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Reportagem: Resurrection Fest 2019 - Dia 3


Sábado, 6 de julho, foi a despedida da melhor edição do Resurrection Fest segundo a organização. O clima, diferente dos dias anteriores, permitiu o enorme afluxo de participantes, embora já se notassem alguma falta de energia de alguns. Viveiro e as suas esplanadas vibravam e fervilhavam de personagens vestidas de negro, preparadas para um último dia onde as sonoridades mais pesadas iriam estar em destaque.


Quem é que gosta de tocar às 5 da tarde? Acho que ninguém, ainda para mais naquele que foi o dia mais quente de todos. Para os thrashers Strikeback isso não pareceu importar muito, e o grupo da Corunha atirou-se de cabeça numa prestação a lembrar Slayer, onde não inventaram muito. Com a setlist a marcar passagens pelos três discos de originais, destaco "B.H.S." ou "Kill Or Be Killed".


O palco principal abriu para os extremamente jovens Alien Weaponry. A banda dos irmãos De Jong, formada na Nova Zelândia, é uma das mais recentes revelações no mundo do metal. Mistura de groove e thrash com arranjos étnicos Maori torna-os provavelmente únicos. O disco de estreia ('Tü' de 2018) conseguiu catapultá-los para a fama, e no Resurrection Fest os jovens de vinte anos mostraram enorme mestria em faixas como "Holding The Breath" ou "Kai Tangata, dedicado a um deus maori .


Com a energia aos poucos a ser reporta, muitos foram andando de palco em palco, mas sem grande empenho, e quem acabou por sofrer com essa passividade do público foram osportugueses Destroyers Of All. A banda de Coimbra deu um concerto irrepreensível, mas as faixas do novíssimo “The Vile Manifesto” atingiu uma apatia algo generalizada, apesar de aqui e ali ainda se tentava um mini circle pit, não raras vezes provocado por portugueses presentes no festival.


Também não ajudou aos portugueses que logo em frente, no palco principal, iriam actuar os grandes Testament. “Brotherhood Of Snake” arrancou 60 minutos de thash attack da banda da Bay Area de San Francisco, com um Chuck Billy ainda dono daquela voz tão característica! E ver o talento de Alex Skonick e Eric Peterson nas seis cordas foi algo do outro mundo. "The Pale King" mostra que o último álbum tem muito peso dentro dele e com "More Than Meets The Eye" o público não dádescanso à garganta. Chuck reduziu o contacto com o público a um mínimo indispensável, dando absoluta primazia a faixas como “The Legacy” ou “The New Order”, malhas de culto ao thrasher que se preze. "Into The Pit" e "Over The Wall" levaram o público ao delíriop e mostraram que velhos são os trapos.

Com o recinto já muito bem composto, era hora de ver como se adequavam os Lamb of God ao Resurrection Fest. A banda da Virgínia acabou por ser um dos destaques do último dia do festival, com uma excelente performance e um Randy Blythe endiabrado! Sem grandes alaridos, o baterista Art Cruz, que substitui Chris Adler que sofreu ferimentos graves após um acidente de mota, subiu ao palco e os primeiros acordes de "Omerta" soaram como um rastilho para uma explosão que nãom demorou a acontecer. “Ruin" e, acima de tudo, "Walk With Me In Hell" transformaram a plateia numa maré esmagadora de mosh pits e crowdsurfing, que nunca mais parou. Clássicos da última década como "Hourglass" ou "Descending", mostraram a banda bem coesa em palco, e o final com "Laid To Rest" e o selvagem mas cativante "Redneck", foi a cereja no topo do bolo. Que confusão em frente ao palco!!!


Um pouco fora do cartaz deste ano, mas a mostrar que há lugar para todos os tipos de música pesada, os holandeses Within Temptation trouxeram a Viveiro milhares de fãs do metal sinfónico da banda. E Sharon Den Adel não decepcionou ninguém. Com energias renovadas, a banda veio apresentar o seu sétimo disco de originais, “Resist”, cinco anos depois da relativa decepção que foi “Hydra”. Neste último álbum, a banda reinventou o seu som, deixando para trás o rock gótico que os lançou para a ribalta duas décadas atrás. É precisamente com duas músicas deste novo álbum que a banda holandesa arrancou o espectáculo, com Sharon a trazer para palco uma bandeira e vocalizar "Raise Your Banner", seguida de "The Reckoning". Infelizmente o som de palco não ajudou e mal se conseguia ouvir a banda tocar, muito menos para quem estava de lado ou longe do palco. "In The Middle Of The Night" sofreu ainda do mesmo problema mas quando o clássico "Stand My Ground" ecoou, já estávamos perante um excelente som. "Angels", outro clássico do disco "The Silence Force", mostrou toda a potência vocal de Sharon, mas quem levou o público ao delírio foi a imagem de Tarja Turunen ao aparecer nos ecrãs e acompanhar na interpretação de "Paradise (What About Us?)". "Ice Queen" em versão acústica antecedeu o clímax com "Our Solene Hour" e "Mother Earth", provocando mal acabou uma debandada geral do recinto para quem não vinha para ver mais banda nenhuma.

Salto rápido entre palcos permitiu ver os Brutality Will Prevail destruir completamente o Chaos Stage. A banda de Cardiff não edita nada desde o seu quinto álbum “In Dark Places”, já de 2017, mas o seu som intenso e pesado, intercalado com tempos mais lentos gerou enorme tumulto na plateia. Excelente!!

No Desert Stage o stoner dos lisboetas Miss Lava reuniu uma plateia bastante interessante face ao adiantado da hora e à eventual actuação de quem iria fechar a chave de ouro o Resurrection Fest. Liderados pelo carismático Johnny Lee, tiveram um som nítido e cristalino, Permitindo aproveitar em toda a plenitude faixas como "Ride" e "Another Beast Is Born". A plateia não lhes poupou aplausos e foi com certeza uma aposta ganha!


Uma e meia da manhã. Milhares de pessoas em pé, sentadas ou deitadas na relva. Início do encerramento da edição de 2019 do Resurrection Fest. Kim Bendix Petersen, mais conhecido como King Diamond, numa rara apresentação ao vivo na Península Ibérica! Mal a cortina cai, podemos ver em palco uma representação perfeita do interior do "St. Lúcifer Hospital". Um encapouzado transporta uma maca até centro do palco e King Diamond levanta-se brandindo o seu habitual microfone ósseo e ataca "The Candle", logo seguido de "Voodoo". Simplesmente perfeito o som e também a voz de Diamond, exactamente como nos recordamos.

O primeiro intervalo mais teatral ocorre com dois homens encapuzados a trazerem um caixão branco com o nome de Abigail. Delírio na plateia para receber um dos temas mais míticos de King Diamond. O cantor está num estado de forma incrível, quase uma nova juventude, com os seus agudos impossíveis a levarem-nos 30 anos atrás. "Mansion in Darkness", "Halloween" ou o novíssimo "Masquerade of Madness" mostram uma banda coesa e o final com "Burn" e "Black Horsemen" puseram fim ao festival da melhor maneira possível.

Já estamos com vontade que 2020 chegue depressa!

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos: Resurrection Fest