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Reportagem: Resurrection Fest 2018 - Dia 1 @ Viveiro, Espanha - 12/07/2018


Depois de uma festa inaugural que deixou bons sentimentos e muita expectativa, Stone Sour e Ghost pelas mãos de Corey Taylor e Tobias Forge, respectivamente, foram os principais atrativos do primeiro dia forte do Resurrection Fest 2018, que abriu suas portas ao público em todas as suas valências.

Às 15 horas em ponto sobe ao Palco Ritual os Bloodhunter. A jogar em casa, e comandados pela carismática Diva Satânica, os galegos apresentam "The End Of Faith", o seu mais recente trabalho. Excelente aperitivo para um dia onde o calor imperou. Em simultâneo arranca também o Palco Desert, mas com poucos interessados em assistir à banda galega de alt metal Vortex, que apresentam o disco de 2017 “Architects of Disfortune”. Bons apontamentos em alguns dos temas, repletos de alta distorção mas nada que seja memorável.

O mesmo não se pode dizer do que acontece na abertura do Palco Principal. Pela quarta vez no Resurrection, os Dawn of the Maya já conhecem os cantos à casa e às 16.30 é ver uma correria na direcção do palco para assistir à sua actuação. A banda deixa em palco a pele e percebe-se porquê: a banda de metalcore de Pamplona diz adeus aos palcos depois de mais de uma década.

No Desert Stage mais uma banda galega, Agorafobia, que arranca perante dezenas de corajosos que ousam desafiar o sol escaldante que reinou no local poucos minutos depois das cinco da tarde. A banda maioritariamente feminina toca uma boa dose de rock com atitude, ao estilo sueco, coisa rara de ver por estas paragens. Uma boa prestação da vocalista Susana, e uma banda a deitar o olho num futuro próximo.

O Palco Ritual, onde na noite anterior tudo tinha acontecido, arranca com os britânicos The Raven Age, que trazem o metal melódico do disco de estreia “Darkness Will Rise” até Viveiro. Com um palco principal bastante concorrido para ver Dawn of the Maya, seria de pensar que esse público facilmente faria o curto trajecto até ao palco secundário, mas a verdade é que foram poucos que o fizeram, deixando a banda de Londres com algumas centenas de ouvidos atentos. Destaque para “Angel in Disgrace” e “Promised Land”, que arrancou bastantes palmas de um público que vai deixando estas paragens para se posicionar junto ao Palco Principal, onde está prestes a arrancar uma das melhores actuações do primeiro dia de festival.

A frente do palco principal recebe a sua primeira enchente do festival e não é para menos. Os Jinjer estão na lista de bandas favoritas de muita gente, e pela quantidade de t-shirts que se viam pelo recinto, a banda de Tatiana Shmailyuk tinha muitos seguidores. A vocalista tem uma versatilidade única, oscilando a sua técnica vocal entre estilos guturais e vozes limpas, linhas vocais que se encaixam até na alma. A personalidade hiperativa de Tatiana conectou perfeitamente com o público, que não parou de pular com as faixas dos seus discos "Cloud Factory" e "King of Everything". A fila de várias centenas de pessoas para a sua posterior sessão de autógrafos mostra bem o que o público do Resurrection achou da prestação da banda...

Falar de Overkill é relembrar uma das principais bandas do speed thrash dos anos 80 e pelo público falava-se que já era altura da banda de Bobby Blitz estar no Resurrection, depois de grandes concertos no Legends of Rock ou no Rock Fest. Na bagagem, o disco de 2017, 
“The Grinding Wheel", mas apesar de ser este tema que abriu o concerto, foi o único da setlist que não era clássico da banda americana. "Rotten to the Core", seguido por “Electric Rattlesnake", mostrou uma banda em grande forma, apesar de um som muito baixo e pouco equilibrado, especialmente para o baixista D.D Verni. "Hello from the Gutter" transforma a frente de palco num enorme mosh-pit e a segurança não tem mãos a medir para ajudar quem anda no crowd surfing... e anda muita gente!! "In Union We Stand" é recebido com muitos punhos no ar, após o que vem "Elimination". 
A mítica "Fuck You" encerra uma prestação rapidíssima, mas que causou imenso furor no público.

Corrida rápida pelo espaço do festival para ver uma das mais esperadas presenças no Palco Chaos, os Crystal Lake. A banda japonesa de metalcore vem apresentar o seu quarto álbum de originais, “True North” de 2016 e um palco que nem secundário é está pejado de gente para os ver. A sua brutalidade em palco reflete-se na plateia, que salta e grita ao longo dos 40 minutos de actuação.

Nova corrida até ao Palco Principal, para assistir ao regresso a Viveiro dos norte-americanos Anti-Flag. Desde 2012 sem aparecer pela Galiza, a banda de punk rock de Pittsburgh vem promover “American Fall”, o seu décimo segundo disco. Mas também de clássicos se fez a festa, com “The Press Corpse”, “This Machine Kills Fascists” ou “Broken Bones”, com muito mosh e crowd surfing. Mesmo em momentos mais calmos e melódicos, como “One Trillion Dollars” ou “This Is The End”, o coro da plateia ecoa por todo o recinto. Não podia faltar a mensagem anti-fascista, como também não poderia ter ficado de fora a habitual versão dos The Clash, “Should I Stay Or Should I Go”, desta feita com o palco “invadido” pelas crianças integradas no espaço lúdico Resu Kids, e que adoraram a atenção de largos milhares de pessoas. “The American Attraction” provocou o delírio, com Justin e Chris a tocar junto à primeira fila. Que show!!

