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Avalanche - "Sent From Hell" Review


O Maxi-EP de lançamento dos Avalanche apresenta 8 temas, dos quais 4 gravados em estúdio e 4 gravados ao vivo, num Hotel em Baulkham Hills, Sydney, a 6 de dezembro de 2018, temas esses que são um excelente exemplo cru, selvagem e genuíno de puro Hard Rock . 

“Sent From Hell” (enviado do inferno) é o título deste maxi-EP, mas é também de onde vem este quarteto de Hard Rock , mais precisamente um quarteto de Wild Heavy Rock´N´Roll....sent from Hell. 

Os Avalanche vêm, não só do inferno, como também da Austrália, e posicionam-se uma longa tradição de Hard Rockers que se propõem a dar tudo pelo espírito do Rock´N´Roll. Isso está presente na atitude, nas letras das músicas e, sobretudo, no estilo de Hard Rock que tocam. Sem precisarem de dizer abertamente “Nós somos os Avalanche e tocamos Rock’n’Roll!”, o EP abre imediatamente com um tema forte, “Sold My Soul “ o qual deixa claro a entrega da alma dos rockers ao diabo em troca de uma “Rock and Roll soul”. Sem esconder as suas origens, bem ao estilo australiano, é impossível não lembrar Rose Tattoo no seu 1º álbum de 1978 e temas como “Rock’n’Roll Outlaw”. Mais de 40 anos passados, a fúria australiana regressa, mas agora com mais força, mais garra, pois os tempos são hoje mais velozes em tudo. O pacto com o diabo, em troca dessa alma de rocker e as suas capacidades artísticas, é mais um canon da tradição old school mítica da música  Rock, neste caso “Crossroads”, o filme que aborda a lenda do guitarrista de Blues, Robert Johnson, que vendeu a alma ao diabo , “Sold his soul to the Devil at Crossroads”. Assim, em “ Sold My Soul “, o ritmo disparado pela banda revela de imediato um Hard Rock rebelde, com um power à “Let There Be Rock”, independente, sem fazer conceções nem ao Heavy Metal nem ao Rockabilly. Rose Tattoo não é a única banda australiana de quem estes seus conterrâneos demonstram descender, pois logo após alguns minutos, a guitarrista Veronica ‘V’ Taleski, inspirada em Angus Young ( lembrando precisamente “Let There Be Rock” de 1977) inicia um solo de puro e básico Hard Rock (no vídeo promocional do tema, a jovem guitarrista, para além de usar uma Gibson muito semelhante á de Angus Young, chega quase a fazer o “duck walk” de Chuck Berry quando se ajoelha, atitude que tornou o guitarrista Australiano emblemático ). Apesar destas referências ao passado, os Avalanche não são simplesmente revivalistas, pois é essencialmente o espírito e a atitude Rocker que pretendem manter, no entanto a velocidade musical é outra, bastante atual, sobretudo a forma como imprimem à realidade um som que rejeita amarras tecnológicas ou outras. Se Lemmy fosse vivo e os ouvisse, aprovaria certamente, e não apenas pelo facto de nos Avalanche o baixista ser também o vocalista.

De seguida, no tema 2, “Balls Deep “, há uma guitarra-ritmo forte, bem marcada, sempre num balanço que lembra Malcolm Young.  Sobressai Steven Campbell, o vocalista com a agressividade necessária para conseguir transformar um tema Rock ´N´ Roll em Heavy Rock, os seus agudos lembram por vezes Ian Astbury (The Cult) na fase em que gravou aquele que é o primeiro grande álbum de Hard Rock 70’s revivalista, o “Electric” (1987), editado 3 anos antes de surgirem os Black Crowes. Os Avalanche são sem dúvida uma banda que pertence á linhagem de bandas do Hard & Heavy que nunca se entregam completamente ao Metal, pois pretendem manterem-se fiéis ao Rock and Roll. Essa liberdade transparece na sua atitude mais “denim” do que “leather”, e consequentemente, na musica.

A música 3 , “On Your Back”, é um tema lento mas pesado. Mais uma vez a banda demonstra que consegue equilibrar-se, mesmo que de forma diferente, sem ter de se entregar ao Heavy Metal , conseguindo no entanto manter a sonoridade dark que os torna inconfundíveis enquanto banda pesada. Com Steven Campbell a cantar agora num registo que, por vezes, pode lembrar um vocalista de uma banda Punk, o caos nunca chega a acontecer porque é imediatamente transformado em Hard Rock pelo contexto Raw Heavy Bluesy do resto dos músicos. Sempre com laid back guitars como pano de fundo, Steven Campbell soa também às vezes épico. “On Your Back” é um tema de Classic Rock alternativo, ou o resultado daquilo que poderia surgir da incrível (im)possibilidade de uma canção tocada pelos Spiritual Beggars com Jim Morrison a cantar. Esta dicotomia entre “clássico” e “alternativo” é uma característica da banda, pois estão sempre entre o Rock e o Metal; entre o Hard e o Punk.

