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Entrevista aos Einherjer

Considerados uns dos pioneiros do Viking Metal, os Einherjer lançaram recentemente o seu mais recente álbum – “North Star”. A banda norueguesa, que conta com oito discos de longa-duração, gravou este último já em tempos de pandemia e Gerhard Storesund, baterista e membro fundador, revelou-nos que isso se tornou uma vantagem. Falámos ainda sobre Viking Metal, tocar na Ásia, e o percurso da banda, que soma já 28 anos de carreira.

M.I. - Como tens passado estes tempos estranhos? Achas que isto influenciou o vosso processo criativo?

Bem, pessoalmente, estes tempos não têm sido muito estranhos, para ser sincero (risos). Tenho trabalhado normalmente e, por isso, nada mudou nesse sentido. E os noruegueses são uma espécie de animais antissociais de qualquer maneira, nós não nos visitamos muito, não “deitamos abaixo” as portas uns dos outros. (risos) Então, pessoalmente tem sido quase igual, exceto por todos os pubs que estão fechados e essas coisas. Mas, para a música, obviamente teve um impacto, já que não podemos viajar para lugar nenhum, tudo o que tínhamos planeado foi cancelado. Tínhamos muitas coisas marcadas em 2020 como tours, festivais, a tour norueguesa... não foi tudo cancelado, foi adiado para este ano mas, como sabes, acho que este não vai ser muito diferente... pelo menos no verão, eu acho. Mas, no que toca ao processo de gravação, não sei se devo dizer isto, mas a pandemia foi muito boa para nós. Deu-nos muito mais tempo para terminar o álbum, muito mais paz, menos distrações. Não tínhamos nenhum concerto com que nos preocupar, e todas essas coisas. O álbum deveria ser lançado em outubro de 2020, mas, por causa da pandemia, foi adiado para amanhã, ou seja, fevereiro deste ano. Então, nós tivemos muito mais tempo para aperfeiçoá-lo.


M.I. – Achas que vossa abordagem a este álbum foi diferente das anteriores?

Acho que a abordagem foi exatamente a mesma, na verdade. Temos a mesma receita, e a mesma estrutura... porque, se achamos que encontrámos uma boa receita, para quê mudá-la? O objetivo é, dentro desse método, fazer boas músicas. E isso muda de tempos para tempos, as nossas mentes vão-se se atualizando e refrescando, e vamos aprendendo coisas novas pelo caminho, o que funciona e o que não funciona. Acho que avançamos dentro da nossa própria prisão (risos). Estou a brincar, a sério, somos livres para fazer o que quisermos. Nenhuma ideia é má, para ser honesto. Podemos fazer qualquer coisa, basicamente. Mas sim, temos algum tipo de estrutura que sentimos que funciona agora e acho que talvez no próximo álbum também continuemos por esse caminho. Queremos apenas fazer músicas melhores.


M.I. – Os Einherjer são uma banda cuja base conceptual é muito forte – a herança nórdica. De que forma é que este tema vos continua a inspirar depois de quase 30 anos de banda?

Bem, não sei. Para mim, simplesmente sair pela manhã já me inspira, a sério. Eu acho que não é necessariamente o material Viking que me inspira. Nós temos muitas letras e coisas sobre Vikings e mitologia nórdica, mas, no geral, eu acho que, para mim, é mais o lugar em que eu vivo que é inspirador. É este meu ambiente, a costa rochosa e tudo isso que desperta realmente a minha criatividade.


M.I. – Isso é ótimo, porque está sempre lá ...

Está sempre lá! E acho que está disponível para todos, não importa onde vivam, desde que sintam algum tipo de conexão. Eu sinto mesmo. Então, sim, acho que essas coisas Viking, ainda trabalhamos em torno dessa estrutura, mas creio que estamos a permitir-nos, cada vez mais, escrever sobre outras coisas também. Acho que desde o “Nørron” que isso foi acontecendo.


