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Enslaved - “Utgard” Review

É sempre a mesma coisa, cada vez que sai um novo álbum de Enslaved, lá temos nós que procurar no dicionário novos adjetivos para caracterizar a qualidade da música do coletivo norueguês. É simplesmente incrível como após 15 lançamentos de longa duração, os Enslaved continuam sem saber o que é sequer a mediania e este "Utgard", em nada vem alterar isso.

"Utgard" soa a Enslaved por todos os lados, mas não é de todo uma continuação de "E" de 2017. Sente-se algo de novo nestes Enslaved de início de década. Talvez menos complexos, mas, no entanto, mais ambiciosos na exploração de novas sonoridades. Algo que se reflete, por exemplo, na única mudança de lineup do coletivo, com a saída de Cato Bekkevold e entrada de Iver Sandøy. O novo músico para além de manter a bitola de qualidade ao nível da percussão, traz também um novo e excelente registo vocal mais “bluesy”, que torna, por exemplo, um tema como Homebound num clássico instantâneo. Ou seja, neste momento os Enslaved têm em seu poder um arsenal vocal de impor respeito a uns Mastodon ou Borknagar, com o registo de Sandøy a juntar-se às vocalizações limpas de Håkon Vinje e ao inevitável Grutle Kjellson, nas vozes mais ásperas.

Ao longo de "Utgard" os Enslaved pegam nas poucas influências de black metal que ainda têm na sua música e misturam-nas com uma base de rock progressivo dos anos 80, muito graças às ambiências criadas pelos teclados de Håkon Vinje. Mas não se pense que a influência do músico fez com que os Enslaved tenham tirado de vez o pé do acelerador.

Desde logo "Fires in the Dark", a abrir o álbum, acaba por ser uma espécie de “preparação para a guerra”, através de uma inteligente mistura entre ritmos compassados e ambiências mais etéreas e melódicas. No fundo a criar bastante tensão para a descarga avassaladora que é “Jettegryta”, como se da própria guerra se tratasse. A intensidade é quase palpável e os riffs do senhor Ivar Bjørnson continuam frescos e incisivos, como se este fosse o primeiro álbum da sua carreira, mas com a maturidade de 20 e tal anos de experiência nestas andanças.

A questão é que há muito para ouvir e conhecer em "Utgard". Por exemplo Urjotun dá-nos uma batida muito kraut rock, que vá se lá saber como, funciona quando conjugada com os riffs das guitarras e os vocais extremos de Kjellson. Algo que mostra o quão confortável está a banda, hoje em dia, em experimentar tudo aquilo que quer e lhe apetece.

Num álbum em que, curiosamente, nenhum dos temas ultrapassa sequer a barreira dos 6:39, os Enslaved usam e abusam de elementos estranhos ao viking metal, criando uma obra sublime e puxando cada vez mais os limites da atenção e paciência do ouvinte. Hipnótico, etéreo, avassalador por vezes, mas sempre intenso, "Utgard" é sem dúvida um dos grandes álbuns de 2020.  

Nota: 9/10

Review por António Salazar Antunes