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Omitir - "Ode" Review


Já se ouviu muita coisa no black metal, mas parte de um discurso de Jerónimo de Sousa, será algo a todos os níveis inédito. Se não acreditam, convido-vos a escutar Ode, o novo disco de Omitir, um dos vários projetos do tirsense Joel Fausto, aqui denominado de Gróvio. Responsável pelas vozes, bem como toda a instrumentação, o músico assina com Ode o seu quarto longa-duração de Omitir, que surge após um hiato de 9 anos desde o lançamento de Cotard em 2011, num projeto que a brincar a brincar, leva já com 13 anos de existência.

Mas que não se pense que o discurso do supracitado “camarada” é o único ponto de interesse em Ode, muito pelo contrário. O que temos aqui é, com efeito, um black metal bastante melódico e com uma clara inclinação folk lusitana. Desde as letras em português, passando por algumas sonoridades que nos trazem à mente a tradição e a cultura mais popular, Ode é uma celebração não só da portugalidade, como também da luta de classes, baseada no sofrimento do povo trabalhador e oprimido.

Não sendo um trabalho descaradamente agressivo, acaba por ser nas melodias e intensidade que residem os grandes atributos sonoros de Omitir, sendo que por vezes conseguem ser mesmo algo “catchy”, como são os exemplos de Naiba e Flora, com as tais sonoridades mais tradicionais a sobressaírem. A atmosfera relaxante do instrumental “Cear”, acaba por ser também um ponto de paragem obrigatória, a funcionar como se de uma calma antes da tempestade se tratasse.

Quase sempre a meio tempo, Ode é essencialmente um trabalho de riffs que têm tanto de pegajosos como de hipnóticos. Se é verdade que durante esta audição nos vêm à cabeça alguns nomes como Negura Bunget, Drudkh ou até mesmo os trabalhos mais melódicos de Panopticon, Omitir tem personalidade mais do que suficiente para singrar por si.

Em suma, Omitir é efectivamente um disco notável e mais um excelente apontamento da boa música que se tem vindo a fazer a nível nacional neste espectro. Mesmo que politicamente não se identifiquem com o conteúdo lírico, poderão sempre encarar o mesmo como uma forma de humanismo e apreciar a música que, no final das contas, é o que realmente interessa.

Nota: 8.5/10

Review por António Salazar Antunes