M.I. – Bem, “North Star” parece dar um passo em frente na sonoridade dos Einherjer, mantendo a identidade da banda e adicionando alguns novos elementos que a distinguem. Para ti, o que faz a diferença entre este disco e os anteriores?

Eu acho que, como muitas pessoas sabem, somos fortemente baseados, ou influenciados, pelo Heavy Metal Clássico. O material antigo dos Accept, Iron Maiden, Rainbow, são, basicamente, a base de tudo o que fazemos... E Rock and Roll também, como Nazareth e coisas assim, basicamente merd*s old school. E eu acho que, neste álbum, não sei o que é, mas há, de facto, algo que brilha mais do que nos anteriores. Talvez seja porque os discos anteriores eram mais meditativos do que este, e este tem uma aura Heavy Metal mais presente.


M.I. – Referes-te a ser mais pesado, ou não dessa forma?

Mais pesado, sim! Ou mais Heavy Metal, pelo menos.


M.I.- Desde 2011, depois de reativarem a banda, vocês têm sido muito consistentes na produção de álbuns, este é o quinto em dez anos. Como conseguem manter a chama viva para serem tão consistentes?

Como disseste, fizemos uma pausa. Na verdade, foi em 2008, quando começámos de novo.


M.I. - Desculpa, referia-me ao lançamento do álbum.

Sim, exato! Nós demos o nosso primeiro concerto em 2009, acho eu. Mas em 2008 começámos de novo, fizemos uma espécie de lavagem cerebral nesse tempo, limpámos o que havia de antigo e tocámos Thrash Metal durante dois ou três anos. Começámos do zero e, como disse, acho que encontrámos o caminho certo, e sinto que estamos muito bem. Portanto, isso dá-me inspiração para continuar. E, pelo menos quando sentimos que estamos a receber bom feedback... porque o feedback é importante para nós, quando recebemos boas opiniões sobre os álbuns e assim, faz-nos querer continuar. É ótimo ser capaz de ser criativo e apenas lançar álbuns. Nós, de certa forma, criamos a nossa própria música favorita, é isso que fazemos. Não ouvimos o que as pessoas dizem, não há ninguém que nos diga o que fazer, fechamo-nos de todo o mundo. Apenas ouvimos o que sentimos, e acho que estamos no bom caminho agora.


M.I. - Ao longo da vossa carreira, sempre escreveram em inglês e norueguês. Como decidem em que língua escrever, visto que o vosso tema principal são as vossas raízes culturais? Veem o inglês como uma forma de alcançar mais pessoas, ou há outros motivos para o usar, em vez do norueguês?

Bom, eu não acho que, se tivermos uma letra em inglês, isso nos faça alcançar mais pessoas, mas pelo menos as pessoas que alcançarmos vão entender-nos (risos). E isso, sim... acho que, pelo menos, é alguma coisa. Mas acho que é um bocado aleatório, sabes? A inspiração funciona de maneiras misteriosas. Às vezes tens vontade de escrever em inglês e é tudo ou nada, sabes? Ou só em norueguês, ou só em inglês, para colar o álbum. E desta vez pareceu-nos bem fazê-lo em inglês. Não sei, talvez tenha a ver com o facto de termos assinado com uma editora internacional, a Napalm (Records). Nos álbuns anteriores estávamos com uma editora norueguesa. Mas sim, pareceu certo escrever em inglês desta vez.


M.I. – Como vês a cena atual do Pagan ou Viking Metal? Achas que o tempo trouxe boas bandas, que mantenham este tipo de Metal vivo, ou temes que se torne “ultrapassado”?

Essa é uma pergunta difícil... até porque eu não quero pisar ninguém. Como disse, nós baseamo-nos no Heavy Metal, é aí que estão as nossas raízes, a nossa inspiração musical. E todos os tipos de influências Folk que temos são de fora do Metal, como música Folk e bandas neo-Folk, como por exemplo Skyclad, coisas assim... Quando começámos, o Pagan Metal não existia propriamente, não havia nenhuma banda. Então tivemos que confiar, ouvir Heavy Metal e ouvir música Folk.


