About Me

Entrevista aos Unleash The Archers

Que banda é esta que lançou um dos melhores álbuns deste ano? Brittney Slayes, a simpática e carismática vocalista, falou-nos sobre “Abyss” - lançado a 21 de agosto via Napalm Records - sobre o processo de composição e o seu conceito; o autor favorito; The Cranberries e muito mais.
Vale a pena ler!

M.I. - Olá. Como estão as coisas contigo e no Canadá?

Poderiam estar muito piores, com certeza! Nós, da Costa Oeste, levamos o vírus muito a sério. Não tivemos muito problemas com isto, além do bloqueio de seis semanas logo no início.


M.I. - “Abyss” foi lançado no dia 21 de agosto, pela Napalm Records. Porque é que escolheram esse título e como se prepararam, em termos de letras e música?

Os títulos de “Apex” e “Abyss” foram ambos decididos em 2016, quando escrevi a história dos álbuns. “Apex” foi o nome escolhido para a fortaleza na montanha, na qual a nossa personagem principal vive, e “Abyss” foi o nome a para a enorme expansão do espaço, que é o nosso universo. A história foi escrita primeiro, depois dividi-a em 10 capítulos para cada álbum, e os rapazes usaram essa “música-por-música” para escrever os riffs. Depois, nós arranjamos tudo juntos, e o Scott escreveu as partes dele na bateria. Depois de tudo estar pronto, escrevi as melodias vocais e as letras. As letras foram a última coisa a ser escrita para os dois álbuns, e não lutei muito com elas, porque sabia exatamente o que tinha de ser dito. Era apenas importante dizê-lo da forma mais clara e eloquente possível.


M.I. - Esta é a continuação de “Apex” e o herói, The Immortal, acordou sozinho no espaço sem nenhum rasto. O silêncio massacrante cerca-o completamente, lançando-o numa jornada de introspeção e autodescoberta. Que missões vai realizar, enquanto se descobre? Podes contar-nos mais sobre isso?

Introspeção é extremamente importante; se não tens força para olhar dentro de ti próprio e enfrentar os teus pontos fortes e fracos, passarás a vida cego para as tuas próprias falhas e nunca encontrarás o que realmente te faz feliz. Immortal estava constantemente a culpar os seus antigos mestres pelo destino que lhe estava reservado, quando devia estar a olhar para a própria complacência na situação. Depois de fazer isso, ele finalmente teve o poder de traçar o seu próprio caminho e encontrou confiança para lutar contra as expectativas dos outros.


M.I. - Este é um álbum com 10 músicas. Porquê estas músicas? Foi difícil escolhê-las?

Não somos o tipo de banda que escreve um monte de músicas e escolhe quais vão para o álbum; “Apex” e “Abyss” foram escritos com a história em mente e cada música teve um papel muito importante a desempenhar. Os riffs foram inspirados no tom emocional e na progressão narrativa da história. Era imperativo que cada música refletisse exatamente o que estava a acontecer na história, caso contrário, elas estariam desconectadas uma da outra. Eu queria que o ouvinte pudesse sentir o que estava a acontecer tanto quanto podiam ler as letras para entender.


M.I. - “Abyss” desenrola-se noutro mundo e dimensão, especialmente científico… Eu sei que é o teu género preferido. Este livro foi baseado nalgum livro que leste? Filme? Qual é o autor de que mais gostas?

A história é realmente apenas uma amálgama de cada livro que já li, acho eu, haha. Adoro ficção científica e fantasia, e tentei encontrar uma maneira que ambas pudessem ser retratadas sem se tornar muito complicado. Na maior parte, a história nasceu das duas personagens principais e de como elas interagiriam entre elas, sendo que ambas são seres extremamente poderosos. Tive que determinar as suas limitações e excessos e usá-las para criar motivações e obstáculos.
O meu autor de ficção científica favorito é provavelmente Alastair Reynolds, que é um astrofísico. As suas histórias são muito bem escritas e refletem o domínio do possível. O meu autor de fantasia favorito é mais difícil, hahaha, mas acho que seria Joe Abercrombie.


M.I. - Enquanto que “Apex” tem um sentido mais híbrido entre Heavy, Power e Death Metal, com “Abyss” vocês deram um passo gigante e este álbum é espetacular. Existiram barreiras e limites? Quais foram?

