a muitos dos que iam assistir à noite de quinta-feira.

A dita mudança de horários faz logo a sua primeira vítima com os Santo Rostro. Em palco uma hora antes do previsto, poucos foram os que se aperceberam e deram um pouco de calor humano aos espanhóis. Com apenas cinco anos de estrada, mesmo com pouca gente à frente, nem por isso deixaram de mostrar profissionalismo. O Palco Ritual arranca mal os Santo Rostro terminam, com a banda da Cantabria Pandemia a trazer o seu thrash metal a um público ainda morno e escasso.
No palco principal a banda norte-americana de metal progressivo The Contortionist deu um excelente show apesar de serem mais adequados ao Palco Desert. Combinando canções mais progressivas e melódicas com outras mais aceleradas, proporcionaram um ritmo que captou a atenção do público.

Os bascos Rise to Fall tinham uma enorme falange de apoio quando entraram em cena no Palco Ritual. Com 12 anos de actividade, combinam voz melódica com gutural, típico som de death metal melódico. Na sua segunda visita ao festival, a banda de Bilbau não parou um segundo, notando-se que os géneros mais extremos são sempre bem recebidos em Viveiro.  

No mesmo palco, foram também muito bem recebidos os portugueses The Voynich Code, que apesar de desconhecidos do público presente, deu uma excelente performance. Mas os atrasos e alterações nos horários prejudicou igualmente os franceses Rise of the Northstar, que chegam ao Palco Principal mais de uma hora antes do previsto. Os samurais que habitualmente habitam pelo palco estão lá, mas a actuação perde fulgor com pouca gente a ver. Além disso, elevado vento e o som da guitarra baixo de Fabulous Fab extremamente alta fez desta actuação uma verdadeira desgraça. Temas como “What The Fuck”, “Again and Again” e “Demostrating My Saiya Style” podiam e deviam ter sido mais bem recebidos, apesar do elevado crowd surfing que ia acontecendo. “Dressed all un Black” foi o ponto mais alto, com o vocalista Vithia, a pedir aos presentes para se sentarem para depois saltar energicamente ao primeiro riff.

Para quem vinha exclusivamente ver Megadeth, antecipar a hora de entrada em palco mais de uma hora foi um pesadelo. Felizmente a organização foi 5 estrelas na passagem insistente da informação, fazendo com que a plateia estivesse repleta quando Dave Mustaine entrou em cena. Já é bem sabido que a voz de Dave Mustaine já não é o que era e o espectáculo em Viveiro não foi excepção. O que já não é muito normal é ver graves falhas na performance de talentos como o guitarrista Kiko Loureiro e o baterista Dirk Verbeuren. Um palco grande demais para quatro executantes muito estáticos acaba por não ser compensada pelos efeitos visuais de fundo, com uma história de banda desenhada com a banda como protagonista a desenrolar-se ao longo de todo o concerto. Somente ao fim de quatro faixas tivemos um agradecimento de Mustaine, que preferiu sempre debitar thrash metal do que falar com o público presente. Este também tardou a aquecer. “Take No Prisoners”, “She Wolf” ou o clássico “Tornado Of Souls” (numa prestação desastrosa) antecederam dois pontos altos, com “Dystopia” e o grande hino “Symphony Of Destruction”, mesmo com alguns erros na guitarra. “Peace Sells” antecede “Holy Wars… The Punishment Due”, e a banda despede-se 15 minutos antes do previsto com uma actuação pobre e insonsa. Tal foi o fiasco que Mustaine regressou sozinho ao palco e dirigiu-se longamente ao público, explicando que este era o último concerto de uma tour que já leva quatro anos e que é tempo de voltar para casa, descansar e pensar em novo disco. Mas será que ainda alguém se interessa?

Mal os Megadeth desligam o equipamento, os Suffocation iniciam a sua segunda visita ao Resurrection. Conseguindo estancar a debandada geral na direcção da zona de refeições, a banda de Nova Iorque arranca com “Thrones of Blood” e apesar de não ser o género mais bem recebido deste dia, a energia que vem da plateia é brutal. Destaque para “Return to the Abyss” e “Entrails of You”, antes do encerramento com “Infecting the Crypts”.

No Palco Chaos, os Wolfbrigade mostram porque são uma das melhores bandas da nova geração de crust punk europeu. Os suecos trazem na mala o recente “Run With the Hunted” e não há descanso dentro da tenda! Destaque para “War on Rules” e o brilhante “No Reward”, sempre acompanhado pelo mosh na frente de palco. A quantidade de público com t-shirts da banda após o concerto mostra que ficaram na retina de muita gente.