No pequeno Palco Desert, mesmo junto à porta de entrada do festival, a plateia acotovelava-se para ver uma das boas bandas a passar por aquele sítio, os Rolo Tomassi. A presença de Eva Spence não deixa ninguém indiferente, mas desengane-se quem pense que aquele aspecto frágil tem algo a ver com a música da banda de Sheffield, onde Eva e o irmão James dividem o protagonismo entre rimas calmas e melódicas de voz limpa com gritos guturais, apoiados na complexidade dos acordes do guitarrista Chris Cayford. Enquanto os britânicos dominavam o Palco Desert, no Palco Chaos os norte-americanos Stick To Your Guns animavam a plateia replete com a sua energia. A banda de hardcore/metal vem promover o seu novo disco, “True View”, e provam que o hardcore tem cada vez mais fiéis
apaixonados, e lugar cativo no Resurrection.

Para muita gente, a presença dos Stone Sour no cartaz do Resurrection Fest 2018 era aliciante suficiente para rumar ao norte da Galiza, embora pairasse no ar a ideia que Corey Taylor devia estar ali mas com os Slipknot. Felizmente, o projecto paralelo de Taylor é um dos grupos mais em forma do panorama mundial, e deram show em Viveiro. Com a faixa de fundo “I Can’t Turn You Loose”, onde os Blues Brothers homenageiam Otis Reading, os Stone Sour sobem ao Palco Principal e arrancam com “Whiplash Pants”, um dos temas mais frenéticos de “Hydrograd”, o disco de 2017. “Absolute Zero”, segue a festa, com Corey Taylor a disparam tiros de confettis para o público. Depois de pedir desculpa pelos 11 anos distante de Espanha, tocam “Knievel Has Landed”, também do novo álbum. Já sem casaco, e depois de um pequeno solo de baixo e bateria, rebenta “Say You’ll Haunt Me”, seguido da potente “30/30-150”. Este foi o último concerto da tour europeia e Corey avança sozinho de guitarra em punho e interpreta um intimista “Bother” e “Tired”, altura em que a banda regressa a palco. Regresso ao passado com “Cold Reader” e “Get Inside”. “Through Glass” e “RU486” anunciam o final do concerto, que termina em apoteóse com “Fabuless”, de “Hydrograd”.

Antes de testemunhar a única data na Península Ibérica dos Ghost, tempo para rumar ao Palco Chaos para ver os canadianos Cancer Bats, em mais uma granmde performance de hardcore punk. Com álbum deste ano, “The Spark That Moves”, estreiam-se no Resurrection com uma frente de palco a abarrotar por quem os Stone Sour pouco ou nada interessa.

Mas a noite era de Tobias Forge e dos seus Ghost. A banda sueca está a tomar de assalto o mundo inteiro com a sua estética anarko-religiosa e ninguém lhes fica indiferente. “Prequelle”, o lançamento deste ano, foi extremamente bem recebido pela crítica e pelo público, aumentando a popularidade de uma banda com apenas uma década de estrada. Pelo cenário em palco adivinhava-se um grande espectáculo, até porque esta era a única data na Península Ibérica onde seria possível testemunhar como se comportaria Cardinal Copia, a nova personagem líder dos Ghost.

Com pontualidade britânica, a banda entra em palco e ataca imediatamente “Rats”, o single de apresentação de “Prequelle”. “Absolution” segue-se de imediato, mostrando uma mestria por parte de todos os executantes. Ao terceiro tema, “Ritual”, Viveiro está conquistado. “From The Pinnacle To The Pit” leva ao delírio a plateia, entre explosões pirotécnicas e solos brutais de guitarra. O som está perfeito, e “Faith” parece retirado do CD. O intro de “Cirice” é acompanhado com palmas por milhares de espectadores, sendo a melhor faixa de todo o concerto. “Miasma” mostra a qualidade da banda numa impecável interpretação da faixa instrumental, que inclui a presença em palco de um velhinho Papa Emeritus de saxofone em punho. “Year Zero” não deixa ninguém descansar, e entre explosões e fumo branco arranca “He Is”, cantado em coro pela plateia. Aproximamo-nos do final de um grande concerto dos Ghost, e “Mummy Dust” antecede “Dance Macabre”, com todo o público aos saltos, antes de acabar com um tremendo “Square Hammer”. Pouco falador, Cardinal Copia/Tobias Forge agradece a presença de todos na celebração, e despede-se com “Monstrance Clock”. Que maneira espectacular de encerrar o Palco Principal do primeiro dia a sério do Resurrection Fest!

Mal os suecos abandonam o palco principal, outros suecos preparam para encerram o Palco Ritual, mas não há a mínima semelhança entre as duas. Os At The Gates trazem na mala “To Drink From The Night Itself”, editado em Maio último, e é com o tema homónimo que arrancam a contenda. “Slaughter of Souls”, faixa que dá título ao álbum mais conhecido da banda mostra o verdadeiro som de Gotemburgo, aquilo que hoje designamos por death metal melódico. Destaque para “Suicide Nation”, “The Book of Sand” ou “Under a Serpent Sun”. Tipicamente  uma banda de sala, os At The Gates de Tomas Lindberg perde algum do seu gás em festivais de verão, mas mesmo assim é algo muito digno de se ver.

A lua já ia bem alta quando toma posição em palco a banda que encerra o primeiro dia de todo o festival. No Palco Chaos estão os lisboetas Abaixo Cu Sistema, a banda tributo de System of a Down, e diante deles milhares de pessoas que teimam em não arredar pé do recinto. Fabulosa prestação da banda lusitana, que percorreu clássicos da banda arménio-americana. Uma hora de clássicos extremamente bem recebidos pelo público presente, que vibrou com a potente actuação de Pina e companhia.

Texto e fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Resurrection