Obrigada. Demos a nós próprios mais tempo para escrever “Abyss”, e acho que é por isso que é um pouco mais experimental. Na verdade, fizemos o oposto e impusemos a nós próprios zero barreiras e zero limites. Queríamos encontrar uma maneira de incorporar muito géneros diferentes no álbum e ainda assim ter um som coeso. Foi aí que o tempo entrou em jogo. Nós trabalhávamos num riff durante semanas se fosse necessário para que se encaixasse corretamente no quadro geral. Sempre tínhamos todas as outras músicas em mente ao trabalhar nalguma coisa, certificando-nos de que fazia sentido com a que veio antes e com a que viria depois. Foi o mesmo com os riffs; se não tivesse um propósito, era deitado fora. Analisamos absolutamente cada segundo deste álbum, certificando-nos de que tudo estava exatamente onde precisava de estar. Não há erro aqui!


M.I. - Quais músicas foram um desafio, em termos de riffs, melodia e letras? E qual foi a mais fácil?

“The Wind That Shapes The Land” foi a última música que escrevemos e acho que foi a mais desafiadora para todos nós. Queríamos que fosse épica, uma odisseia, para contar a sua própria história dentro da história, e tinha muito terreno emocional. As coisas mudaram um pouco a esse respeito, e nós lutamos para saber quais os riffs que estavam certos e quais eram desnecessários. Quando chegou a hora de escrever a letra, eu dividi-a em secções: a introdução, a batalha e a recuperação. Foi superimportante contar a história de uma forma clara e concisa para que o ouvinte pudesse saber o que estava a acontecer, senão seria aborrecido, acho eu. Usei o máximo de movimento vocal possível e usei todos os aspetos da minha voz para contar a história, tanto com melodia, quanto com palavras. Esforcei-me para expressar algumas coisas sem ser muito literal, mas descobri eventualmente, acho eu… Na verdade, acabou por ser uma das favoritas da banda, e definitivamente valeu a pena gastar o nosso tempo e dar-lhe a atenção que demos.
A mais fácil, eu acho, foi “Through Stars”. A música começou com aquele riff de introdução, e tudo o resto saiu depois disso. A música flui também, e originalmente tínhamos terminado no refrão novamente, mas eu pensei que o solo de guitarra era um espaço melhor para deixar o ouvinte antes de entrar no Legacy. Depois que descobrimos como combinar os dois, ficou perfeito. A letra também apareceu facilmente, todo o ambiente da música projeta-se em ti e não podes deixar de entender o momento.


M.I. - Este álbum foi, mais uma vez, gravado com o lendário produtor Jacob Hansen dos Hansen Studios na Dinamarca. Como foi a viagem do Canadá para a Europa? Ele foi rigoroso com o som? De que outras maneiras é que vos ajudou?

A viagem correu bem, tranquila. Estamos a ficar bons em viagens. Então, era apenas uma questão de superar o jetlag quando chegássemos.  Trabalhamos muito bem com o Jacob; ele é um tipo muito tranquilo que não interfere se não sentir necessidade. Sempre viemos preparados com cada música escrita e as nossas partes memorizadas, e é apenas uma questão de dar o melhor que pudermos. Ele adorava a música que escrevíamos, fez poucas mudanças e, se lhe pedíssemos a opinião sobre algo, ele retornava-a, dizendo que realmente é a nossa opinião que importa. Ele ajudou bastante com as harmonias em “Abyss”, que adorei. Eu vinha com um conjunto preparado e ele pressionava-me para escrever mais um, um mais alto, outro mais baixo; foi muito divertido. Adoramos trabalhar com o Jacob e esperamos continuar a fazê-lo!


M.I. - O primeiro vídeo é a música com o mesmo nome. Eu sei que simboliza cinco anos de trabalho árduo para vocês e tem uma vibe de mistério. Quem ajudou com os efeitos? Existe algum símbolo em relação ao herói? O que representam?

O vídeo gira à volta da banda, sendo sugada para um portal, que é representativo do “Abyss” e, portanto, representa o álbum. Basicamente eramos nós a dizer “ok, vamos lá, siga-nos para o abismo se tiver coragem!”. Convidar o ouvinte a juntar-se a nós na aventura que é o álbum. O nosso diretor Rod Scobie fez a maior parte do trabalho, mas ele tem algumas empresas VFX com as quais trabalha, e elas ajudaram também. Foi um prazo muito apertado, devido ao Coronavírus; o estúdio que precisávamos para filmar só abriu duas semanas antes do vídeo sair, por isso foi um longo dia de filmagem e muitos dias de pós-produção depois disso, mas deu tudo certo. Imagina se tivéssemos meses para fazer o VFX.