M.I. - Então é a vossa maneira de ver, ou de tocar o Heavy Metal clássico, mas com as vossas raízes aí presentes...

Exato! Nós, de certa forma, usamos alguma inspiração, como dos Bathory e coisas assim. Quer dizer, é especificamente Bathory… Mas sim, é Heavy Metal Clássico, no qual nós polvilhamos música Folk por cima. Nos últimos anos, o meio do Folk Metal, Pagan Metal, entre muitos outros subgéneros, explodiu, até o Pirate Metal (risos). E eu, no geral, não me identifico muito com isso, sabes? As pessoas atiram-me novas bandas e eu fico tipo “ei, mas eu só quero ouvir Accept!” (risos) E o Dio, sabes? Então, não sei... Gosto dos Moonsorrow, por exemplo. Porque eles também mantêm o Metal como base. Tens Metal e Folk, e algumas pessoas gostam de Metal lá em cima, mas outras vão deslizando os faders, e de repente tens o Folk lá em cima e quase nenhum Metal. E isso não é, de facto, a minha praia. Mas, mais uma vez, muitas dessas bandas são grandes e isso também nos ajudou no caminho, para arranjar concertos e assim. Como a cena, como um todo, se tornou grande, isso ajudou-nos muito. Mas pronto, não tenho de ouvir todas as bandas. (risos)


M.I. - Em 2019, tocaram na China e no Japão. Como foi tocar música com raízes culturais tão fortes, numa zona do globo tão distante, com uma cultura tão diferente? O público asiático reage de maneira muito diferente do europeu?

Eu acho que eles são apenas mais. (risos) É tudo o que tu achas que é, pelo menos no Japão. Mas acho que foi uma ótima experiência para nós. Na China, eles só recentemente é que começaram a estar mais abertos para bandas que vêm de fora. Antes, não queriam que as pessoas se reunissem em grupos. E agora parece que estão um pouco mais livres para ter concertos de Metal e coisas assim, e isso é bom, embora tivéssemos que ter pessoas connosco o tempo todo, para onde quer que fôssemos. No Japão é um pouco diferente, porque mesmo não sendo nós uma grande banda - não somos os KISS (risos) - mesmo assim sentes-te uma superstar quando estás lá. (risos)


M.I. - E a experiência, no concerto, foi muito diferente? Ou quando estás em palco é a mesma coisa?

Sim, em palco é basicamente o mesmo, mas eles não nos queriam largar depois. (risos) Mas o que me surpreendeu... bem, não sei se deveria ficar surpreendido. Mas a qualidade dos locais e das pessoas que trabalharam lá... São pessoas muito boas, tanto na China como no Japão. O nível é extremamente elevado, sabes? Bom pessoal de som e tudo mais... eles são mesmo bons. Já vi coisas piores nos países ocidentais.


M.I. - Há algum país ou cidade cujo público te surpreendeu? Tanto pela positiva, como negativa ou apenas por ser diferente.

Não, atualmente não. Porque o Metal é diferente hoje em dia, sabes? O Metal extremo é completamente diferente hoje do que costumava ser nos anos 90. Agora as pessoas estão mais livres. Não é aquela coisa elitista... no início dos anos 90 eu lembro-me, pelo menos na Noruega, que todas as pessoas que estavam no teu concerto também tocavam numa banda. E eles ficavam só lá (cara séria). Era completamente diferente... Já não é assim aqui, e acho que no geral também.


M.I. Tornou-se um pouco mais padronizado...

Sim, acho que sim. Acho que as pessoas, no geral, estão mais relaxadas agora do que antes. Em vez de olharem para a banda como uma espécie de competição, agora são fãs. Então as coisas, pelo menos nesse sentido, ficaram melhores, acho eu.


M.I. – Achas que os festivais pagãos, como o Midgardsblot ou Kilkim Zaibu criam um contexto melhor para os vossos concertos, ou o contexto depende apenas de vocês e do público, independentemente da localização?