A fechar o trabalho de estúdio, o tema 4 “Head First In Hell”, um Rock and Roll kick-ass, a disparar riffs de guitarra com agressividade espontânea, um tema que é um statement acerca do facto de que “Rock and Roll is here to stay”, numa completa entrega ao legado Australiano. Puro, estridente e agressivo, este sim um Rock enviado directamente do diabo, marginal à lógica da boa composição, o speed das guitarras down the road abrem uma autêntica “highway to hell” do rock. Há um certo espírito de Punk Metal permanentemente traido pelo jogo de guitarras Hard, desorganizadas á velha maneira Hard Glam de (pre-1974) Alice Cooper band e Silverhead. Selvagem, Cru e puro....como um diamante em bruto, e “A diamond is a Hard Rock”!

Avalanche ao vivo é sinónimo de Hard Rock com raiva! “Run Like Hell [Live]”, tema gravado ao vivo vem lembrar-nos de que Avalanche é também uma banda de Heavy Rock, não nos fossemos distrair e pensar que era apenas Hard Rock. “Run Like Hell” cumpre completamente a tradição não só do Hard australiano, mas também a tradição da altura em que as bandas de Hard se reinventaram numa nova linguagem de agressividade Metal, isso traz-nos uma certa nostalgia de pureza inicial semelhante à da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal). No entanto Avalanche é uma banda recente, a crueza e a simplicidade do seu som ao vivo recorda-nos também como é uma banda quando se inicia num circuito de pequenos concertos, onde só a paixão e a entrega ao rock existem, sem computadores, conseguindo ouvir-se desde o dedilhar da guitarra, á bateria e à voz, tudo aqui está em estado puro, como uma pedra. Este não é o “Run Like Hell” dos Tank em 1982, mas podia ser. E nada disto é por acaso, pois a herança sonora manteve-se ligada até hoje, basta pensar que Tank em 1982 era produzido por Fast “Eddie” Clarke, guitarrista de Motorhead, banda pioneira deste tipo de kick-ass Heavy Rock, a meio caminho entre o Punk e o Heavy Metal.

Esse espírito “noisy” bem ao estilo NWOBHM explode completamente naquele que penso ser o melhor tema deste EP, e ainda bem que está aqui em duas versões (estudio e Live): “Head First In Hell”. Agora em versão Live, é o nº 6, mas ainda mais intenso do que no estúdio, quase a resvalar o “Punk” Rock´N´Roll”, com Steven Campbell a “gritar” lembrando Rob Tyner nos MC5. Segue-se o tema nº 7, “Get Back (To Fuckwit City) [Live]", cuja tradução nos grita: “Regressa à cidade desprezível !” Mais uma referência à revolta, neste caso contra a “Sin city”. Se o Rock fosse poesia, podia dizer-se que se cumpre aqui o presságio ao contrário,  ou seja, 40 anos depois de Bon Scott ter-se imposto a gritar “i’m gonna win in sin City!” , os Avalanche recusam a cidade, mas com mais energia e raiva. Esta recusa revela algo de Punk, mas a musica é o mais puro estilo Hard Rock selvagem, inflamado de revolta e guitarra gritante. Do Punk a revolta e a recusa, do Heavy Metal a conquista e a glória, e no meio estão os Avalanche.

Ultimo tema deste incrível EP, track nº8. "Down In the Gutter [Live]", com um speed riff a marcar ritmo, sempre a “serrar”, até a guitarra de Veronica ‘V’ Taleski começar a solar; letra curta e duas vezes o refrão; bateria a martelar sem parar; subitamente uma paragem Grunge, deixando espaço para um calmo solo de guitarra improvisado ao estilo antigo bluesy Hard Rock tribal, como se tivessem parado só para meter gasolina , e depois recuperar a pedalada , com a urgência Glam Rock de chegar ao fim, terminando num breve “caos épico” lembrando um final à Hard Rock clássico.

8 temas de Avalanche, uma banda que não faz prisioneiros. Não fica álcool nas garrafas porque, antes de ser bebido, já todo o vidro foi estilhaçado. Dão tudo o que têm em cada tema, e cada um deles é uma explosão de Hard Rock que nasce e morre no fim de cada música. Avalanche, onde os graves da guitarra são agudos; onde o Heavy é Rock e o Punk é Hard rock, e o grito da voz serve para solidificar esta pura amalgama de Wild Heavy Rock´N´Roll....sent from Hell.

Nota: 8/10

Review por Francisco Pisco