M.I. - “Soulbound” reintroduz os quatro filhos da Matriarca. Quem são eles? Quem é essa personagem? Conta-nos mais sobre isso, por favor.

Em “Apex”, The Immortal tem a tarefa de trazer os filhos da Matriarca de volta, para que ela possa matá-los num ritual para alcançar a imortalidade. The Immortal faz isso, é claro, e quatro das músicas do álbum representam os filhos um por um.
O primeiro é um político, um negociante de rodas que manipula as pessoas para que lhe deem o que quer – este é o primeiro filho que encontramos em “Soulbound”. O segundo filho é um pouco cultista e é aquele que faz lavagem cerebral nas pessoas para que trabalhem para a Matriarca e para ele também, este é o encapuzado. O terceiro filho é um soldado, o músculo, e antes do Immortal aparecer no Apex, este era o filho que comandava os exércitos da Matriarca. No final de “Apex”, os filhos são “ligados pela alma” à Matriarca, não mortos, mas não vivos, forçados a cumprir as suas ordens numa espécie de estado morto-vivo. Há um quarto filho, mas ele é poupado desse destino porque, sem o conhecimento da Matriarca, ele tem um filho e, portanto, não pode ser amarrado.


M.I. - Roderick Scobie dirigiu “Faster ThanLight”, ao lado do Frame Lab Studios. Ele até mencionou que “The Long Walk”, um dos romances mais antigos de Stephen King, foi a inspiração para o vídeo. Conta-nos mais sobre o romance.

Eu nunca o li; foi o Rod que teve a ideia de todos nós sermos mortos. Originalmente íamos apenas correr um contra o outro porque, bem, tínhamos que ver qual de nós era mais rápido do que a luz, é claro ;) Mas o Rod decidiu apimentar um pouco, e todos nós pensamos que era uma ótima ideia. Acho que a essência do livro é que, num mundo pós--apocalíptico, essas crianças são forçadas a uma espécie de "longa caminhada" ao estilo de "Hunger Games" e, se desacelerarem ou pararem, morrem.


M.I. - Vocês fizeram uma cover de “Zombie”, dos The Cranberries. Porque é que escolheste esta música em particular? Irão fazer outra cover? Quais são as bandas ou cantores que gostariam de fazer uma cover?

Quando soube como o George Floyd foi morto, foi a música que me veio à cabeça – outra criança foi levada, outra família foi destruída por violência desnecessária, e era eu a mostrar o meu apoio ao movimento que atualmente está a acontecer nos Estados Unidos. É extremamente controverso, mas uma coisa que não pode ser debatida é que o racismo é errado. É nojento. Pensar que és melhor do que outra pessoa só pela cor da tua pele. Todos nós temos de nos levantar e impedir que isso aconteça. Temos de avisar quando o virmos. O racismo precisa de acabar, e isso só vai acontecer quando TODOS dissermos algo.


M.I. - Este ano vocês deveriam vir a Portugal para tocar no Vagos Metal Fest, mas, infelizmente, não aconteceu. Virão no próximo ano? O que esperam de Portugal, da multidão e do festival?

Fomos reagendados para 2021, sim! Estamos tão animados. Ouvimos de muitas pessoas que Portugal é lindo, por isso mal podemos esperar para fazer alguns passeios turísticos. Acho que o público será incrível, estamos ansiosos para ter muita energia e muita cantoria junta! Esperançosamente, será possível prosseguir e não ser adiado devido ao coronavírus novamente. Não queremos colocar ninguém em perigo, mas realmente esperamos tocar ao vivo novamente em breve.


M.I. - Existe um plano de tournée para 2021? Que países visitarão?

Sim, mas está muito no ar por causa do vírus - nada é certo. Temos planos de fazer uma tournée pela Europa, América do Norte, América do Sul e Austrália, mas isso só pode acontecer se for seguro. Estamos a planear o melhor, mas preparamo-nos para o pior.


M.I. - Muito obrigada pela entrevista. Alguma palavra final para os vossos fãs e leitores portugueses?

Muito obrigada por ouvirem o novo álbum e obrigada pelo vosso apoio contínuo! Adoramos-vos e esperamos finalmente vê-los pessoalmente em 2021. 

For English version, click here

Entrevista por Raquel Miranda