Eu acho esse tipo de festivas, Viking ou Pagão, algo ótimo! Tocámos no Kilkim Zaibu, que foi fantástico, e também tocámos no Midgardsblot algumas vezes... e sim, atrai o público certo. Nós já tocámos em muitos sítios diferentes: fizemos o Midgardsblot, também fizemos o Maryland Deathfest. E, sabes, acho que estávamos um pouco fora, num festival como aquele. Tinhas Dying Fetus, Cannibal Corpse... explodiam-te os ouvidos. (risos) Mas foi um grande festival para nós, surpreendentemente bom! Porque demos uma pausa ao público, sabes? As pessoas estavam cansadas de Death Metal e precisavam de algo diferente, então também recebemos ótimo feedback desse festival. Por isso, eu não acho que deva dizer que o Midgardsblot é necessariamente o melhor lugar para nós, acho que qualquer lugar pode ser bom, mesmo.


M.I. - Como foi lançar um álbum no contexto da pandemia em que (ainda) vivemos? O que mudou no lançamento ou promoção?

Bem, na realidade, não mudou nada. Porque gravamos aqui, localmente. O estúdio fica a 10 minutos da minha casa, e posso voltar do trabalho e ir gravar uma música, se quiser. É fantástico! Como o nosso vocalista, o Frode, é o dono do estúdio, desde que ele tenha tempo, podemos ir e vir quando quisermos. Tardes, fins de semana... Podemos estar mais à vontade com o processo, em vez de, como costumávamos fazer, viajar para a Suécia ou outro sítio, durante três semanas ou assim. Tínhamos de tentar fazer o nosso melhor à pressa, e depois erámos postos à andar, ficando com a ideia de que as coisas podiam ter sido melhores. Mas agora temos tempo para aperfeiçoar tudo. Não lançamos antes de estar perfeito, de estarmos completamente felizes com tudo. Então, sim... acho que foi ótimo. Com a pandemia, como disse, nós até ganhámos alguns meses extra.


M.I. - Então musicalmente foi bom para vocês.

Na realidade, sim! Não é que eu queira que esta merda dure mais, mas pelo menos foi bom para o processo de gravação. (risos)


M.I. - Quais são os vossos objetivos a curto ou longo prazo? Têm algumas etapas definidas para a banda?

Não. Na verdade, o objetivo agora é que o mundo deixe de estar f*dido, basicamente. (risos) Para podermos viajar de novo, porque é isso que todos queremos fazer agora. Que as coisas voltem ao normal, possamos vadear na lama da Alemanha com uma cerveja, com milhares de pessoas. É isso que todos queremos fazer, não é? Estamos cansados de estar sentados em casa a ver vídeos em streaming. Não é a mesma coisa, está longe de ser a mesma. As pessoas precisam de companhia, as pessoas precisam de conhecer outras pessoas. E a energia que tens num concerto real, com banda e público, nunca pode ser reproduzida no ecrã. Bem, quer dizer, às vezes, quando estou em dias com cara de m*rda, e vejo Judas Priest, tenho a mesma sensação. (risos) Mas é raro... Por isso, acho que as pessoas precisam de sair.


M.I. - Muito obrigado pelo teu tempo! Para finalizar, peço-te que partilhes uma mensagem final com os leitores da Metal Imperium.

Obrigado! Eu não sei o quão grandes nós somos aí, e provavelmente muitas das pessoas que leem isto não conhecem a banda, mas eu encorajo todos a comprarem material físico das bandas. Muitas pessoas estão a lutar pelos negócios, bandas e tudo mais. Então as pessoas não podem simplesmente justificar-se com o facto de pagarem 10 euros pelo Spotify. Precisam de comprar o seu “material de dança”. Se eles querem que as bandas sobrevivam, sabes? Vinis, t-shirts e sei lá... Não falo especificamente de nós, porque a gente trabalha, mas há muitas bandas a sofrer a sério, que só têm a banda e precisam de comer. Eu percebi que muitos fãs estão a sofrer também, mas... Se puderes, tenta apoiar as bandas.

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Entrevista por Francisco Gomes