Com as trocas de cenário no palco principal muito lentas devido ao eantecipamento dos Megadeth, assume atenção Leprous. A banda de Oslo mostra "Malina" em data única em Espanha e inicia a prestação com "Bonneville", que também começa o disco. Desde que a banda lançou "The Congregation" que conseguiu um lugar entre os maiores do rock progressivo. Sendo uma música mais contemplativa, há muitas pessoas que aproveitam para jantar, repousar ou conversar.

Os Scorpions são a banda que amamos ou detestamos. Desde que os alemães anunciaram a sua despedida em 2014 que parecem estar mais activos que nunca. Com um enorme pano com o símbolo da banda a tapar o palco, é à sua queda que a banda entra em palco, apoiado por uma tela gigante que vai mostrando um helicóptero em pleno voo. “Going Out With A Band” dá o tiro de partida, e com a bandeira espanhola de fundo para gáudio do enorme mar de gente presente tocam o clássico “Make It Real”. E de clássicos seguiram os Scorpions, com “The Zoo” e “Coast to Coast” a preceder um medley que agrupa “Top Of The Bill”, “Steamrock Fever”, “Speedy’s Coming” e “Catch Your Train”. A mais recente “We Built This House” passa despercebida, especialmente quando Klaus Meine agarra na guitarra e canta as baladas “Send Me An Angel” e “Winds of Change”, esta cantada em uníssono por milhares. Rapidamente o comboio volta a arrancar a grande velocidade, com as guitarras de Rudolf Schencker e Matthias Jabs a degladiar-se com “Please Me, Tease Me”. Tempo para uma homenagem a Lemmy dos Motorhead, com a interpretação de “Overkill”, que deixou muitos estupefactos com tal decisão. Mas isso foi explica do rapidamente, quando verificamos que o baterista dos Scorpions é nada menos do que Mickey Dee (ex baterista dos Motörhead), e que se eleva no ar com a bateria para um excelente solo. “Blackout” e “Big City Nights” encerra a parte dita normal do concerto, mas um concerto de Scorpions sem “Still Loving You” nunca estaria completo. “Rock You Like A Hurricaine” é a cereja no topo do bolo e finaliza a actuação.

Uma vez finalizado o hard rock dos Scorpions era hora de mudar de estilo. No Palco Ritual apagam-se as luzes para receber os Paradise Lost, que apresentam “Medusa”. Os percursores do doom metal presentearam a plateia com faixas de todos os seus álbuns, com uma prestação imaculada mas que foi algo prejudicada por todos os fãs de Scorpions que abandonavam o recinto do festival e que impossibilitou que mais do que um punhado de gente junto ao palco pudesse ver bem a actuação de Holmes e MacIntosh. “No Hope in Sight” abriu o concerto, logo seguido de “Blood and Chaos”, “From the Gallows” e um “Forever Failure” recebido em êxtase pelo público. “Mouth”, “The Longest Winter”, “Erased”, “The Enemy” e “Shadowkings” mostraram um alinhamento ecléctico e diversificado, magistralmente tocado pela banda. Mas o melhor ficou para o fim, com brilhantes interpretações de “As I Die” e “Embers Fire”.

Corrida até ao Palco Chaos para ver o vencedor da noite. Primeiro cabeça de cartaz da história do Resurrection Fest, e a tocar pela quarta vez, os nova-iorquinos Sick Of It All tratam Viveiro por tu e o público recompensa-os com casa apinhada. Muitos optam por ver de longe pois é impossível caber mais alguém na tenda desde a primeira música. E que música! “Injustice System” leva a tenda ao rubro, ainda para mais quando surgem os primeiros acordes de “Clobberin’ Time”. Lou Koller agradece o convite e a presença de todos, anuncia que deverá haver disco novo, mas que a noite é de clássicos. Com o seu irmão Pete completamente endiabrado na guitarra, sucedem-se “Rat Pack”, “Us vs Them”, “Machete”, “Scratch the Surface” e um mega final com “Step Down”. Que delírio!

Para final de festa, o palco principal recebe o thrash metal dos Angelus Apatrida. A banda de Albacete apresenta o novíssimo “Cabaret de la Guillotine”, del que destacan por citar un ejemplo “Sharpen The Guillotine”. Alternando temas mais recentes como “Immortals” de “Hidden Evolution” (2015) e antigos como “Of Men and Tyrants” de “Clockwork”(2010) sucediam-se enormes circle pits pelo recinto. Agradecendo a presença de tantos espectadores apesar das altas horas (passava das duas da manhã), apresentam a nova faixa “Downfall of the Nation”. Como é habitual, “Give ‘Em War” e “You Are Next” encerram o palco principal e mais um dia de festival.

Texto e fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Resurrection